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Cruze Sport6 preenche vazio da GM com requinte e beleza a R$ 64.900; só faltou potência

Cruze hatch: versão LTZ (topo) tem teto solar, couro, partida sem chave... mas apenas 144 cv - Divulgação
Cruze hatch: versão LTZ (topo) tem teto solar, couro, partida sem chave... mas apenas 144 cv Imagem: Divulgação

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Caetano do Sul (SP)

09/04/2012 22h07Atualizada em 10/04/2012 12h37

Responda rápido: qual é o nome do modelo médio da Chevrolet no Brasil? Há exatos sete meses, seria fácil acertar, até mesmo pela multiplicidade de alternativas corretas -- num primeiro degrau, Astra hatch e sedã, com Vectra hatch (GT), Vectra hatch esportivado (GT-X) e Vectra sedã um pouco acima. Mas veio a necessidade urgente de mudança, e a chegada do Cruze sedã em setembro de 2011 (releia aqui) levou à aposentadoria não só de todas as configurações do Vectra (dois e três volumes), mas também do Astra dois-volumes. O Astra sedã morreria pouco tempo depois, com a estreia do Cobalt. Mas restou um vazio no portfólio, que deixou órfãos os compradores de hatch médio da marca.

Este buraco foi coberto apenas nesta segunda-feira (9), com o lançamento da configuração hatch do Cruze, batizada de Cruze Sport6 -- lembre-se, o nome oficial do sedã é Cruze Ecotec6. O carro, flagrado inúmeras vezes antes da apresentação oficial (reveja as fotos enviadas por leitores), tem o mesmo motor do sedã -- o Ecotec 1.8 16V Flex Dual CVVT (duplo comando de válvulas continuamente variável) com 140/144 cavalos a 6.300 giros e torque de 17,8/18,9 kgfm a 3.800 rpm (gasolina/etanol) --, câmbio de seis marchas (manual ou automático) e apenas duas versões de acabamento, LT e LTZ, que são justamente as mais altas possíveis para um Chevrolet atualmente. Portanto, não existe (a exemplo do sedã) um Cruze hatch "de entrada", que seria a versão LS. Os preços ficam assim:

- Cruze Sport6 1.8 LT manual: R$ 64.900
Traz spoilers dianteiro e traseiro e saias laterais, que o diferenciam em relação ao Cruze sedã, friso cromado na base dos vidros laterais, maçanetas e capas de retrovisor na cor de veículo, retrovisores externos com desembaçador, rodas de liga leve de 17 polegadas com quatro diferentes desenhos, ar digital com filtro de partículas (AQS), rádio/CD com Bluetooth e MP3, interior com revestimento de tecido (incluindo painel), freios com ABS, EBD e PBA (sistemas antitravamento, de distribuição eletrônica de frenagem e força adicional para frenagem de emergência), controles de tração e de estabilidade e quatro airbags (duplo frontal e lateral).

- Cruze Sport6 1.8 LT automático: R$ 69.900
O conteúdo anterior, mas com revestimento de couro preto (no sedã, o revestimento de couro é bicolor).

- Cruze Sport6 1.8 LTZ manual: R$ 77.400
O conteúdo anterior, rodas com desenho exclusivo, retrovisor com rebatimento elétrico, maçanetas cromadas, teto solar elétrico, destravamento das portas sem uso da chave e partida do motor por botão, sensor de estacionamento, faróis com acendimento automático, sistema multimídia com tela de 7 polegadas, navegador por GPS e som "premium" com seis falantes, seis airbags (os quatro anteriores e mais os do tipo cortina) e câmbio manual (que o sedã abole de sua versão de topo).  

- Cruze Sport6 1.8 LTZ automático: R$ 79.400
O pacote anterior, substituindo a caixa manual pela automática.

SPORT O QUÊ?
Com pacotes e preços explicados, percebe-se que o Cruze hatch traz uma concentração de itens, mas também parte de um patamar mais alto -- traduzindo, é mais caro -- na comparação direta com os rivais. A Chevrolet elenca Hyundai i30 (atualmente com 145 cavalos, mas com mudança de geração anunciada), Fiat Bravo (que chegou há mais tempo, quase dois anos, com o 1.8 E-torq de 132 cv com etanol, ou o rarefeito 1.4 T-Jet (turbo) a gasolina de 152 cavalos, mas até hoje não decolou em vendas), duas gerações de Ford Focus (a atual com motor 1.6 de 115 cv ou 2.0 de 148 cv com etanol, e mais o futuro, que por enquanto só roda no Brasil com camuflagem pesada de testes), Peugeot 308 (recém-chegado, mas bem próximo do anterior, exceto pela motorização, com o moderno 1.6 de 122 cv e o 2.0 de 151 cv com etanol) e o decano Volkswagen Golf (104 cv no 1.6 ou 120 cv no 2.0, também com uso do combustível vegetal).

É desta lacuna de conteúdo -- possível apenas pela situação claudicante do segmento, que só neste ano ameaça mudar para valer -- que a GM se vale para bombar seu novo modelo. Daí o uso da nomenclatura ambígua Sport6. Seu uso pode justificar a presença de rodas de desenho mais agressivo, teto solar, cores diversificadas (são dez opções: preto, branco, dois tons de prata, bege, verde escuro, azul, cinza e dois tons de vermelho (um mais fechado, outro mais sanguíneo), muita eletrônica embarcada... e preços mais altos. Por outro lado, pediria, se levada ao pé da letra, uma motorização com muita potência específica -- como bem lembrou o fotógrafo Murilo Góes, o número 6 acoplado ao nome poderia até ser lido como indicativo da presença de um motorzão de seis cilindros.

Mas este não é o caso do Cruze hatch, que traz o mesmo conjunto mecânico do sedã e se vale de máximos 144 cv com etanol. Não é pouco, mas é apenas o suficiente para bom uso na cidade. Ao encarar a estrada, porém, fica a sensação -- que o dono do sedã conhece bem -- de que algo poderia ser melhor.

Esta não é a única faceta do sedã encaranda no hatch: o espaço interno também é exatamente o mesmo, com 2,68 metros de entre-eixos. Mudam apenas o comprimento (4,51 m no hatch, contra 4,60 m no sedã), por conta da óbvia ausência do apêndice do porta-malas, que faz com que o hatch comporte 402 litros de bagagem, ante 450 litros do sedã, assim com o peso resultante desta mudança, que é de 1.410 quilos no hatch para 1.424 quilos no sedã, sempre considerando as configurações mais completas. Até o desempenho seria similar nas contas da GM: oficialmente, a aceleração de 0 a 100 km/h é cumprida em pouco mais de 11s (com etanol) tanto pelo sedã, quanto pelo hatch. 

Segundo os executivos da marca, o Sport neste caso deve ser lido de outra forma, abrindo mão da vocação automotiva e evocando o mundo da moda e dos costumes. É preciso imaginar que se o sedã é o carro oficial do executivo, para uso rotineiro, o hatch seria o carro para outro momento da vida, o carro de passeio, usado em ocasiões mais relaxadas, mas nem por isso menos requintadas -- na metáfora marqueteira, o dois-volumes seria o traje esporte-fino (ou "sport" -- paletó com camisa, mas sem gravata) em oposição ao três-volumes e sua formalidade (terno completo). Assim, o numeral está ali para marcar o uso, claro, do câmbio de seis marchas, ainda raro no país.

Faz sentido? A GM espera que sim. E torce para que nenhum dos fiéis compradores da marca e defensores árduos de sua histórica tradição esportiva (alguém mais aí lembra das siglas GSi, SS e afins?) torça demais o nariz.