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Câmbio problemático persegue Ford após 7 anos e pode gerar multa milionária

Lançado em 2013 no Fiesta, câmbio PowerShift tem trocas rápidas, mas também apresentou falhas que renderam processos judiciais - Murilo Góes/UOL
Lançado em 2013 no Fiesta, câmbio PowerShift tem trocas rápidas, mas também apresentou falhas que renderam processos judiciais Imagem: Murilo Góes/UOL

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

15/12/2020 04h00Atualizada em 15/12/2020 09h41

Lançado no Brasil em 2013, inicialmente no Fiesta, o câmbio automatizado de dupla embreagem PowerShift continua a render reclamações e problemas para a Ford.

Descontinuado no País desde o ano passado, quando Fiesta e Focus saíram de linha, a transmissão se tornou alvo de abertura de processo administrativo pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor - órgão vinculado ao Ministério da Justiça.

A informação foi obtida com exclusividade por UOL Carros. De acordo com o departamento, a Ford tem dez dias para se manifestar após o recebimento da notificação e poderá ser multada em até R$ 10 milhões.

Procurada pela reportagem, a montadora afirma que prestará os esclarecimentos solicitados.

"A Ford ainda não foi oficialmente notificada sobre a instauração desse processo. Tão logo seja, prestará todos os esclarecimentos necessários no prazo concedido", diz nota enviada pela fabricante.

Ainda de acordo com o departamento do Ministério da Justiça, o questionamento foi motivado por reclamações de consumidores, os quais relatam problemas como " trepidações, ruídos e superaquecimento, bem como perda de potência. As falhas teriam causado troca prematura do kit de embreagens.

O defeito que motivou o processo compreende veículos Focus, Fiesta e EcoSport fabricados entre 2013 e 2014 e a falha "coloca em risco os consumidores", afirma o órgão.

A falha na transmissão nunca motivou a realização de um recall oficial pela Ford do Brasil, que no entanto efetuou reparos fora do prazo da garantia. Em 2016, a companhia ampliou a cobertura do componente de três para dez anos, após receber notificação do Procon-SP.

Os problemas com o câmbio não estão restritos ao Brasil: no início deste ano, a montadora fez acordo judicial nos Estados Unidos, comprometendo-se a pagar US$ 30 milhões (R$ 153,7 milhões no câmbio de ontem) mínimos de reembolso a proprietários de Fiesta e Focus defeituosos, fabricados de 2011 a 2016.

A empresa firmou compromisso para a recompra de veículos problemáticos, desconto na aquisição de carros novos da marca e compensação de reparos já efetuados.

O Procon-SP pediu novas explicações após a celebração do acordo nos EUA e perguntou se este se aplicaria também a veículos problemáticos comercializados no Brasil. Em fevereiro, o órgão paulista de defesa do consumidor publicou nota, segundo a qual a Ford alega que "o acordo envolve apenas um universo específico de proprietários norte-americanos e, portanto, não se aplica a veículos no Brasil".

Por que processo foi aberto só agora

Ford Fiesta Titanium 1.6 Powershift - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Além de Fiesta, Focus e EcoSport foram vendidos com o PowerShift, que já foi retirado de linha no Brasil
Imagem: Murilo Góes/UOL

O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor alega que abriu o processo contra a Ford apenas agora por se tratar de um caso "complexo".

O órgão diz que já tinha laudo produzido pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) em conjunto com a UnB (Universidade de Brasília) comprovando as falhas do PowerShift, porém foi necessário obter provas "adicionais" para "robustecer as acusações", após questionamentos da Ford.

Os novos dados anexados incluem laudos e autos de processos judiciais contra a fabricante relacionados ao caso, já concluídos ou ainda em andamento.

Além disso, o departamento diz ter acrescentado laudos realizados a partir da análise por amostragem em transmissões defeituosas, nos quais peritos "juramentados" fizeram afirmações "inequívocas que relacionam o defeito à perda de potência nos veículos que têm câmbio PowerShift".

"A Ford, embora reconheça que o câmbio tem problemas, nega que isso implique riscos à saúde e à segurança do consumidor, o que, a princípio, afastaria a necessidade de recall. Os laudos preenchem essa lacuna, uma vez que perda de potência normalmente é um evento que compromete a saúde e a segurança do consumidor", conclui o departamento.

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UOL Carros