Topo

Montadoras de veículos têm recorde de produção e vendas em janeiro

 Paulo Whitaker / Reuters
Imagem: Paulo Whitaker / Reuters

Alberto Alerigi Jr.

Em São Paulo (SP)

06/02/2013 13h05

Por Alberto Alerigi Jr.

SÃO PAULO, 6 Fev (Reuters) - As montadoras de veículos do Brasil encerraram janeiro com recordes de produção e vendas, e com expectativa de um bom desempenho nos próximos meses, em claro contraste em relação à crise vivida em 2012, que forçou o governo a lançar medidas para estimular o setor.

As vendas de janeiro superaram pela primeira vez o patamar de 300 mil unidades para o mês, enquanto a produção foi a maior já apurada para o período, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pela associação de montadoras, Anfavea.

"Começamos o ano bem, estamos bastante otimistas", disse a jornalistas o presidente da entidade, Cledorvino Belini, também presidente do grupo Fiat para a América Latina.

As vendas de janeiro, segundo Belini, foram apoiadas em uma estratégia de reposição de estoques que vieram reduzidos de dezembro e por consumidores interessados em aproveitar modelos produzidos ainda com desconto integral do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O tributo, reduzido no ano passado, passou a ser gradualmente elevado a partir de janeiro.

"O emblemático foi o recorde de produção (...) muitas montadoras resolveram não conceder férias coletivas em janeiro para reporem os estoques", acrescentou o executivo.

Em janeiro, as vendas somaram 311,5 mil veículos, alta de 16 por cento sobre o mesmo mês de 2012, enquanto a produção disparou 32 por cento, para 279,3 mil unidades.

Segundo Belini, fevereiro deve apresentar uma queda natural de vendas e produção por causa do feriado do Carnaval e do número menor de dias úteis, mas o resultado do mês deverá ser maior que o registrado em fevereiro de 2012. "Em março deverá haver uma recuperação", afirmou.

A entidade manteve a perspectiva divulgada em dezembro de que as vendas de veículos novos no Brasil em 2013 cresça entre 3,5 e 4,5 por cento, marcado o sétimo recorde anual consecutivo, para cerca de 3,9 milhões de unidades. A estimativa de produção também foi mantida em alta de 4,5 por cento, a 3,49 milhões de unidades.

A indústria encerrou janeiro com estoque de 298.029 veículos, equivalente a 29 dias de vendas, praticamente o mesmo nível visto em dezembro, de 295,2 mil unidades.

No ano passado, a indústria automotiva, que responde por cerca de 25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, sofreu com o aumento da inadimplência, que secou as linhas de crédito, levando o governo a lançar medidas de estímulo, como a redução do IPI.

CAMINHÕES

Mantendo sinalização de melhora vista no final de 2012, o segmento de veículos pesados se destacou em janeiro, com a produção saltando quase que quatro vezes sobre o mesmo mês do ano passado, para 12.705 unidades.

"O segmento tem toda a chance de deslanchar este ano. O primeiro trimestre ainda não vai ser superior ao do ano passado, mas a tendência para o ano é de crescimento", disse Belini, acrescentando que a carteira de pedidos de caminhões da indústria "está bem forte".

Em 2012, a produção de caminhões desabou 40,5 por cento, atingida por fraco crescimento da economia e alto nível de antecipação de compras em 2011, antes da mudança no regime de emissões de poluentes que obrigou a fabricação de veículos com motores mais limpos, e também mais caros. O segmento começou a dar sinais de melhora a partir do fim do ano, depois que o governo decidiu em setembro baixar juros para financiamento de compra de bens de capital.

O presidente da Anfavea manteve a perspectiva de que as vendas e produção de caminhões no país devem crescer entre 7 e 7,5 por cento em 2013, motivadas por perspectiva de expansão do Produto Interno Bruto do país entre 3 e 4 por cento.

Belini afirmou que ainda não está garantida uma eventual volta da depreciação acelerada de caminhões, mas que a Anfavea segue negociando com o governo. O mecanismo permitiu a redução da base de cálculo do Imposto de Renda de veículos comprados ou encomendados entre setembro e o final de 2012, num incentivo decidido junto com um amplo pacote que também reduziu juros de financiamentos para aquisição de bens de capital.

EXTERIOR

A indústria encerrou janeiro com queda de 6 por cento nas exportações, incluindo máquinas agrícolas, em relação ao mesmo período de 2012, para 1 bilhão de dólares. Mas considerando apenas o segmento de autoveículos, houve crescimento de 8,9 por cento, para 802,28 milhões de dólares. Em unidades, o segmento avançou 9,5 por cento.

Enquanto isso, as importações, pressionadas por aumento de impostos a partir de 2012, ficaram praticamente estáveis em janeiro, avançando 0,2 por cento, para 68 mil veículos.

Belini afirmou que ainda é difícil ter uma perspectiva sobre as negociações entre Brasil e Argentina sobre o livre comércio de veículos. "Esperamos que as relações melhorem, estão num ritmo de 'dois pra cá, dois pra lá', o que preocupa decisões de investimento de fornecedores na Argentina", disse ele.

As discussões acontecem em um momento em que o Brasil pretende retomar as negociações paralisadas de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, afirmou uma fonte à Reuters no final de janeiro. Os blocos começaram a negociar em 1995, mas um acordo nunca avançou devido a desentendimentos sobre a liberalização do comércio agrícola e de bens industriais

(Edição de Raquel Stenzel)