Marcas antecipam nova Revolução Francesa em Frankfurt
Citroën, Peugeot e principalmente a Renault querem mudar o mundo automotivo nos próximos anos e dominá-lo, se possível, ainda que não o digam com todas as letras. As marcas francesas ainda estão distantes das gigantes Toyota, GM e Volkswagen, mas suas armas para tentar inverter o jogo são carros quase sempre de uso urbano, e adoção massiva de tecnologia híbrida ou elétrica, conforme fica claro em cada um dos respectivos estandes do Salão de Frankfurt, que abriu suas portas ao público nesta sexta-feira (16), após dois dias dedicados à imprensa e outro a autoridades e convidados.
Sob olhar atento do chefão Carlos Gohsn, presidente do grupo que controla a aliança além da Renault, a japonesa Nissan/Infiniti, a romena Dacia e a coreana Samsung, a marca do diamante mostrou um produto final, a nova geração do Twingo. O carrinho conhecido do Brasil em sua primeira geração (aquela de cara quadrada e bancos que pareciam o sofá da casa da tia) mudou muito desde então e agora é o primeiro a assumir a nova identidade da marca, projetada pelo holandês Laurent van der Acker e antecipada pelo conceito DeZir em 2010.
O novo "rosto" da Renault tem capô alto e faróis unidos por um friso, como se fossem asas de um avião; os faróis de neblina são enormes, mas não tanto quanto a tomada de ar, colossal. Por dentro, o aproveitamento é máximo, com painéis simétricos, tendo os instrumentos e equipamentos ao centro -- escancarando a plataforma aproveitada para diferentes projetos em diferentes locais do mundo, bastando apenas posicionar o volante no lado adequado da cabine. Os bancos seguem tendo aspecto de sofá retrô, mas o motor é mais moderno que de muito carrão por aí, um 1,2 litro de 75 cavalos capaz de percorrer 17 km com um único litro de gasolina.
Mas não será o Twingo o arauto do futuro. O real interesse do grupo está no plano elétrico: oficialmente, a aliança pretende reduzir suas emissões totais em 10% até 2016, algo que soa ecologicamente correto, samaritano até. Na prática, a aliança quer ser líder do mercado de automóveis elétricos -- quando e se este vier a se estabelecer -- e não poupa investimentos e ligações para isso.
Enquanto a Nissan celebra o sucesso de vendas do hatch elétrico Leaf sobre o rival americano Chevrolet Volt, a Renault mostra uma frota completa de soluções, sejam baratas e com baixo custo de manutenção ou caras.
Além de versões Z.E. (de "emissão zero" em francês) de carros comuns (há até um do sedã Fluence, já conhecida), a marca mostrou os conceitos Fredzy, van comercial ou de passageiros que pode dar origem a uma nova geração do Kangoo, e Twizy, a nova febre europeia para pequenas distâncias em ruas apertadas (Opel, Audi, Volks, BMW e smart têm projetos semelhantes): uma espécie de quadriciclo (a marca chama de minicarro, outros debocham e dizem ser uma moto com teto e duas rodas a mais), que vai custar menos de 7 mil euros, alcançar velocidade máxima de 80 km/h e, segundo projeta a fabricante, poderá dispensar a habilitação do condutor.
Além disso, há um acordo de cooperação com a alemã Daimler: a Infiniti, divisão de luxo da Nissan, vai compartilhar o desenvolvimento da nova plataforma para a família de carros compactos que a Mercedes-Benz está prestes a criar -- parece algo normal dentro do universo automotivo, mas já provoca discussão entre os japoneses, que acreditavam que todo carro da marca deveria ser construído no Japão; além disso, os novos produtos da smart, a divisão descolada da Mercedes que produz o fortwo, terão arquitetura compartilhada com a Renault... lembra do painel do Twingo? Isso explica tudo.
POR UM OUTRO MUNDO
Citroën e Peugeot, ramificações da PSA, apostaram na tecnologia Hybrid4 de carros com motores a diesel movendo as rodas dianteiras e motores elétricos acoplados ao eixo traseiro, criando uma espécie de tração integral. Na Peugeot, o resultado são a 508 RXH, produto real de 40 mil euros, com motor a diesel de 163 cavalos e elétrico de 37 cv, concebida para enfrentar as peruas médio-grandes alemãs Mercedes Classe E e BMW Série 5, e o conceito HX1, que pode ser a mesma station, mas numa versão futurista e totalmente elétrica.
Perua RXH, derivada do sedã médio-grande 508, enfrenta alemãs com motores a diesel e elétrico
A Citröen monopolizou seu estande com carros da linha DS, que podem ser personalizados ao extremo. Segundo a marca, o DS3 (baseado no C3 europeu e prometido para estrar no Brasil até 2012) é um sucesso, com 100 mil vendas em 18 meses, ao passo que o DS4 (derivado do C4 europeu) já tem 14 mil pedidos feitos. O mais novo membro da família é o DS5, hatch grande e intrigante que conta com os mesmos 200 cv totais de potência e pode ter o interior, que originalmente tem jeitão de caça com seus inúmeros botões e painéis futuristas, totalmente modificado ao gosto do cliente.
O mais interessante, porém para está num cantinho, parado. O conceito Tubik é a releitura do Tub (apelido dado ao utilitário francês H1 do começo do século passado, mais ancestral que a alemã Kombi) e pode ser encarado de duas formas: uma van para até nove pessoas, substituta da C9, que pode ter os assentos configurados de acordo com a necessidade e permite diversas opções de interação/comunicação/diversão aos ocupantes; a outra possibilidade é a de um veículo que permita a pessoas abandonarem seus carros, ainda que por um dia, e dividirem seus trajetos até o próximo compromisso a bordo de um veículo espaçoso, confortável e conectado. A integração, aliás, já está em curso na França e na Alemanha, através do serviço Multicity da Citroën: sem pagar nada, a pessoa digita de onde vem e para onde vai, o sistema indica rotas e alternativas para quem quer ir de carro, mas também (e aí está o diferencial) para quem planeja utilizar outras formas de transporte, do táxi a bicicleta, do ônibus ao metrô, do carro alugado (que pode ser da Citroën ou de outra marca) ao avião (o serviço integra companhias aéreas e até hotéis no destino). A grande sacada do Multicity está no fato de ser atrativo até mesmo para os patrulheiros ideológicos que colocaram o carro, que é apenas um tipo de transporte, como símbolo do que há de pior na sociedade atual.
Segundo executivos da marca, o sistema não seria complicado de ser adaptado ao Brasil, mas estaria mais engessado ao pacote de serviços oferecidos aos clientes da marca. Nossa realidade ainda não é tão revolucionária assim.
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