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Honda do Brasil tem uma missão para 2014: mudar o nome do Vezel

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

17/12/2013 17h24Atualizada em 03/10/2016 12h33

O próximo biênio promete ser movimentado para a Honda, com reorganização de praticamente toda a linha de automóveis vendida no Brasil e construção de nova fábrica em Itirapina (SP). A agenda para 2014 inclui: estreia da nova geração do Fit, flagrado há quase uma semana pelo leitor Paulo Falcade; reestilização do sedã médio Civic, conforme admitiu a fabricante após uma unidade norte-americana ter sido avistada no Rio; e até mesmo a possibilidade de primeiras aparições no país do novo City, apresentado há quase um mês na Índia.

Mas a grande tarefa, com intensa movimentação nos bastidores, será mesmo a de convencer a matriz japonesa de que o novo SUV compacto da marca, revelado mundialmente durante o Salão de Tóquio, no final de novembro, precisa mudar de nome para ter vida mais tranquila no Brasil. Conforme ouviu UOL Carros, será difícil emplacar Vezel

"O modelo é global, então o nome é global. Há um significado em japonês e será difícil, mas precisamos discutir essa mudança", afirmou uma pessoa ligada à montadora, durante evento de fechamento do ano. "O Brasil é um país grande demais, com regiões muito diferentes entre si, com culturas diversas e até diferentes formas de se falar um mesmo nome", completou.

De fato, a Honda teme que o nome original seja corrompido por regionalismos e diferentes acentos de Norte a Sul do país -- e que isso prejudique as vendas do modelo. UOL Carros acompanhou a apresentação do modelo em Tóquio e apontou esta questão à ocasião, no texto do editor Claudio de Souza, que retomamos: "A primeira dúvida é se devemos dizer Vêzel, Vézel ou Vezél. Para Vízel, seria necessário mais um 'e' para denotar a pronúncia 'anglófona' de um jeito compreensível pelo planeta inteiro".

Esta questão, aliás, não é só brasileira: na internet, há fóruns norte-americanos e até europeus discutindo significado, pronúncias e alternativas ao nome para o SUVinho, que já foi flagrado em testes na Alemanha e será fabricado também no México, ao lado do CR-V.

Para os americanos, por exemplo, o nome Vezel lembraria do mamífero furão ("weasel" em inglês) a um tipo de embarcação ("vessel"). Na Europa, até o nome do piloto tetracampeão da Fórmula 1 Sebastian Vettel foi lembrado em possíveis analogias, ao passo em que o Google indica "vezel" como a palavra holandesa para fibra, filamento.

Entre as substituições apontadas, surgem Element para Méxicos e Estados Unidos -- este nome, aliás, já foi usado pela marca em um utilitário quadradão, de porte menor que o também retilíneo Pilot. Na China, antes do lançamento oficial, cogitou-se do uso da sigla CR-U, acrônimo para "crossover urbano" e alusivo ao CR-V, mas UOL Carros lembra que esta também seria uma péssima escolha para nosso mercado, onde fatalmente seria lido como "cru", oposto de "cozido" e termo usado para designar coisas que não estão prontas. E carro que não está pronto não vende. Além disso, haveria a possibilidade de virar piada pronta por conta da péssima rima.

Com tudo isso, o ano-chave para resolver esta questão é 2014, já que o SUV será fabricado e vendido por aqui a partir de 2015.

NOVA HONDA EM TRÊS MOVIMENTOS

  • Paulo Falcade/UOL

    Retilíneo, mas ainda disfarçado, novo Fit foi flagrado pelo leitor Paulo Falcade no interior de São Paulo (acima), enquanto Índia vê o novo City sem qualquer disfarce (ao centro).

  • Adnan Abidi/Reuters
  • Jefferson Pereira/UOL

    No Rio, Civic visto por Jefferson Pereira chegou "por conta", mas fez Honda se pronunciar.

CUTUCADA
A missão de encontrar um nome que possa ser repassado à matriz é da sede administrativa da Honda, que recebeu recentemente nova instalação em Sumaré e abriga também o centro executivo e a área de pesquisa e desenvolvimento locais.

Foi este setor que definiu, por exemplo, que o compacto sul-asiático Brio não tinha condições de ser bem recebido pelo comprador brasileiro, como UOL Carros apontou por três vezes.

Executivos da Honda relembraram o caso para mostrar a capacidade de persuasão dos profissionais, mas aproveitaram a situação para cutucar a concorrente Toyota: "O pessoal do centro de pesquisa e desenvolvimento tem experiência em situações complicadas. Eles definiram, por exemplo, que o Brio era indiano demais e não servia aos padrão brasileiro. Nossos rivais não tiveram algo parecido e o Etios está aí para servir como o maior case de todos". 

ERA DOS SUVINHOS
Não é difícil entender a preocupação da Honda. Ainda que Fit e City estejam perto de estrear nova geração e que o Civic, modelo mais vendido pelos japoneses no Brasil, também vá mudar, a grande novidade será mesmo a chegada do Vezel.

Montado sobre a mesma plataforma compacta dos dois primeiros modelos, o SUV será o principal motivo da abertura da nova fábrica no interior de São Paulo. Terá propulsor 1.5, bicombustível e possivelmente já com novas tecnologias de downsizing para entregar potência e torque equivalentes ao de motores de 2 litros. No exterior, as opções de câmbio incluem, além do manual de seis marchas, o CVT (por polias, com relações virtuais continuamente variáveis) e até uma caixa com dupla embreagem. O visual é "acupezado" e o interior da cabine se destaca pelo console central que "decola" em direção ao painel frontal, pelo volante multifuncional e pela ampla tela multimídia.

Mais: ele será o representante da Honda em um segmento que tem tudo para ser um dos mais aquecidos nos próximos três anos -- 2014, 2015 e 2016 -- no país: o de SUVs/Crossovers compactos com um quê de premium, que podem até ter versões mais básicas, mas que só devem mostra seu verdadeiro potencial a quem puder assinar cheques maiores, algo entre R$ 70 mil e R$ 120 mil.

Se o segmento começou como uma opção com mais espaço, mas não muito distanciamento técnico e de conforto, em relação aos tradicionais hatches e peruas compactos, com o primeiro Ford EcoSport, a partir de agora o jogo muda: versões mais caras do atual EcoSport oferecem mimos como sistema multimídia comandado pela voz, equipamentos como câmbio automatizado de dupla embreagem e segurança que garantiu nota máxima no teste do Latin NCAP.

A reação de rivais, ou do "time de anti-EcoSport", inclui a chegada do Chevrolet Tracker, já no mercado, e também movimentação da Renault, que vai atualizar o Duster e trazer o europeu Captur, da Toyota, que trouxe o modificado RAV4, já com traços do novo Corolla, e da Kia, que apresentou no Salão de Frankfurt o primeiro conceito de seu futuro jipinho Niro, e da Peugeot, que vai apostar tudo na fabricação do 2008, derivado do hatch 208, em Porto Real (RJ).

Há até a definição de uma linha mais luxuosa, ainda que não mais espaçosa, instalada um degrau acima em termos de preços e talvez de equipamentos, representada pelos alemães Mercedes-Benz GLA, BMW X1 e Mini Countryman, com fabricação no país confirmada.

Além do propósito, todos os modelos citados têm uma característica em comum: nomes fortes e consolidados. Ninguém ligado à Honda admitiu, mas é possível imaginar os arrepios causados pela simples leitura, em alto e bom tom, desta "lista de chamada".