Peugeot 408, ruim de loja, mostra seu valor até na versão básica
Na indústria automotiva há variados exemplos de descaso com um produto ou um segmento do mercado. Recentemente, lembramos que a Fiat deixou o Palio à deriva por anos, enquanto o Volkswagen Gol se transformava num carro novo e melhor; a Chevrolet mantém desde sempre a mesma Zafira e, quando mexeu na Meriva, foi para estragá-la com o câmbio Easytronic -- agora prepara um único carro para enterrar esses dois na mesma cova. Já a Peugeot merecia uma boa puxada de orelha por não perceber a tempo que os sedãs médios são um front crucial na guerra do mercado brasileiro (e, de resto, em qualquer país cuja economia tenha entrado nos eixos).
No Brasil, o sedã derivado do hatch 307 nunca cumpriu seu papel a contento. Para a crítica automotiva, a principal razão era seu visual sem graça, com uma traseira inspiradora de bocejos. Seu primo menor, o 207 Passion, também não é dono do "bumbum" mais elegante do mercado, diga-se. Enfim, à medida que novos três-volumes médios iam chegando ao Brasil, o 307 fossilizava-se um pouco mais.
O primeiro sinal da reação da Peugeot veio no Salão do Automóvel de São Paulo de 2010, quando o estande da marca francesa exibiu um 408 pré-série. O "8" é a geração do carro -- ele é contemporâneo do 308, 3008 e 508. E o "4" é relativo ao porte. De uma tacada, o sedã, projetado para mercados emergentes por europeus e chineses, engoliu o 307 pelo tamanho maior e depois o tirou de linha, além de ter barrado também o 407.
VÍDEO CHINÊS 'EXPLICA' O 408
Deu certo? A julgar pelos números de emplacamentos nacionais compilados pela Fenabrave (associação das concessionárias), não mesmo. No fechamento de outubro, o 408 contabilizou 659 unidades vendidas. Ficou em 9º lugar no segmento dos sedãs médios -- citamos o recorte de um mês apenas porque o modelo começou a ser vendido em abril. O que, aliás, não é desculpa para apanhar de coisas como Fiat Linea e Nissan Sentra. Ou para vender metade do que vende o Renault Fluence.
Qual o problema do 408? Não sabemos dizer.
UOL Carros experimentou por uma semana a configuração de entrada do sedã médio, a Allure, dotada de câmbio manual. No lançamento, o preço anunciado para este carro foi de R$ 59.500, conjugado a agrados como três anos de garantia, preço fechado nas três primeiras revisões somando R$ 730 -- depois, a marca chegou a oferecer temporariamente três revisões de graça -- e incentivo à troca, supervalorizando o seminovo dado como entrada. O 408, ainda por cima, é o atual campeão de reparabilidade no segmento.
O preço oficial ainda é esse, mas em feirões de fábrica há ofertas com o famoso "juro zero" e, na primeira concessionária Peugeot de São Paulo que consultamos nesta terça-feira (8), bastou insistirmos um pouco para receber a oferta de uma unidade branca por R$ 56 mil e uma preta ou prata por R$ 57 mil. Se por telefone foi fácil assim, imagine pessoalmente.
MUITA COISA BOA
O "x" da questão é que o 408 é um ótimo carro. Por exemplo: geralmente é cansativo dirigir carros de motor 2.0 com câmbio mecânico, porque a tendência é que o sistema seja um tanto duro -- especialmente para o pé esquerdo. No entanto, neste sedã os engates são fáceis e exatos, combinando à perfeição com um pedal de embreagem suave. Pela experiência prévia com a versão automática, garantimos que pagar R$ 5.000 a mais por ela é rasgar dinheiro.
O propulsor é bicombustível e entrega 151 cavalos de potência com etanol, com torque de 22 kgfm. O motorista nunca fica na mão em saídas e retomadas (fundamentais para as ultrapassagens), e atinge velocidades de cruzeiro interessantes, na faixa dos 120 km/hora, com naturalidade -- isso porque o 408 pode ir muito além, segundo dados da Peugeot: a máxima é de 212 km/h, e a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 10,4 segundos.
Somando o motor bem disposto ao câmbio de fácil operação, à direção eletro-hidráulica bem direta e ao conjunto de suspensões com acerto firme (mas sem "bateção" de roda e com um toque de conforto para quem vai atrás), obtém-se como resultado um comportamento com certo toque de esportividade. Dentro do segmento, o 408 está mais para Volkswagen Jetta do que Toyota Corolla.
O sedã também tem um tamanho de respeito, com 4,69 metros de comprimento e excelentes 2,7 metros de entre-eixos, medida que permite um arranjo bastante confortável para quatro adultos na cabine. Verdade que há muito plástico a bordo, e os revestimentos são de tecido. Mas há texturas macias, e o evidente capricho no acabamento faz com que o conjunto de instrumentos e comandos, bem simples, passem impressão de sobriedade em vez de avareza. Caprichado, com amortecedores externos regulando a abertura sem roubar espaço da bagagem, o porta-malas recebe bons 526 litros.
Vale destacar alguns itens de série da versão Allure: para a segurança, há airbags frontais e freios com ABS (antitravamento), auxílio em emergências e repartição eletrônica da força; para o conforto, vidros, trava e retrovisores com acionamento elétrico, porta-luvas com refrigeração, sistema de som com entrada USB e ajustes de posição para o banco do motorista e a coluna de direção. As rodas de série são de liga-leve, com aro 16".
O QUE HÁ DE RUIM?
Há duas ressalvas a fazer: num carro do porte do 408, o sensor de estacionamento deveria ser obrigatório -- mas ele só vem de fábrica na versão Féline (que, quando dotada de transmissão automática, possui o dispositivo também na dianteira). E não é possível que a Peugeot não tenha se tocado que o generoso envidraçamento dianteiro, o qual garante ao 408 uma visibilidade de minivan, é ambivalente: os braços nus do motorista vão cozinhar em dias de sol. Faltou um tratamento -- qualquer tratamento -- de proteção.
O consumo aferido pelo computador de bordo, ao longo de 713 km de uso do 408 (70% em estrada e 30% em cidade), ficou em 7,15 km/litro de etanol. Acende-se a luz amarela: este número poderia ser melhor. Mas não é desastroso.
Levando em conta o trem de força de respeito, o conteúdo digno e o visual imponente (que respeita a tradição "felina" da Peugeot, mas resolve o desenho da traseira com belas lanternas horizontais), o 408 é um produto que deveria estar melhor situado entre os sedãs médios. Verdade que, se essa versão Allure manual estaciona em sua garagem por um preço "baixo" (notem as aspas, por favor), a top Griffe A/T já bate nos habituais e absurdos R$ 80 mil e pode dar o viés de baixa ao desempenho da gama -- mas é assim com todos os modelos do segmento.
Ou seja: depois de provar e aprovar esse bom 408 Allure, entendemos menos ainda o porquê de as vendas do modelo serem tão medíocres.
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