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Corolla 1968 é tão raro que veio parar no Brasil e nem a Toyota sabia

Alessandro Reis

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

13/07/2017 04h00

Automóvel mais vendido no mundo, o Corolla tem uma história oficial relativamente recente no Brasil, iniciada entre 1992 e 1993, quando as primeiras unidades da sétima geração do sedã começaram a desembarcar no país, importadas do Japão.

Na época, a marca fabricava e vendia por aqui apenas o utilitário Bandeirante -- o sedã só ganhou produção local em 1999, já na oitava geração. Atualmente, está na 11ª.

Pois foi com um raro exemplar da primeira geração, importado de forma independente nos anos 1960, mantido cuidadosamente em condições originais e nunca batido, que a montadora está resolveu comemorar os 50 anos de lançamento do modelo, completados no ano passado -- o Corolla nasceu para o mundo em 1966.

De quem é?

Acredite: o carro, que apareceu na série de dez episódios recentemente veiculada pela fabricante nas redes sociais, na Sony e na TV aberta nem era do conhecimento da Toyota. O exemplar estava anunciado na internet e acabou dando ideia para a criação da ação publicitária.

Foi reformado e depois repassado ao acervo da montadora, que ao longo deste ano deverá usá-lo em ações de marketing e publicidade.

UOL Carros produziu com exclusividade imagens do "Corollinha 1968" e conversou com Wilson Teresczenko, o antigo (e orgulhoso) ono da unidade marrom que você vê nas imagens que ilustram o álbum no topo desta página.

Segundo Teresczenko, o carro foi importado em 1968 diretamente dos Estados Unidos por um ex-chefe de seu pai, já falecido, como presente para a mulher, que acabou não gostando do sedã por achá-lo pequeno demais. O carro ficou estacionado até 1971, quando seu pai resolveu comprá-lo do patrão, "quitado em várias prestações”.

"Minha mãe estava grávida de mim e meu pai quis dar esse presente a ela. Ele já cuidava da manutenção do carro e estava de olho nele. Na época, virou o xodó da família e era usado quase praticamente em fins de semana, pois meu pai tinha outro veículo para ir ao trabalho”, conta. Ele diz ter conhecimento da existência no Brasil apenas de mais três unidades parecidas do Corolla 1968, todas em Curitiba (PR).

Wilson Teresczenko, o antigo (e orgulhoso) ex-dono do Corolla 1968 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wilson Teresczenko, ex-dono da unidade marrom que você vê nas imagens: "Quase chorei, fiquei emocionado com a restauração. O carro está em boas mãos. Quem não gostaria de uma oportunidade como essa?"
Imagem: Arquivo pessoal

Tem mais três

"Existe uma amarela, que 'sumiu', outra branca, que deu PT (perda total), e outra vermelha, que atualmente está em uma concessionária da capital paranaense."

Teresczenko conta que o sedã estava estacionado há oito anos na garagem até ir para as mãos da Toyota e virar notícia. "Vendi por R$ 20 mil, menos do que valia, mas precisava do dinheiro para pagar contas e uma cirurgia. Também usei parte do dinheiro para trocar o carro do dia a dia: tinha um 1998 e comprei um 2002", relata.

Ele também faz questão de avisar que mantém um Chevrolet Chevette 1993 na garagem, igualmente cuidado com muito carinho.

O gerente de operações relata que a própria família cuidava da manutenção do Corolla, com peças importadas dos Estados Unidos por meio de dois tios e de um irmão que moram no país norte-americano. "Tudo era feito em casa, a mecânica é bem simples. Além disso, ele nunca deu pane ou parou na estrada. Só precisei trocar óleo, filtros e peças de desgaste natural durante os mais de 40 anos de convivência com ele", exalta.

Por fim, Teresczenko nos disse que o veículo quase cinquentão marcou momentos importantes de sua vida, pois foi tirando e colocando-o na garagem, a pedido do pai, que ele aprendeu a dirigir, bem antes de completar 18 anos. Desse convívio, restam histórias curiosas. "Quando tinha 16 anos fui chofer do casamento da minha irmã. Voltando da igreja e levando ela e o noivo para a festa, fomos parados em uma blitz: fiquei tremendo de medo, pois não era habilitado. Mas os policiais nos liberaram quando viram os noivos no banco de trás", lembra.

Restauração

Para ficar nos "trinques” e ser exibido na TV e em eventos, o "Corollinha" passou por reforma, na qual vidros, calotas, bancos e tapeçaria foram restaurados, bem como velocímetro, rádio, lanternas, faróis, retrovisores e painel de instrumentos. O modelo também teve a pintura recuperada e recebeu novos pneus para as pequeninas rodas de aço de 13 polegadas -- tudo em uma oficina especializada em restaurações.

A Toyota bancou a viagem de Wilson Teresczenko para São Paulo e mostrou a ele o resultado. "Quase chorei, fiquei emocionado. O carro está em boas mãos e agora te gente me procurando para falar sobre ele. Que pessoa no mundo não gostaria de uma oportunidade como essa?", diz, satisfeito com a reforma.

"O interior foi refeito com revestimento preto, no meu carro era bege. O interior preto era dos exemplares com pintura branca, mas em geral o trabalho ficou muito bom", conclui.