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Explosões por defeitos em Chevrolet Vectra causaram mortes, diz associação

Moriti Neto

Da Agência Pública

30/05/2014 07h00

Incêndios provocados por defeitos elétricos em unidades do Chevrolet Vectra (modelo fora de linha desde 2011) deixaram ao menos cinco mortos e cinco feridos graves no Brasil; associação de consumidores formada pelas vítimas mapeou as ocorrências e denuncia 30 casos de explosões sem motivo aparente. A Agência Pública e a Rede Brasil Atual fizeram extensa reportagem sobre o tema; UOL Carros a reproduz parcialmente a seguir.




O FOGO INVADIU ATÉ A CASA
Os olhos de Lucineia Rodrigues dos Santos Silva ainda se enchem de lágrimas quando ela se lembra da explosão do Chevrolet Vectra GLS, cor prata, ano 1997, da General Motors do Brasil, que matou sua filha, a pequena Raíssa, com pouco mais de sete meses de vida. Foi no dia 24 de julho de 2008, no município de Três Lagoas, a 338 quilômetros de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

Lucineia, então proprietária de uma pequena confecção, voltava para casa com Raíssa e o filho mais velho, Edson, à época com 6 anos. Eram 9h45 quando estacionou o carro na garagem. Desceu para abrir a porta da sala, seguida pelo filho, enquanto Raíssa dormia na cadeirinha instalada no banco traseiro do Vectra.

Não houve tempo nem de atravessar o primeiro cômodo; o estrondo, seguido dos gritos da bebê, anunciaram a tragédia. "Foi coisa de segundos. A fumaça e o fogo se espalharam muito rápido", explica Lucineia. Ainda assim, a mãe conseguiu abrir a porta traseira do Vectra e tirar a menina do carro. Depois, todos os vidros do automóvel estouraram e a saída principal da casa foi bloqueada pelas chamas que lambiam as vigas de madeira da garagem e alcançavam os móveis da sala.

Chevrolet Vectra em chamas - Reprodução/Agência Pública - Reprodução/Agência Pública
O Chevrolet Vectra GLS 1997 de Lucineia Silva, ainda em chamas após explosão
Imagem: Reprodução/Agência Pública
Com Raíssa no colo e puxando Edson pela mão, ela foi até a saída dos fundos. Não encontrou a chave. Pediu socorro. Desesperada, viu os olhos da bebê fechados. "A pele dela se desprendia do rosto", lembra-se.

Alguns vizinhos arrombaram a janela e levaram Lucineia e a criança ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, no centro da cidade. Chegaram às 10h02. "A Raíssa tinha queimaduras de 2º e 3º graus no rosto, braços, tórax e pernas. Em Três Lagoas, só havia condições de fornecer os primeiros-socorros", conta a mãe. Para atender situação tão grave, o destino tinha que ser Campo Grande.

A ambulância com UTI só chegou às 16h. Foram mais três horas para chegar à Santa Casa da capital, onde a bebê foi internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), à meia-noite. Nos próximos 34 dias, Lucineia acompanhará o doloroso tratamento da bebê e mal sairá do hospital. "Vi minha filha fazer raspagens e enxertos de pele sem sequer poder colocar a mão nela. E eu ainda a amamentava no peito", recorda.

Com o organismo fragilizado pelas queimaduras e pela toxicidade da fumaça inalada durante a explosão, a criança não resiste a uma forte infecção. Na madrugada do dia 28 de agosto de 2008, o médico Carlos Eduardo Trindade do Amaral trouxe a notícia do falecimento de Raíssa Izabelly Rodrigues dos Santos, aos 7 meses e 14 dias de idade. "Eu, como mãe, senti culpa", revela Lucineia.

+ Leia a reportagem completa no site da Agência Pública.

Procurada por UOL Carros, a GM enviou a seguinte nota: "Alguns casos referidos na reportagem estão sub judice, onde a GM do Brasil tem consistentemente refutado qualquer alegação inverídica sobre seus produtos. Desse modo, prefere não se manifestar sobre eles, para não prejudicar o apropriado andamento dos trabalhos judiciais, e confirma que observará, como sempre observou, a decisão final do Judiciário brasileiro. A GM do Brasil esclarece, ainda, que a fabricação de seus veículos observa rigorosamente  as normas brasileiras de segurança veicular e os mais altos padrões de qualidade da indústria."