Ford Ka 2012 fica mais barato e ajeitado para voltar a ser popular

Quem já teve um Ford Ka da primeira geração, apelidado por alguns de "joaninha", sabe como o carrinho era interessante (não lembra como era? Reveja no Best Cars). Mesmo com visual controverso, era harmonioso, tinha boa performance mecânica, fazia curvas como poucos e mostrava comportamento ideal para a cidade, ágil e econômico. É este histórico glorioso que a Ford pretende retomar com a remodelação que deu origem à linha 2012 do Ka, lançada no começo de julho e com preço inicial de R$ 24.500 para o modelo 1.0.
Depois da fase redonda, o Ford Ka chegou à caretice na segunda geração, lançada em 2009 com visual conservador exclusivo do nosso país. Quadradão e pesado, entrou em decadência: a princípio, o estilo mais "fácil" ajudou a vender, mas o comportamento que deixava a desejar, erros de projeto como o que provocava o "barulho de mar" do tanque de combustível e irritava ocupantes, e o consumo elevado cobraram sua conta. Ultimamente, o modelo vende menos que o irmão maior Fiesta RoCam e come poeira dos rivais Volkswagen Gol G4, Mille/Uno e Celta; há ainda a ameaça de chineses mais baratos e mais equipados, como o Chery QQ.
A estratégia da Ford não muda a essência do Ka atual, mas prega um retorno da ousadia: além do preço inicial quase mil reais mais barato que o da tabela anterior, a plástica adotada tenta deixar o Kazinho novamente atraente aos olhos do grande público. O resultado estético da mudança pode ser conferido nas imagens abaixo, clicadas por Murilo Góes:
MUITOS PACOTES
A Ford acabou com o rodeio e agora só entrega o motor 1.6 (107 cavalos com etanol) numa versão chamada Sport, cheia de opcionais e cores estridentes (mais detalhes aqui). Como o grande público sempre foi de Ka 1.0, ela é o carro-chefe da linha 2012. A grande questão é que o preço competitivo inicial entrega um carro muito básico -- se quiser mais, o consumidor tem de optar entre mais de uma dezena de pacotes de itens que elevam a conta acima da faixa dos R$ 30 mil. Resumindo tudo, temos:
- Ford Ka 1.0 2012 - R$ 24.500: traz de série conta-giros, relógio digital integrado ao hodômetro e para-sóis com espelho.
- Ford Ka 1.0 Fly 2012 - R$ 26.590: travas e vidros elétricos, aquecedor, limpador e desembaçador traseiros de série.
- Ford Ka 1.0 Pulse 2012 - R$ 29.590: kit Class (ar condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, apliques de estilo na carroceira e habitáculo) de série; rodas de liga leve, som MyConnection e airbags são opcionais.
- Ford Ka 1.6 Sport - R$ 35.900: Todos os itens anteriores de série; airbags opcionais.
O NOVO KA NA PRÁTICA
UOL Carros ficou uma semana com uma unidade do Ka na versão Pulse, a mais cara com o motor 1.0 de 68/72 cv com gasolina e etanol, respectivamente. A convivência foi curta, mas cheia de altos e baixos. O novo Ka ficou inegavelmente mais bonito ao assumir o visual da escola Kinetic: o "bocão" da tomada de ar, a falsa fenda acima do logo oval azul e os faróis escurecidos deixaram o hatch mais arrojado. Aumentou também o senso de identidade, importante para a marca, já que o carro parece uma versão reduzida do Fiesta RoCam (sendo mais equilibrado que este) e mesmo do New Fiesta. Por dentro, porém, ainda deixa a desejar.
Ka adotou padrão Kinetic, perdeu grade frontal, ganhou 'bocona' e seta no retrovisor; agora há maior identificação com os irmãos maiores Fiesta RoCam e New Fiesta
Os novos padrões de tecido deixaram o interior mais arejado, mas o acabamento espartano mantém a frustração: mesmo equipado com o pacote Class e chegando perto dos R$ 32 mil, o Ka expõe sua lataria aos ocupantes da cabine; trata mal passageiros mais altos (ou mais baixos) que o padrão, por não ter qualquer ajuste de cintos, bancos e volante; e não informa o motorista sobre consumo ou mesmo temperatura do motor. Abrir o porta-malas revestido com manta de baixa qualidade é constatar que o carro popular da Ford já viveu tempos de maior prestígio. Pior: a versão testada tinha ar condicionado e airbags, opcionais, mas não oferecia rádio e obrigava a ajustar espelhos retrovisores na mão, sem comandos elétricos. Pecados assim têm levado o consumidor de carros populares a se sentir no paraíso dentro de modelos chineses.
Já faz tempo que a Ford resolveu o problema de isolamento acústico do tanque de combustível, acabando com o barulho de onda que invadia a cabine, mas isso não quer dizer que o interior do Ka é um ambiente tranquilo. Mesmo com a suspensão traseira recalibrada para oferecer mais suavidade aos ocupantes, ruídos e chacoalhões são a constante no carrinho. O lado bom é que este incômodo acaba compensado pelo bom comportamento em curvas e outras manobras, algo que os rivais orientais não têm.
Aspecto geral foi mantido do antigo (esq.) para o novo (dir.), mas novos tons de revestimento e iluminação conversam melhor entre si; volante com miolo arredondado é da versão com ABS
De fato, o Ka é um carro agradável no ambiente urbano. A direção bastante esperta, apesar do volante grandalhão, deixa o carrinho ágil em meio ao tráfego pesado. O câmbio tem engates precisos, a embreagem é bem posicionada e ambos conversam bem com o motor Zetec RoCam -- esse bate-papo amigável facilita a vida do motorista no anda-e-para.
O problema, porém, é que o Ka é pesado demais, com seus 943 quilos, e tem pouco fôlego. O torque máximo de 9,1 kgfm com etanol é baixo (o novo Uno, por exemplo, entrega quase 10 kgfm) e chega tarde (5.000 giros), deixando o motorista em saia-justa nos momentos em que performance é necessária: na saída do semáforo, tudo bem, mas encarar ladeiras íngremes, entrar na via expresa vindo da pista local ou pegar a estrada com seus momentos de ultrapassagem de carreta torna-se quase atividade de risco. Com o carro cheio e o ar-condicionado ligado em dia de calor, então, é pedir para passar vergonha.
Na ficha técnica, a Ford promete consumo pouco superior a 10 km/l de etanol, mas na prática tivemos pouco mais de 260 quilômetros de autonomia -- percorridos parte em trecho urbano, parte na estrada -- com o tanque de 45 litros. O rendimento inferior a 6 km/l pode ter sido fruto do esforço para fazer o Kazinho espantar a preguiça nos momentos de maior necessidade. Nesse ponto, fica claro o quanto o Ka antigo era mais equilibrado e redondinho.
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