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Venda de veículos pode ter 1ª queda em dez anos, e 2014 será turbulento

Luiz Moan, presidente da Anfavea, ainda vê 2014 com certo otimismo - Alf Ribeiro
Luiz Moan, presidente da Anfavea, ainda vê 2014 com certo otimismo Imagem: Alf Ribeiro

Alberto Alerigi Jr.

Em São Paulo (SP)

05/12/2013 17h32

A indústria de veículos do Brasil pode fechar 2013 com queda de vendas pela primeira vez em dez anos, e se prepara para um 2014 com alta de custos, redução de estímulos do governo, bancos pouco interessados em ampliar crédito e concorrência maior entre montadoras no país.

O setor, que reduziu em setembro as expectativas de vendas em 2013 para crescimento de até 2%, tem no acumulado até novembro queda de 0,8% nos licenciamentos e torce para que um possível pico de vendas em dezembro ajude a evitar um ano negativo. A Anfavea (associação das fabricantes) esperava anteriormente crescimento de até 4,5% nas vendas este ano, o que marcaria o sétimo recorde anual consecutivo.

"O crédito continua muito difícil, bastante seletivo em veículos leves, apesar da inadimplência estar caindo", afirmou Luiz Moan, presidente da Anfavea, nesta quinta-feira (5). "Acredito que pode haver um 'empate técnico' (com as vendas de 2012). Empate num volume extremamente favorável, que nos mantém como quarto maior mercado do mundo", acrescentou.

Diante das vendas abaixo do esperado, a produção segue desacelerando desde agosto, e grande parte das montadoras deve conceder férias coletivas a partir do dia 20 de dezembro. O movimento contraria o ocorrido em 2012, quando o setor estava aquecido pela correria de consumidores que buscavam aproveitar desconto maior do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), elevado em parte no início deste ano.

Até novembro, a produção acumula alta de 11,8%, praticamente em linha com a expectativa da Anfavea de alta de 11,9%. Parte do crescimento ocorreu por substituição de importações e maiores exportações, após medidas do governo para incentivar a produção nacional e desvalorização do real.

OTIMISMO MODERADO
Segundo Moan, o mercado em 2014 será "bom, mas não excelente".

"Por ser ano de Copa do Mundo, haverá alguns estímulos naturais à aquisição de veículos, como ônibus urbanos e caminhões, para melhorias de transporte urbano, além de taxis e carros por locadoras", disse ele.

Já os estímulos artificiais devem ser reduzidos. A Anfavea reafirmou que o governo garantiu que elevará a alíquota do IPI no começo do próximo ano, e prevê que o BNDES aumentará os juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que facilita a compra de bens de capital como caminhões. Além disso, passará a ser obrigatória a inclusão de freios ABS e airbags em 100% dos veículos produzidos (em 2013 foram 60%). Deve pesar ainda a alta os preços do aço vendido pelas siderúrgicas nacionais.

A competição por mercado também deve crescer com a abertura de novas fábricas de montadoras como Nissan e Chery em 2014.

Porém, Moan evitou confirmar projeção informada por ele em outubro de crescimento de 5% na produção no próximo ano, preferindo deixar as previsões da Anfavea para janeiro.

Por ora, a expectativa do setor é de alta nas vendas de dezembro sobre novembro e redução na produção, diante de um volume de estoque de 417 mil veículos. Parte dessas vendas foram feitas em feirões promovidos pelas montadoras nos últimos dias de novembro e que não tiveram tempo de serem incorporadas nos números oficiais de licenciamentos do mês passado.