Topo

UOL Carros revela receita da Renault para lançar carro a R$ 29.990; assista

Leonardo Felix, André Deliberato, Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Buenos Aires (Argentina)

14/06/2017 19h02

Como é possível vender o Kwid a esse preço nos dias de hoje?

Um carro feito para custar menos que os rivais no segmento de entrada. UOL Carros viu o Renault Kwid de pertinho no Salão de Buenos Aires e se perguntou: como fazer para produzir, no cenário atual um carro com preço inferior a R$ 30 mil? Dólar, inflação, IPI, "custo Brasil", "lucro Brasil"... nada disso atrapalhou?

Esclarecemos a receita da conta feita pela Renault:

1. Compartilhamento de peças

Se o marketing da Renault afirma que 80% das peças são novas, na prática, muito do que vemos no Kwid já é conhecido de outros modelos da marca: ele herda muito de Sandero, Logan, Duster e Captur. E não falamos apenas de peças, mas de plásticos injetados e padrões de acabamento. Esse é um modo de tornar a produção de um novo modelo mais barata, garantindo custos de fornecimentos menores.

2. Simplificação de componentes

Rodas com três parafusos de fixação (não quatro, nem cinco), acabamento com plástico espartano, acessos aparentes, pinos nas portas... simplificações são a chave para que a conta do Kwid feche. Além disso, boa parte das soluções é bolada localmente, pelo centro de tecnologia local da marca, ainda que o projeto inicial seja indiano. De fato, o Kwid local é mais complexo que o asiático, até por questão de segurança, mas ele é mais simples que outros modelos da categoria.

Mesmo o apelo da segurança extra (daí os quatro airbags e a dupla de Isofix mesmo na versão de entrada) não é algo novo para a Renault, que já fazia isso com o Clio (com duplo airbag) no lançamento lá em 1999.

3. Motor "barateiro" 

Uma nova família que serve a todos os modelos. Volkswagen, Chevrolet e agora Renault já entenderam que plataforma única é a chave para fazer mais por menos. No caso da Renault, a linha SCe de motores equipa Sandero e Logan, além do novo Captur. Mas nos três modelos menores falamos especificamente do três-cilindros. No Kwid, aliás, ele é recalibrado para ser ainda mais eficiente, gerando menos potência e torque (já que o peso do carro também é menor), mas rodando com autonomia muito maior (a Renault promete 15 km/l de gasolina na cidade!), rendendo ainda aquela sensação de economia no fim do mês para o usuário.

4. Projeto global 

É para emergentes? Certeza! Mas ser feito sobre uma plataforma globalizada -- caso do Kwid, que é montado sobre a CMF-A -- é outro redutor de gastos, pois diversos itens e até mesmo materiais de fornecedores são os mesmos já utilizados em outros produtos, reduzindo o custo de produção.

5. Boa tática de vendas

Pré-venda com entrada de R$ 1.000, divididos em três vezes no cartão. Financiamento do restante do valor em banco próprio. Plano de revisão a preço fixo e conhecido de antemão (três anos de garantia, com manutenção "a menos de R$ 1 por dia durante os três anos").

Tudo isso ajuda a atrair o consumidor com orçamento mais apertado -- ou aquele mais racional -- e pode bombar as vendas. E quanto mais vender, maior participação a marca tem (que é exatamente o plano da Renault) e mais diluído fica o custo inicial de lançamento do carro.

Somando estes cinco itens, chegamos ao ponto: apesar de lançar um carro novo, "a Renault não está perdendo dinheiro com o Kwid", segundo o que UOL Carros ouviu de fontes ligadas à marca durante o salão.

Agora é torcer para que estes preços não mudem, afinal se a marca está lucrando, o ideal é que o consumidor também tem direito a fazer um negócio mais justo