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Brasil deve receber os Fiat 500 feitos no México ainda este ano

<b>Sérgio Marchionne e um Fiat 500 durante palestra para funcionários da Chrysler</b> - Reuters - 10.6.2009
<b>Sérgio Marchionne e um Fiat 500 durante palestra para funcionários da Chrysler</b> Imagem: Reuters - 10.6.2009

FERNANDO CALMON

Colaboração para UOL Carros

27/01/2011 17h02Atualizada em 27/01/2011 17h17

Fiel ao seu estilo direto e peculiar nas respostas, Sergio Marchionne, principal executivo da Fiat e da Chrysler, admitiu em entrevista concedida em Detroit (EUA), durante o salão do automóvel local, que a fábrica de Toluca, no México, ainda não começou a produzir o Fiat 500 com câmbio automático, versão fundamental para sua comercialização nos EUA, já que o automatizado desagrada aos americanos. A Fiat procurou a japonesa Aisin para fornecer o automático convencional com conversor de torque, disponível só em março próximo; portanto, trata-se de uma pequena falha de planejamento para a fábrica -- que já foi apenas da Chrysler.

Como esse item não seria um problema no Brasil, onde o 500 é vendido com transmissão manual ou Dualogic, era natural perguntar a Marchionne quando, afinal, o carro fabricado no México chegaria ao nosso país. Sem imposto de importação devido ao acordo tarifário, pode-se projetar uma queda de no mínimo 20% no preço do modelo, que atualmente é importado da Polônia.

"Eu quero o 500 mexicano agora no Brasil", disparou o executivo.

Dá para entender a pressa -- mas os representantes da Fiat brasileira também se apressaram em explicar que, antes de meados deste ano, não seria possível contar com o Cinquecento mexicano no país. Marchionne usou o termo "agora", no lugar de "em breve". Mas já é possível cravar que o carro chegará do México ao Brasil com as três opções de câmbio: manual, Dualogic e automático.

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    Novas rodas estão entre os itens reformulados para o 500 dos Estados Unidos

"Também vamos exportar o 500 para a China", revelou o executivo italiano. Esse é um dado novo na estratégia internacional da Fiat. Provavelmente, a marca enfrenta dificuldades para ocupar a capacidade de produção de 100.000 unidades/ano da planta mexicana. A previsão até agora era de vender 50% na América do Norte e 50% na Américas Central e do Sul.

EUA MUDARAM O 500

Independentemente de o 500 mexicano chegar ao Brasil em março, como quer Sérgio Marchionne, ou em julho, como a Fiat de Betim planeja (ou planejava...), o fato é que, além do preço mais convidativo, algumas características deste revival modernizado do carro que motorizou a Itália a partir de 1957, mudaram em função do mercado americano.

As modificações incluíram exigências específicas das normas de segurança veicular dos Estados Unidos. As mais visíveis são as quatro meia-luas que se assemelham a catadióptricos (refletores noturnos) nas extremidades laterais dos para-choques dianteiro e traseiro. Mesmo que o veículo tenha luzes repetidoras de sinalização lateral, como o 500 original, há necessidade de posicionamento nesses pontos. Com um pormenor: além da superfície refletora, também precisam de lâmpadas internas. Ou seja, ao acionar o comando de mudança de direção as três luzes laterais piscarão.

O tanque de combustível também sofreu alterações para atender a legislação de lá. A Fiat aproveitou e aumentou sua capacidade de 35 litros (baixa também no mercado brasileiro) para 40 litros. As rodas são novas.

No interior, os assentos dos bancos dianteiros são um pouco mais largos (para satisfação dos massudos americanos) e o porta-luvas ganhou uma tampa antes inexistente. Os porta-copos também têm maiores dimensões.

Essas e outras mudanças certamente refletiram no custo de produção. O 500 básico parte nos EUA de US$ 15.500, podendo chegar a perto de US$ 19.000 nas versões completas. É caro, mesmo para os padrões de lá. Tomando essas referências a Fiat brasileira, talvez, tenha de retirar alguns equipamentos para vendê-lo aqui por R$ 50.000, segundo se prevê.
(FC)

Entretanto, as vendas do Cinquecento em 2010 no mercado brasileiro (70% da região sul-americana) alcançaram apenas cerca de 1.200 unidades. Mesmo se o preço da versão de entrada baixar para menos de R$ 50.000 (hoje, R$ 60.000), atingir 35.000 carros/ano parece um objetivo bastante otimista, talvez inalcançável. A China seria a alternativa.

Marchionne declarou não almejar "conquistar o mercado americano com o Fiat 500, e sim atuar em áreas específicas". Nos planos de Toluca estão as versões conversível, Abarth e elétrica, além de uma de cinco portas (contando a tampa traseira) cujo esboço já apareceu em publicações europeias. Fontes da filial brasileira da Fiat dizem que o 500 de cinco portas poderia aumentar o interesse pelo modelo entre nós, por disponibilizar mais espaço interno.

RETORNO AOS EUA E NOVA FÁBRICA
A Fiat saiu dos EUA em 1983 por problemas de qualidade. Agora, além do retorno da marca, o grupo confia que a Alfa Romeo, a partir de 2012, poderá conseguir resultados melhores. A rede de concessionárias Chrysler, tanto nos EUA como no México (onde o 500 também enfrenta dificuldades), responderá pela comercialização e assistência do subcompacto.

Durante a entrevista em Detroit, Marchionne comentou sobre a nova fábrica da Fiat em Pernambuco, em 2014.

"Desde 1993 não construímos no mundo nenhuma unidade fabril inteiramente nova como essa. É fundamental para atendermos a demanda brasileira. Nossa previsão para 2015 é o mercado total atingir 4,5 milhões de veículos". Ele respondeu sem rodeios a uma pergunta específica sobre a arquitetura do modelo a ser produzido no Nordeste: "Vai utilizar a nossa nova plataforma mundial para carros pequenos".

Isso significa que a base será a do novo Panda, o subcompacto de sucesso da Fiat que também originou o 500. Essa esperada nova geração sofreu atrasos, porém o lançamento está confirmado na Europa, no final deste ano.

Marchionne foi menos incisivo sobre a possibilidade de o Novo Uno ser produzido em alguma instalação da Fiat fora do Brasil: "Acho improvável".

Também mostrou cautela sobre a consolidação futura dos grandes conglomerados automobilísticos, que ele enumerou indiretamente em declaração polêmica há dois anos. Na época previu, sem citar marcas, um grande grupo americano, um franco-nipônico, um alemão, dois asiáticos e um europeu. "Continuo acreditando que restarão seis grandes grupos mundiais", encerrou.