Obra de Lula, bom momento da indústria define três grandes e destaca Renault-Nissan
Os bons resultados colhidos pela indústria automobilística em 2011 ainda são frutos das mudanças sócioeconômicas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que aumentou a massa salarial e incentivou o crédito. Essas duas condições permaneceram durante boa parte do ano e proporcionam às montadoras um crescimento de 5%, considerado "sustentável", isto é, um crescimento capaz de ser atendido sem a necessidade de grandes investimentos.
É um crescimento nesse ritmo que querem os fabricantes, não mais de 5% para 2012 e os anos seguintes.
"Crescer 5% é melhor que crescer 30%", disse Marcos Oliveira, presidente da Ford do Brasil, que prefere um aumento contínuo a uma explosão de vendas seguida de retração.
E 2011 foi exatamente como planejado pela Anfavea (associação das fabricantes) em relação ao crescimento do mercado de automóveis e comerciais leves. Mas ela foi surpreendida pela ousadia das marcas chinesas, especialmente JAC e Chery, que trouxeram carros bem equipados com um bom custo/benefício.
Carlos Ghosn, da Renault-Nissan: esse manda!
Os fabricantes ficaram preocupados e exigiram providências do governo, argumentando que o avanço das importações tiraria emprego dos brasileiros -- embora a maior parte das importações seja feita pelas quatro montadoras tradicionais (Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford): 75%. Ou seja, apenas 25% dos carros importados são trazidos pelas marcas sem fábrica no Brasil (reunidas na Abeiva).
O governo baixou uma portaria aumentando em 30 pontos percentuais o IPI para os importados, preservando o Mercosul e o México, deixando claro que a medida tinha endereço certo: os chineses. Mas foi tão agressiva que o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, ficou numa saia justa na coletiva de imprensa que convocou para "explicar" as medidas. Como os fabricantes poderiam apoiar um aumento de imposto?
O temor das fábricas tradicionais é natural. Depois de décadas desfrutando da reserva de mercado e produzindo veículos defasados, elas tiveram que se reciclar para enfrentar a concorrência.
Três delas, GM, Fiat e Volks, se mantêm com uma participação em torno de 20% cada; a Ford sucumbiu. Em 2011, deixou de ser "grande" para entrar no grupo das "médias".
O mercado se solidificou em 2011 em quatro grupos:
1: Fiat, Volkswagen e GM (participação em torno de 20%)
2: Ford e Renault (entre 5% e 10%)
3: Honda, Peugeot, Toyota, Nissan, Kia, Hyundai e Citroën (de 1% a 3,5%)
4: JAC, Chery, Hafei, Volvo, BMW, Mercedes-Benz, Suzuki, Land Rover, Iveco e SsangYong (de 0,1% a 1%)
O destaque do ano foi a aliança Renault-Nissan, que não foi somente o grupo que mais cresceu: as duas marcas foram também as que mais evoluíram individualmente, ao conquistarem as maiores participações do bolo do mercado. A Renault saltou de uma participação de 4,8% em 2010 para 5,6% este ano, com vendas de 172.725 unidades, 30 mil a mais do que o ano passado. A Nissan passou de 1% para 1,8%. As duas tiveram os melhores desempenhos do Brasil.
Além delas, Kia, Chery, Hafei, Mitsubishi, Hyundai, Citroën e Volvo ficaram entre as dez marcas que mais aumentaram a participação de mercado no ano. Honda, Ford, Toyota e Peugeot foram as que mais perderam além das três grandes; a Fiat perdeu 0,83% de participação, a Volkswagen 0,54%, e a GM (a maior perdedora no país em 2011) 1,32%.
Joel Leite é jornalista, editor do blog O Mundo em Movimento e diretor da Agência AutoInforme
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