Honda Civic muda por fora, mas grande surpresa está no interior
Ele já foi líder de seu segmento, enfrentou um período de baixa e agora tenta reverter o prejuízo estreando uma nova geração -- no caso, a nona -- em nosso país. O sujeito da frase anterior atende pelo nome de Honda Civic e chega renovado às lojas brasileiras na segunda quinzena de janeiro de 2012. Mesmo que a estreia efetiva do carro ainda demore cerca de dois meses, a Honda já apresentou o novo sedã aos jornalistas especializados.
E isso é sintomático: se, por um lado, é uma forma da empresa mostrar que seu principal carro mudará (e, consequentemente, gerar um burburinho entre seus possíveis compradores), por outro é uma demonstração da recuperação da marca após o terremoto seguido de tsunami que afetou o Japão em março último, com impacto direto no timing do lançamento do sedã renovado. O plano era que ele chegasse ao mercado brasileiro em setembro, mas o desastre causou uma queda na produção da Honda da ordem de 30%. Os principais itens afetados foram componentes eletrônicos, os quais não são produzidos na planta brasileira da Honda.
FRENTE E VERSO
Dianteira mudou quase nada, mas a traseira do Civic 2012 ficou mais sisuda e equilibrada
POR ORA, SEM PREÇO
Das incertezas que cercavam o lançamento do novo sedã médio, sobrou apenas uma: o preço. Apesar de o carro estar pronto e com alguns detalhes exclusivos para o mercado brasileiro, não ter um preço definido em sua apresentação oficial mostra que a Honda corria mesmo contra o tempo. Pudera: o segmento dos sedãs médios é hoje um dos mais aquecidos do mercado nacional e teve adições importantes nos últimos meses, como o Chevrolet Cruze, o Hyundai Elantra e o renovado Volkswagen Jetta. O próprio líder de vendas -- e rival histórico do Civic --, o Toyota Corolla, passou por reestilização. E o Honda vinha levando uma surra desse último. Para se ter uma ideia, em outubro último, 4.743 Corolla foram vendidos, contra 1.482 Civic.
A ausência de valores exatos foi minimizada pela informação de que os preços de todas as versões, em média, serão "praticamente iguais" aos praticados na atual geração do Civic. Assim, pode-se esperar que a nova geração do carro comece próxima dos R$ 66.660 pedidos atualmente pela versão LXS manual e se estenda com amplitude de R$ 20 mil até perto dos R$ 86.750 cobrados pela versão top EXS. As versões do Civic de nona geração serão as mesmas do 2011: LXS, LXL e EXS.
MUDANÇAS A GRANEL
A oitava geração do Civic rompeu com o visual careta e com a mesmice vista no segmento dos sedãs médios. Isso gerou frutos instantâneos para a Honda, mas também criou um problema: o seu sucessor -- a nona geração -- não poderia, nem teria como, revolucionar o segmento. Isso poderia fazer com que, caso houvesse somente alterações na carroceria, o Civic 2012 passasse por mera reestilização do modelo 2011.
As mudanças na dianteira requerem alguma dose de atenção para serem identificadas. Os faróis afilados continuam lá, porém num formato mais anguloso. Os para-choques perderam o aspecto "gordinho" em prol de cunhas e linhas mais agressivas, o que reforça a esportividade. A grade central é nova e, nas versões LXL e EXS, têm acabamento em preto brilhante em sua porção inferior.
A traseira ficou com a maior quantidade de mudanças. Saem as lanternas que invadiam a tampa do porta-malas e entram peças que ocupam somente as extremidades da carroceria, iguais às do Civic 2012 norte-americano. No Brasil, entretanto, elas têm prolongamentos na tampa do porta-malas, com a função de refletores. Qualquer comentário sobre essa peculiaridade é uma questão de gosto.
QUEM VÊ CARA...
As novidades do Civic 2012 vão muito além da aparência. De acordo com a Honda, o novo modelo tem 95% dos componentes diferentes em comparação com a geração passada. A lista passa por itens que ficam longe dos olhos, como os novos materiais na estrutura do carro -- mais leves, sem perda de rigidez -- e por outros bem aparentes. O carro cresceu 1,6 centímetro em comprimento e perdeu 3 centímetros de entre-eixos. Isso não significa, entretanto, que o espaço interno diminuiu, já que a parede corta-fogo foi remanejada. Ainda em questão de dimensões, o principal ponto crítico do carro foi consertado: o porta-malas cresceu cerca de 100 litros: agora acomoda 449 litros de bagagem.
