Lost in translation: nomes ocidentais de carros japoneses soam curiosos
Quem não assistiu a "Encontros e Desencontros", título nacional enganador para o filme "Lost in Translation" (literalmente, "perdido na tradução"), da diretora Sophia Coppola, deveria assistir -- especialmente se tiver interesse pelo Japão. Trata-se da história de dois outsiders passando alguns dias no país, um tiozão e uma gatinha, vividos por Bill Murray e Scarlett Johansson.
DICIONÁRIO DO LEITOR
O internauta de UOL Carros, além de bem-informado, é poliglota: tão logo esta reportagem foi ao ar, recebemos alguns palpites e também constribuições certeiras sobre alguns dos curiosos nomes listados.
Por ora, dois valem ser registrados:
+ Daihatsu TANTO: "o nome pode até ter sonoridade latina, mas designa um estilo de facas japonesas, com ponta quase reta, o que as torna de difícil uso para cortes precisos, mas muito robustas em perfurações", explicou Renato Fernandes Lima por e-mail.
+ Subaru VIZIV: através dos comentários, Valter Bison não soube apontar um sentido melhor para o nome do conceito da marca japonesa, mas lembrou da origem de outro modelo da marca, o compacto Vivio. Basta grafar em maiúsculas, VIVIO, e raciocinar. "O carro tinha motor de 660 cm³ e o nome queria dizer exatamente o tamanho do motor: VI: 6, VI: 6, O: 0".
No entanto, o espirito do texto é mostrar como o choque de culturas provoca situações inusitadas. Afinal, na era do carro global, ninguém vai à concessionária de dicionário na mão. (Da Redação)
Tudo o que o filme mostra (se não viu, veja) é verdade, inclusive a enorme dificuldade que os japoneses têm com o idioma inglês -- que, bem ou mal, é a língua usada mundialmente na comunicação entre estrangeiros. O alto nível de educação da população do país, bem como a evidente influência do estilo de vida americano, não facilitam as coisas para os visitantes (e nem para os locais).
Uma visitinha à farmácia, que levaria 2 minutos num país europeu qualquer, em Tóquio vira uma cena de comédia de uns 15 minutos, porque não há jeito de se fazer entender (pois não adianta caprichar no inglês). E isso porque a ideia era comprar uma simples vitamina C (e não, digamos, um cloridrato de benzalcônio). Quando o atendente finalmente traz uma caixa do produto, só que excessivamente grande, segue-se nova batalha -- agora para ele entender que uma caixa menor basta. Nem mímica salva.
O QUE HÁ NUM NOME
A mesma relação ambivalente com a cultura ocidental se faz presente no batismo dos carros japoneses. Boa parte dos modelos que são vendidos por aqui e também em outros países usa um nome local diferente do resto do mundo. O Nissan Altima, por exemplo, no Japão é Teana. O Mazda3, nome simples e universal, aqui é vendido como Axela.
A apresentação do Honda Vezel no 43º Salão de Tóquio, por exemplo, lançou a dúvida: esse nome (que parece vir do holandês para "fibra", único significado encontrado numa cuidadosa "gugada") é só local, ou vai para o mundo todo? Por que não usar Urban, como era denominado o conceito? Enfim, "Vezel" soa bastante coerente com coisas como "Teana" e "Axela". E inventar nomes não é pecado; muitos carros ocidentais os têm sem significar nada específico (Chevrolet Vectra, Renault Sandero).
Há outros exemplos de nomes de carros no Japão que, além de não serem japoneses, também parecem "lost in translation". Embora relembre uma antiga motocicleta da marca (e também um minicarro experimental dos anos 1970), Hustler não é exatamente uma escolha sábia -- a palavra designa "cafetão", "prostituto", e ficou marcada pela revista ultrapornográfica americana de mesmo nome (outro filme para ver: "O Povo Contra Larry Flynt").
A Daihatsu, especialista em kei cars (minicarros), usa e abusa do "latim" em seus modelos. Entre as novidades no salão, destacam-se o Tanto e o Conte -- ou o Conte e o Tanto, se soar melhor... Já a Toyota continua bancando a versão Athlete do Crown, seu sedã de luxo para o mercado doméstico (existe a versão Majesta também, outro flerte com o "latim"). Vale lembrar que Corolla e Corona são palavras relacionadas a "crown" (coroa, em inglês).
E fugir dessa mistureba cultural, desse simpático (e claramente inofensivo) "choque de civilizações", às vezes é pior. Que tal os Subaru Levorg e VIZIV?
O primeiro, de acordo com a fabricantre, é uma (grotesca) junção de partes das palavras "legacy", "revolution" e "touring" (note que forçaram a barra no finalzinho); o segundo parece brincar com variações do termo "vision" (visão, em inglês), mas na verdade pode ser lido como uma imitação meio tosca do melhor palíndromo automotivo disponível no mercado: assim como VIZIV, o nome Civic também pode ser lido ao contrário.
UOL Carros selecionou para o álbum que acompanha esta reportagem alguns casos curiosos, todos colhidos no 43º Salão de Tóquio. Perca-se na (des)tradução.
Viagem a Tóquio a convite da Toyota
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