Toyota Corolla Altis, topo de gama, não justifica o preço
Como bem lembrou mestre Fernando Calmon, a discussão sobre os preços da nova geração do Toyota Corolla ganhou tal dimensão que deixou em segundo plano os eventuais méritos do sedã, recém-lançado no Brasil.
Após experimentar a versão Altis, topo de gama do modelo (a R$ 92.990), sou obrigado a dizer ao Calmon -- e aos leitores em geral: simplesmente não dá para falar desse carro sem falar de seu preço.
O Corolla Altis não tem nada disso -- e mesmo assim custa R$ 13 mil mais caro que o Corolla XEi, versão intermediária do sedã (por já caros R$ 79.990).
Tudo sobre o novo Corolla
Com o Altis, o Corolla marca posição como o sedã médio mais caro no topo de sua gama. O Volkswagen Jetta TSI, com motor turbo de 211 cavalos e câmbio de dupla embreagem, é R$ 100 mais barato.
As mudanças externas no Corolla o deixaram tão diferente da geração anterior que nem faz muito sentido comparar. Além de maior, o novo sedã tem visual mais arrojado, exacerbando a impressão de lâmina do conjunto frontal (grade e faróis) e colocando músculos onde não havia, notadamente no terceiro volume. Na traseira, uma solução mais convencional e cada vez mais comum nos sedãs médios (não só asiáticos) foi unir as lanternas (de formato vagamente quadrilátero) por uma barra cromada que dialoga com a luz de lente branca da ré.
Na cabine, chama atenção o amplíssimo espaço para quatro adultos. São 2,7 metros de entre-eixos, nova medida padrão para carros do segmento (até pouco tempo atrás uns 2,6 metros já eram suficientes); e a largura é de 1,77 metro.
Porém, os méritos do interior do Corolla Altis vão parando por aí --- e nem são méritos do Altis, e sim do Corolla, já que o espaço não muda com a versão.
O painel frontal parece um muro, de tão alto e reto; a distância do motorista ao parabrisa é desagradavelmente curta; e o volante é muito, mas MUITO torto (a porção da direita fica mais próxima do corpo).
Essa pegada meio xing-ling se repete nos comandos dos vidros elétricos (frágeis), na central multimídia (sem o SD dos mapas, o navegador não funcionou e, aparentemente, travou o Bluetooth também, repetindo mensagem de erro) e na tecla Sport do câmbio CVT. O reporter André Deliberato, que já guiara o Corolla XEi, até avisou: "Repara na tecla Sport. É o tipo da coisa que você olha e pensa: Não vai funcionar." E não funcionou mesmo.
Todos os sedãs médios lançados recentemente -- Citroën C4 Lounge, Ford Focus, Nissan Sentra, Kia Cerato -- e a maioria dos mais veteranos -- Chevrolet Cruze, Volkswagen Jetta -- oferecem cabines caprichadas, em certos casos remetendo a modelos superiores (Jetta a um Audi; Focus ao Fusion; Sentra ao Altima). O Corolla conseguiu a façanha de fazer o caminho oposto.
O Corolla contra todos
Em movimento, parte dos problemas do novo Corolla é compensada pelo bom conjunto mecânico, formado pelo motor 2 litros flexível casado ao inédito câmbio CVT que simula sete marchas -- trabalháveis via shift paddle ou na própria alavanca, caso o motorista deseje interferir. No geral, porém, o Corolla sempre teve força disponível para vencer aclives e retomar em ultrapassagens. O consumo médio que obtivemos foi de 7,8 km/litro, em, circuito misto (70% urbano) e com gasolina no tanque.
De qualquer modo, o uso comedido do Corolla (em velocidade de cruzeiro na estrada; sem afobação e/ou pé pesado no anda-para urbano) gera sempre uma experiência prazerosa para quem está a bordo, no sentido de estar-se isolado do que o áspero mundo exterior impõe em nossas ruas (inclusive do barulho).
Mas é pouco -- especialmente pelo exagerado preço desse Corolla de prestígio. Não faz nenhum sentido comprar esta versão. Ninguém vai achar que você é mais chique porque tem um Corolla Altis; muito pelo contrário, aliás.
UOL Carros planejava comparativo entre Corolla Altis e Mercedes-Benz C 180, para saber se o carro alemão seria opção mais interessante, mesmo sendo de segmento superior. Nossa pesquisa em revendas encontrou o C 180 cerca de R$ 27 mil mais caro (esperávamos diferença de no máximo R$ 10 mil), e por isso a tese acabou negada. Fica o registro, até porque Toyota e Mercedes aceitaram encarar o desafio. Transparência
Corolla e Mercedes, nada a ver