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Empresas ligadas a veículos ainda brilham, mas economia preocupa

Roberta Vilas Boas<br>Aluísio Alves<br>Alberto Alerigi Jr.

Em São Paulo (SP)

27/08/2013 06h57

Empresas ligadas ao setor automotivo brasileiro, incluindo concessionárias de rodovias e seguradoras, passaram quase ilesas pela fraca atividade econômica do país na primeira metade de 2013, mas a proximidade do fim dos incentivos estatais que acompanham o setor desde 2009 traz interrogações sobre a manutenção do vigor do segmento.

De carona no aumento de 4,8% nos licenciamentos de veículos leves e de 5,1% nas vendas de caminhões no semestre, as concessionárias de rodovias CCR e EcoRodovias tiveram um aumento de quase 10% da receita bruta com pedágio no primeiro semestre.

A fabricante de implementos rodoviários e autopeças Randon também foi beneficiada pelo aumento da frota de caminhões, registrando lucro líquido de R$ 108,6 milhões no período, quase oito vezes acima do ganho obtido um ano antes.

"Existe uma correlação que é alta entre licenciamentos de veículos e tráfego nas rodovias", afirmou Cláudia Oshiro, analista de logística na Tendências Consultoria.

Enquanto isso, de olho no crescimento de 26% na frota do país entre 2009 e 2012, para 37,3 milhões de veículos, companhias ligadas ao setor -- como as locadoras Unidas e Ouro Verde e a empresa de rastreamento Sascar -- mantêm de pé seus pedidos para listarem ações na Bovespa.

O movimento vai na direção oposta à adotada por empresas de outros setores, como a Votorantim Cimentos e a empresa aérea Azul, que suspenderam recentemente suas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), por conta da situação adversa dos mercados.

As seguradoras também se beneficiaram da expansão da frota de veículos. A Porto Seguro teve crescimento de 21,3% nos prêmios auferidos em seguros de automóveis no primeiro semestre, na comparação anual, para R$ 3,55 bilhões.

TRÁFEGO MAIS LENTO
Contudo, analistas avaliam que esses desempenhos podem não se sustentar nos próximos trimestres, com a saída de cena em dezembro dos incentivos fiscais para o setor e se persistir a queda na renda das famílias.

Em dezembro termina a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), concedida pelo governo em maio de 2012. Já o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) pode ser renovado, mas com menos incentivos. O programa tocado pelo BNDES tem como foco financiamento para compra de bens de capital novos, incluindo caminhões, e também tem fim previsto para dezembro.

"Ainda espera-se que o fluxo de pedágio aumente no ano que vem, mas houve piora nas expectativas", disse a analista da Tendências. Em julho, o rendimento real da população recuou pela quinta vez seguida, embora a taxa de desemprego no país tenha caído pela primeira vez no ano, para 5,6%.

"(Com isso), a trajetória deve ser de crescimento mais lento (no tráfego de rodovias)", disse o economista Juan Jensen também da Tendências, e que atua na elaboração do Índice ABCR de Atividade, da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Segundo ele, o tráfego de veículos leves deve sofrer o impacto da desaceleração na renda e no emprego.

O analista Renato Hallgren, do BB Investimentos, também vê um cenário mais difícil para a expansão do tráfego de veículos leves pelas estradas do país. "Com a saturação do emprego, a gente começa a ver estagnação", disse.

SEGURADORAS
Já as empresas de seguro de veículos não devem sentir redução no volume de seguros mesmo com o fim dos benefícios para venda de automóveis novos, mas os gastos com ressarcimentos podem aumentar.

"O efeito sobre a seguradora é mais sobre o preço. Se a pessoa comprou o carro a um preço, e comprou o seguro, e depois de seis meses tem uma perda total, se o preço subiu por imposto, automaticamente a seguradora tem que pagar um carro que está com um preço maior", disse o diretor da consultoria AT Kearney, David Wong.