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BMW 335i vale dois Série 3 tradicionais e mostra como um sedã pode ser endiabrado

Quer se valer do poderio do 335i? Separe R$ 300 mil -- e se for vermelho metálico custa mais caro - Murilo Góes/UOL
Quer se valer do poderio do 335i? Separe R$ 300 mil -- e se for vermelho metálico custa mais caro Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

09/11/2012 08h00

Falar do BMW Série 3 é versar sobre tradicionalismo automotivo, certo? Pode ser. De fato, o modelo é pilar do segmento que representa: está em sua sexta geração (a original é de 1975), que desembarcou no Brasil em julho; define o que é preciso ter para ser um carro premium de verdade (perdão, donos de Série 1, mas é a real); e dita o padrão a ser seguido e respeitado pelos rivais (vendeu, em diferentes configurações, mais de 2 mil unidades este ano, enquanto o mais próximo concorrente, o A4, não passou dos três dígitos). Mas quem acha todo esse papo conservador e enfadonho pode afrouxar o nó da gravata: quando o assunto é o 335i, a mais poderosa versão civil do Série 3 (abaixo só do esportivo M3), tudo fica muito mais divertido.

Claro, ser divertido e potente sem jogar a tradição no lixo não sai barato (embora "barato" seja algo muito relativo no Brasil, sobretudo para o consumidor das classes A e B). O acesso ao mundo do Série 3, o 320 (motor quatro-cilindros, 2 litros, 186 cavalos), sai por R$ 130 mil. Mas possuir o 335i exige mais. Com os R$ 295 mil livres na conta bancária para se ter um exemplar 2012/2013 é possível levar dois do Série 3 inicial e ainda dar um troco ao vendedor. Se a exigência for uma unidade ano/modelo 2013, o valor sobe para R$ 304 mil. E mais R$ 1.500 para levar pintura metálica, como a altamente hipnótica vermelho Melbourne do carro avaliado. Quer pagar menos? A saída é focar no trio abaixo:   

O 335i é mesmo para poucos, mas sabe como dar prazer a estes. A cara de mau do conjunto óptico dianteiro e das lanternas melhoradas é partilhada por toda a nova geração do Série 3. As dimensões também são as mesmas: mais largo e comprido que o antecessor, tem 4,62 metros de comprimento por 1,81 m de largura e 1,42 m de altura. Mas as semelhanças param aí. Veja as imagens: cromado só no entorno em forma de duplo rim da grade frontal (lembre-se: quem gosta de cromado é deslumbrado, o topo do mundo gosta é de tecnologia, potência e exclusividade). O restante dos detalhes externos vem na cor da carroceria ou recoberto de preto esmaltado ou fosco, e falamos até mesmo dos 16 frisos da grade, das molduras dos vidros e da dupla de escapes; mesmo dentro, o que não é preto é em alumínio escovado graças à assimilação do pacote Sport, que também coloca costuras coloridas (vermelhas no carro testado) no couro que recobre bancos, portas e painéis. As rodas enormes, aro 19 (estilo 401 com aros duplos), são opcionais; de série, o carro se apoia sobre modelos de 17 polegadas calçando pneus 225/50.

Este pacote é tão arrojado que pessoas mais conservadoras vão classificá-lo como "brega". Foi exatamente este o termo usado por uma amiga, moradora da nobre (e, olha aí o termo de novo, "tradicional") região dos Jardins, na cidade de São Paulo, e certamente acostumada a algo mais sutil. Exagero? UOL Carros acredita que sim, mas o 335i certamente é magnético e torce o pescoço de todo mundo na rua. 

PODE QUEIMAR

  • Murilo Góes/UOL

    Coloque o seletor de condução em Sport+, pise com o pé esquerdo no freio e acelere com ímpeto. Os giros sobem, a frente reclama, cabeceia e a fumaça sobe das rodas traseiras, que têm vida própria. Malcriação? Nada: dom do BMW 335i, que faz o 0-100 km/h em 5,5 segundos

O espaço entre-eixos é de 2,81 m, como no Série 3 básico, mas ainda que o acesso (e o espaço para pernas) tenha melhorado no banco traseiro, é quase certo que apenas duas pessoas viajarão à bordo da máquina, que foi concebida para dar prazer ao motorista e sua carona. Motorista, não: piloto.

Nada de quatro-cilindros, aqui. O 335i ronca forte quando é acelerado e até queima borracha e sai abanando a traseira se não for segurado pelo controle de estabilidade e tração (que pode ser amenizado na posição Sport ou desligado na Sport+) ou pelo braço de quem está ao volante. O ímpeto vem do clássico motor de 3 litros e seis cilindros com turbo twin-scroll (fluxo de gases separados em dois caminhos espirais diferentes, um para cada trio de cilindros), injeção direta de gasolina com alta precisão e controle variável de válvulas, que até seria classificado como tradicional, não fosse endiabrado demais para tanto: são 310 cavalos de potência máxima (306 hp) disponíveis entre 5.800 e 6.000 rotações, com 40,78 kgfm de torque despejados sobre as rodas traseiras tão logo se afunda o acelerador (a partir dos 1.200 giros). Tudo gerenciado pelo câmbio de oito marchas, última moda entre os modelos de luxo atualmente, com trocas manuais na alavanca ou por borboletas atrás do volante.

TUDO PELO SOCIAL
Ainda assim, o 335i é sociável. Conta tudo para quem o guia com seu head-up display (é colorido e traz informações do computador de bordo, de navegação e até de segurança), tem "somzeira" premium (Harma Kardon e ligação com smartphones, MP3 players e iPod por entradas AUX, USB, Bluetooth ou pela conexão proprietária da BMW) e até internet com apps de Facebook, Twitter, previsão do tempo, notícias e e-mail, compartilhando a conexão 3G do celular -- o chato é que outros sistemas que não o da Apple estão barrados deste papo tecnológico.

Por outro lado, segue complicado lidar com todas estas informações por meio do truncado iDrive, o botão seletor que centraliza todas as informações exibidas na tela de quase 9 polegadas em menus a perder de vista, numa navegação pouco intuitiva.

Agora, difícil mesmo é controlar a gana de sair acelerando forte a cada reta avistada ou abordar com calma cada curva contornada. O 335i até conta com o pacato modo EcoPro, que reduz a ação de parte dos cilindros e faz o conjunto se comportar de modo mais econômico, poupando energia e combustível até mesmo com um fluxo do ar condicionado moderado. Mas quem vai se lembrar de freios regenerativos e sistema que desliga-religa o motor em paradas, quando se tem uma direção eletro-hidráulica com tocada esportiva, mais firme de acordo com a velocidade imprimida (ou o modo selecionado) e toda uma sorte de dispositivos eletrônicos que cuidam da segurança, enquanto você vê a vida ficar mais lenta do lado de fora (há até alertas de troca de faixa sem uso da seta e de perigo de colisão!).

Com isso, acreditamos que o carro cumpra a promessa de fazer quase 14 quilômetros com cada litro de gasolina premium. Mas acelerando, entortando e principalmente mantendo o botão o máximo de tempo no modo Sport -- ou seja, tudo o que se espera de um autêntico arrasa-quarteirão com o 335i -- só conseguimos colocar um modesto 7 km/l em nosso computador de bordo. E, convenhamos, foi ótimo.