O motor também mudou. Continua sendo um 1.8 16V flexível, que rende 140 cavalos com etanol. Já a potência obtida com gasolina é de 139 cv, um ganho (irrisório) de 1 cv. Alterações no comando de válvulas variável, novos pistões e medidas para a redução de atrito interno tornaram o funcionamento do motor mais linear. O câmbio automático (opcional nas versões LXS e LXL e de série na EXS) ganhou novas relações de marcha, a direção elétrica tem motor mais leve e todas as versões do carro contam com o botão "Econ", que controla parâmetros como a abertura da borboleta do acelerador, o funcionamento do ar-condicionado e do cruise control e a faixa de rotações na qual ocorre as trocas de marchas. Segundo a Honda, isso tornou o Civic 2,2% mais econômico.
RECHEIO FARTO
O motorista que não perceber mudanças no comportamento do motor do carro certamente vai notar que o Civic ganhou, e muito, no quesito equipamentos. Desde a versão mais básica o carro conta com freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuidor eletrônico de frenagem), airbag duplo, ar-condicionado digital automático, vidros elétricos de um toque para todas as portas, volante multifuncional, central de informações i-MID (controla sistema de som e informações do carro por meio de uma tela de 5") com entrada USB e auxiliar e quatro alto-falantes, câmera de marcha-a-ré (sim, você leu direito: câmera de ré), piloto automático e rodas aro 16".
Painel digital continua tendo dois andares, mas ficou mais elegante e funcional, servindo como símbolo de uma fase em que o Honda Civic ganha até câmera de ré em todas as versões
Na versão top, EXS, o Civic também tem faróis de neblina, airbag lateral dianteiro, sistema multimídia com tela no centro do painel, que também engloba navegador por GPS, conexão Bluetooth para celulares e sistema de controle de estabilidade e tração. Esse último item, já presente no Civic EXS da geração passada, agora atua também na direção elétrica, auxiliando o motorista no contraesterço caso o carro saia de traseira. A lista completa de equipamentos pode ser vista aqui.
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O lançamento do Civic ocorreu no autódromo da Fazenda Capuava, em Indaiatuba, interior de São Paulo, onde foi possível avaliar somente a versão EXS. Mesmo não sendo um carro destinado à velocidade, o ambiente permitiu experimentar o novo comportamento dinâmico do sedã. E já ao entrar no carro foi possível notar um ponto no qual ele melhorou: visibilidade. A coluna dianteira (chamada de "A") ficou mais fina e agora não atrapalha o campo de visão do motorista.
Os bancos apoiam bem o corpo e têm regulagem de altura, profundidade e inclinação. Já o volante adorou um formato mais convencional e perdeu esportividade: o anterior tinha porções levemente achatadas, o que garantia uma pegada melhor. O mesmo vale para a alavanca de freio de mão, que não tem mais o formato de "Z".
O painel continua com dois andares, mas foi reformulado. Não há mais o inconveniente de, dependendo da posição do banco e do volante, ter o aro da direção bloqueando a visualização do velocímetro, que continua digital. Quando o modo Econ está ativado, a porção superior dos instrumentos apresenta uma indicação gráfica que, ao ficar verde, "parabeniza" o motorista por uma condução mais econômica. Com esse modo ativado, é notável o comportamento calmo do carro. As acelerações são mais lineares e o câmbio espera o giro subir o mínimo necessário para que uma próxima marcha seja engatada.
Com essa função desativada, o Civic tem reações mais ariscas no acelerador, porém mais suaves que as encontradas na geração anterior. O desempenho é bom e o carro parte da inércia sem qualquer tipo de lentidão. O Civic 2012 também apresenta um ganho em relação ao modelo antigo no quesito estabilidade. De forma geral, o sedã é mais "pregado" no chão do que o seu antecessor, que saía de frente em excesso. Vale lembrar que, entre os sedãs médios vendidos no Brasil, o Civic é um dos poucos equipados com suspensão independente nas quatro rodas, um refinamento técnico que melhora conforto e segurança. A versão avaliada também contava com o controle de estabilidade e de tração (VSA). Em comparação com a oitava geração do carro, o VSA agora é muito mais atuante e prudente, entrando em ação ao menor sinal de problemas.
Ao final do teste, é possível concluir que o Civic de nona geração não é uma revolução como foi o seu antecessor. Trata-se, sim, de uma evolução em diversos aspectos, seja em comportamento dinâmico, área na qual o carro tornou-se muito mais seguro e previsível, seja quanto ao nível de equipamentos. A nona geração pode não ser aquela que vai levar o Civic de volta ao topo. Mas que vai dar trabalho aos concorrentes, isso vai.
Viagem a convite da Honda do Brasil
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