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Brasil e México iniciam negociação do acordo automotivo

Do UOL, em São Paulo*

07/02/2012 20h09

O assunto rendeu e, após o governo federal alegar que o acordo bilateral de importação de automóveis com o México causou um prejuízo de US$ 1,5 bilhão na balança comercial brasileira e ameaçar romper o tratado, brasileiros e mexicanos começam a discutir as bases de uma possível revisão desse acordo. O encontro acontece nessa terça-feira (7), em Brasília, e pode marcar uma nova fase na relação comercial entre os dois países.

Em uma ligação telefônica realizada na última sexta-feira (3), o presidente mexicano, Felipe Calderón, manifestou à presidente Dilma Rousseff seu interesse na manutenção do acordo e, para isso acontecer, concordou em renegociar as regras do tratado. De acordo com Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), na forma atual, o tratado está “desequilibrado” e beneficia somente o México. 

Manifestada a intenção de renegociar o acordo, começou uma rodada de especulações sobre quais medidas seriam colocadas à mesa pelo governo brasileiro para equilibrar a conta com o México. Um aumento do índice de nacionalização para 65% (hoje situa-se entre 30% e 35%) e a inclusão de caminhões, ônibus e utilitários nessa conta são duas possibilidades. A questão pode ainda envolver a Argentina, principal fonte dos carros importados à venda no país e, na visão de alguns analistas, escancara a dificuldade do governo brasileiro em combater os custos de produção dentro do país

  • Divulgação

    Mudanças no acordo prejudicam o Nissan March; marca japonesa baseia a produção dos seus carros de volume no México, o que rendeu a sexta colocação do mercado brasileiro em 2011

COMO COMEÇOU

Em vigor desde 2002, o acordo com o México é similar ao que o Brasil tem com os países do Mercosul. Em linhas gerais, ele permite que ambos os países importem veículos e componentes de automóveis pagando menos impostos para isso, desde que seja respeitada uma taxa mínima de nacionalização dos veículos. Concretizada essa condição, os carros chegam, por exemplo ao Brasil, isentos da taxa importação de 35%. < p/>

O “desequilíbrio” citado pelo ministro Pimentel foi causado pelo aumento de 40% nas importações de veículos produzidos em solo mexicano. Desta forma, considerando o fato de que as exportações de carros fabricados no Brasil para o México não acompanharam esse movimento, a balança comercial brasileira saiu prejudicada nessa equação.

Um exemplo do avanço de carros vindos do país norte-americano é o da Nissan. A montadora, que faz parte da aliança franco-nipônica Renault-Nissan, saltou da 12ª posição geral de vendas em 2011 (1,97% de participação) para a sexta colocação no primeiro balanço de 2012 (3,32%), divulgado na última quarta-feira (1) (leia aqui), empurrada sobretudo pelas boas vendas da dupla March/Versa, importados do país norte-americano. Além dos dois modelos, que têm apelo mais popular, a marca também traz daquele país os médios Tiida (hatch e sedã) e Sentra. A Nissan também vende por aqui a minivan Livina e a picape Frontier, modelos fabricados localmente, em São José dos Pinhais (PR), mas que têm vendas mais comedidas.

Também chegam do México, sem pagar tarifa de importação, nem sobretaxa de 30 pontos percentuais no IPI, o utilitário Freemont e o compacto estiloso 500, da Fiat; o Captiva, da Chevrolet; o New Fiesta (hatch e sedã) e o médio-grande Fusion da Ford; o Jetta, da Volkswagen, terceiro sedã médio mais vendido do país em janeiro; o utilitário CR-V, da Honda, líder do segmento no primeiro mês do ano, deixando Ford EcoSport e Renault Duster para trás. O SUV Dodge Journey, da Chrysler, co-irmão do Freemont, não paga tarifa de importação, mas arca com a sobretaxa do IPI.

Para contornar a situação, o governo brasileiro cogitou utilizar a cláusula de saída do acordo, o que colocaria fim no tratado comercial com o México e afetaria diversas fabricantes presentes no país. Entidade que reúne essas empresas, a Anfavea emitiu uma nota favorável à manutenção do acordo, mesmo que ocorram ajustes. As montadoras, em si, não se pronunciaram.  (*Com Agência Brasil)