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JAC usa exemplo da Caoa para salvar fábrica e escapar de punição

Sem apoio formal da matriz da JAC, Sérgio Habib (foto) quer imitar o que Caoa faz com modelos da Hyundai: montar por conta, em formato de CKD - Simon Plestenjak/Folhapress
Sem apoio formal da matriz da JAC, Sérgio Habib (foto) quer imitar o que Caoa faz com modelos da Hyundai: montar por conta, em formato de CKD Imagem: Simon Plestenjak/Folhapress

Leonardo Felix

Do UOL, em São Paulo (SP)

10/03/2016 08h00

A implantação do Inovar-Auto, regra de modernização da indústria automotiva brasileira implantadas, em 2012, pareceu não abalar a operação da JAC no Brasil.

Mas abalou.

Sérgio Habib, representante oficial da fabricante chinesa e responsável pela estratégia agressiva de entrada da marca no país, foi um dos primeiros a anunciar ingresso no programa, antes mesmo de o super-IPI para carros importados começar a ser cobrado.

Até agora, mais quatro anos desde o anúncio da fábrica em Camaçari (BA), a única operação realizada no amplo terreno foi a terraplenagem.

Não há qualquer construção no local, e a expectativa de começar a produzir "até o início de 2014" já se transformou em lenda.

Meta de investir R$ 900 milhões e produzir 100 mil veículos de três modelos foi rebaixada. A nova expectativa é montar 20 mil carros/ano de um SUV em 2017.

 

Estilo Caoa

O plano inicial fracassou por diversos fatores: a forte retração do mercado nacional, a má fama criada sobre carros chineses e problemas para obter financiamento junto ao Governo da Bahia.
 
Resultado: executivos da JAC (uma empresa estatal chinesa) se cansaram de esperar e debandaram do negócio.
 
Agora, Habib esta a sós com as operações, o terreno e... as implicações de não cumprir com sua parte no Inovar.
 
Habib mudou os planos em regime de contingência: sem a mão da JAC chinesa, construção e funcionamento da fábrica serão tocados pela própria SHC.

Sérgio Habib, presidente da JAC no Brasil - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
Habib planeja montar em Camaçari versões do T5 com câmbio CVT, ainda não lançadas
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress
É o mesmo movimento que a Caoa faz ao montar Hyundai ix35 e Tucson em Anápolis (GO), com aval (mas não a participação) dos coreanos.

Em vez de 100 mil, a capacidade será de 20 mil carros/ano, feitos todos em sistema CKD (peças chegam prontas de fora), também igual ao que é praticado pela Caoa; os investimentos cairão de R$ 900 milhões para R$ 200 milhões.

"Parte desse valor, cerca R$ 80 milhões, já foi usada. Faltam R$ 120 milhões, que vou juntar com dinheiro próprio, financiamento da JAC chinesa e empréstimo do governo baiano, que deve sair porque agora o valor é menor e envolve menos burocracia", Habib declarou a UOL Carros durante o lançamento do suvinho T5.

Por falar em T5, será ele, não mais o hatch aventureiro T3, o carro a ser produzido. Os primeiros carros chegam às lojas no primeiro trimestre de 2017. 

JAC enterra unidade do J3 em cápsula do tempo ao lançar pedra fundamental da fábrica em Camaçari (BA) - Margarida Neide/A Tarde/Folhapress - Margarida Neide/A Tarde/Folhapress
JAC enterrou J3 em cápsula do tempo ao lançar pedra fundamental de fábrica na Bahia
Imagem: Margarida Neide/A Tarde/Folhapress

Risco de multa

Por ter ingressado no programa, a JAC -- sob o comando da SHC (Sérgio Habib Corporation) -- foi contemplada com a possibilidade de isentar até 4,8 mil carros por ano dos 30% de IPI, bônus já usado.

Caso não coloque uma fábrica para funcionar até 2017, terá de pagar essa conta.

A UOL Carros, a assessoria do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) admitiu que estuda sanção à empresa, processo já em trâmite. 

"Caso a análise entenda que ocorreu descumprimento dos compromissos assumidos, a legislação prevê procedimentos para exigibilidade das normas", afirmou o órgão à reportagem, via e-mail. Por "exigibilidade das normas" entenda cobrança retroativa dos tributos abonados, mais juros e correções monetárias. 

O ministério não detalhou valores, mas é fácil perceber que a conta chega aos milhares (se não milhões) de reais. 

6. Jac T3 - Reprodução/Allroader - Reprodução/Allroader
Hatch T3 deixou de fazer parte dos planos até para importação: "é preciso apostar em modelos de rentabilidade, não de volume", defendeu Habib
Imagem: Reprodução/Allroader

Se o ministro deixar...

Embora Habib tenha passado o novo cronograma como algo certo, as mudanças precisam passar pelo crivo do MDIC.

"O caso ainda está em análise, e não é possível fazer qualquer tipo de previsão [de datas] até que seja conhecido o resultado da avaliação", disse à nossa reportagem, na mesma nota, a assessoria do ministério. 

O empresário, que corre para entregar todos os documentos solicitados pelo Governo, mostrou-se tranquilo. "Estamos fazendo tudo de acordo com o que eles pediram. Não há por que não ser aprovado", disse.