Topo

Não é erro: preço do Ford Fiesta caiu R$ 4 mil; entenda o motivo

Maior reajuste (sim, reajuste para baixo também existe) é aplicado ao Fiesta Powershift, que agora chama-se "Automático" - Murilo Góes/UOL
Maior reajuste (sim, reajuste para baixo também existe) é aplicado ao Fiesta Powershift, que agora chama-se "Automático" Imagem: Murilo Góes/UOL

Leonardo Felix e Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/04/2017 12h45Atualizada em 30/05/2017 19h29

Objetivo é retomar espaço -- e credibilidade -- na reação do mercado

A Ford praticou nesta segunda semana de abril algo quase inacreditável de tão raro no Brasil: redução de preços. A fabricante anunciou nova tabela para o compacto "premium" New Fiesta, com etiquetas entre R$ 500 e R$ 3.900 mais baratas.

O reajuste mais vistoso foi aplicado à versão 1.6 SEL "AT" (guarde esta sigla): CAIU de R$ 67.090 para R$ 63.190

Também está com preço menor o Fiesta 1.6 Titanium "AT", que caiu R$ 1.200 para R$ 68.990. O Fiesta 1.0 EcoBoost Titanium Plus (turbo e automatizado), mais caro da gama, teve preço reduzido em meros R$ 500: custa agora R$ 73.990.

Para o Fiesta manual, o reajuste foi aplicado às versões SEL: queda de R$ 2.200, para R$ 58.590; e SEL Style, menos R$ 1.500 mais em conta, para R$ 59.790

Abaixo, as versões de entrada (mas que já entregam ar-condicionado e controles de tração, estabilidade e assistente de rampa) SE 1.6 e SE 1.6 Style partem de R$ 56.590.

Com preço menor, vendas do Ford Fiesta vão reagir?

Resultado parcial

Total de 4667 votos
34,28%
65,72%

Valide seu voto

Por que os preços caíram

Oficialmente a Ford afirma que tomou a medida para seguir as "tendências do mercado". "A proposta é repassar aos consumidores as variações de custos em decorrência dos novos rumos da economia e, especialmente, da cotação menor do dólar em relação ao real, que impacta componentes importados exigidos neste segmento", explicou a marca em comunicado.

Só que nenhuma outra fabricante está baixando seus preços, no máximo mantém a etiqueta dos últimos períodos, o que nos leva a outras leituras:

1. Precisa vender mais: a fabricante está tentando içar suas vendas e também do próprio Fiesta, que despencaram nos últimos três anos, período em que: o Fiesta Rocam (geração anterior, que servia de modelo de entrada) deixou de ser fabricado; o novo Ka surgiu e dividiu bola com o New Fiesta (quando deveria armar jogadas); o Ecosport perdeu sua coroa. 

Usando dados da Fenebrave, em 2014, o Fiesta (Rocam e New, em seu último ano de convivência) entregou 108.382 unidades, ficando no "Top 10". Paralelamente, Ecosport teve 54.263 emplacamentos (foi líder do segmento) e Ka, 43.835 carros.

Já em 2015, a inversão: o Ka passou a ser o modelo mais vendido da marca, com 90.187 unidades. Agora apenas com o New Fiesta, os emplacamentos do modelo caíram a 40.065; Ecosport entregou 33.861.

No último ano, foram 76.615 unidades do Ka, que conseguiu ao menos celebrar o pódio dos mais vendidos (atrás de Chevrolet Onix e Hyundai HB20); Ecosport entregou 28.105 unidades e Fiesta, 16.986. 

Considerando que 2016 foi todo atípico, com o auge da crise de vendas, este primeiro trimestre de 2017 coloca Ka com 20.864 unidades (como exercício hipotético, podemos projetar um ano com cerca de 83 mil unidades); Ecosport já entregou 5.612 unidades (pode-se projetar pouco mais de 22 mil carros, mas sem esquecer que o novo modelo chega em agosto); e o Fiesta anotou apenas 4.368 unidades (em nosso exercício, poderá ter menos de 18 mil carros se mantiver o pique atpe dezembro).

É pouco para o Fiesta, modelo tão importante para a marca -- o carro chefe em todo o mundo (é sempre o modelo a inaugurar as novas filosofias de design e equipamentos da marca). 

De quebra, melhorar o ritmo de vendas aumentaria as chances da Ford de recuperar o quarto lugar em participação por marcas, perdido para a Hyundai.

2. Precisa melhorar sua imagem: a Ford também precisa se recuperar do abalo provocado pelas críticas à configuração automatizada: reclamações de clientes sobre trepidações, ruídos e superaquecimento -- questão que chegou ao ponto de o Procon intimar a Ford a prestar esclarecimentos -- foram mais acentuadas com modelos equipados com motor 1.6, 100% caso do Fiesta, do que com motores 2.0 (que compõem a gama de Ecosport e Focus).

Mais que a redução de valor, UOL Carros destaca o novo sobrenome: a Ford passa a usar a sigla AT (de Automatic Transmission, inglês para transmissão automática) para renomear o conhecido câmbio Powershift, que é de fato automatizado (dupla embreagem). É o mesmo exercício de marketing já utilizado com o médio Focus, que também teve desgaste entre consumidores por conta de reclamações.

3. Precisa se precaver: também serve como espécie de escudo para uma próxima medida: a aposentadoria definitiva da caixa automatizada. A Ford já não é mais proprietária da empresa responsável pelo câmbio Powershift, tanto que irá substituí-lo pelo câmbio automático padrão (também de seis marchas, mas com conversor de torque no lugar da dupla embreagem) no novo Ecosport, que já foi mostrado nos EUA (e, de novo, chega no segundo semestre).

Embora de forma mais lenta, essa mudança também deve chegar ao Fiesta no futuro. (Promessa: falaremos mais do câmbio automatizado, e não apenas do Powershift, em breve.)

4. Carro que não se renova deixa de ser interessante: lembramos que, na Europa, já existe uma nova geração para o Fiesta, mas ela está fora dos planos da filial brasileira -- "infelizmente", na opinião de UOL Carros; "por ora", no parecer da Ford. 

Para contornar a ausência, até o fim deste ano a fabricante deverá indicar planos do facelift do Fiesta atual, copiando traços da nova geração, mas sem precisar alterar plataforma, equipamentos e trem-de-força.

Enquanto nada disso ocorre, é preciso fazer os olhos do comprador brilharem de novo pelo Fiesta de outra forma. Que seja pelo preço mais adequado.