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'Existe um certo preconceito contra carro chinês', afirma presidente da JAC

Habib ao lado da minivan JAC J6: empresário faz aposta dupla na força de Brasil e China - Divulgação
Habib ao lado da minivan JAC J6: empresário faz aposta dupla na força de Brasil e China Imagem: Divulgação

CLAUDIO DE SOUZA

Editor de UOL Carros

07/12/2010 20h52Atualizada em 08/12/2010 16h03

O empresário Sérgio Habib, 52 anos, foi um dos responsáveis pela mudança nos rumos da indústria automotiva no Brasil, no começo dos anos 1990. Depois da abertura das importações, medida que, na prática, quebrou o confortável oligopólio das "quatro grandes" montadoras (Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford), Habib começou a trazer carros da francesa Citroën. A marca se estabeleceu firmemente no Brasil, a ponto de fabricar carros aqui (ao lado da Peugeot, também do grupo PSA), e o empresário virou seu presidente.

Depois de ajudar a estabelecer a imagem da Citroën brasileira como uma marca "premium" -- posicionamento de mercado que tem seus prós e contras, evidentemente --, em 2008 Habib deixou a montadora. Dono de revendas de marcas como Aston Martin, Jaguar, Ford, Volkswagen e da própria Citroën, pouco depois disso anunciou um investimento de cerca de US$ 200 milhões (o dinheiro saiu do "próprio bolso", segundo contou à imprensa na ocasião) para trazer ao Brasil os carros da chinesa Jianghuai Automobile Co., mais conhecida como JAC Motors (há quem pronuncie o nome como "jéc"). Trata-se de uma fabricante de veículos com 46 anos de existência, cujo portfólio atual vai de carros compactos a caminhões pesados.

Habib vai abrir em março de 2011, simultaneamente, 48 revendas da JAC no Brasil -- para quem é de São Paulo, vale reparar nas obras já bem avançadas das unidades das avenidas Rebouças e Sumaré, na zona oeste, não por acaso ao lado de revendas da Citroën. Uma das lojas, localizada num shopping da zona leste da capital paulista, começa a funcionar ainda este mês, na função de vitrine antecipada dos modelos que serão vendidos por aqui. Até o final do ano que vem, Habib quer ter 80 revendas no país e emplacar 35 mil unidades. Nada menos que 1% do mercado automotivo nacional.

A seguir, trechos de entrevista concedida por Habib:

UOL CARROS -- Várias marcas chinesas já operam ou vão operar no Brasil. Nenhuma delas, no entanto, chega com uma estrutura de venda e pós-venda como a da JAC. Do ponto de vista estritamente empresarial, não seria mais vantagem para o senhor abrir um punhado de concessionárias de marcas consagradas, em vez de apostar numa marca chinesa desconhecida no Brasil?
SÉRGIO HABIB -- Quando se trabalha com uma marca consagrada do mercado, enquanto franqueado, apenas seguimos os preceitos da montadora no que se refere ao marketing, preços, vendas, pós-vendas, serviços, entre outros. Acumulamos esta experiência a partir de 1991, quando iniciamos as importações da Citroën para o Brasil. Ao operarmos com uma marca como a JAC, que ainda tem de conquistar seu espaço no mercado, existe uma maior flexibilidade de praticarmos políticas inovadoras em vendas. Elas podem ser nos preços, ou mesmo em garantias e compromissos com os clientes. São diferenciais num mercado cada vez mais competitivo.

UOL CARROS -- Os carros chineses chamaram muita atenção no Salão do Automóvel, mas o que mais se ouvia nos estandes eram críticas ao design e, principalmente, ao acabamento e qualidade dos materiais. A JAC certamente não era a mais criticada, mas nem por isso passou incólume. Como resolver esse problema junto a um consumidor acostumado com um padrão automotivo (um pouco) melhor? Só preço baixo e conteúdo maior bastam?
HABIB -- Existe um certo preconceito em relação aos carros chineses. Sobre a JAC Motors, posso afirmar que são veículos de qualidade assegurada. Os carros que serão comercializados aqui no Brasil estão sendo customizados para atender o exigente cliente brasileiro, com alterações que vão desde elementos estéticos até adaptações necessárias na mecânica. Já somamos mais de 2 milhões de quilômetros rodados com os carros aqui no Brasil, para nos certificarmos disso tudo. Além do mais, apesar de importados, os carros da JAC contarão com um moderno centro de distribuição de autopeças no Brasil, garantindo agilidade e confiabilidade na hora dos serviços.

Vejo ainda um grande ciclo de crescimento para os chineses e para os demais países BRIC

Sérgio Habib, presidente da JAC Motors


UOL CARROS -- A China apresenta hoje um crescimento econômico exuberante, mas é um país não-democrático, socialmente desigual e aliado ou próximo a verdadeiros barris de pólvora, como a Coreia do Norte. É um sério candidato à instabilidade política nos próximos anos. O senhor levou isso em conta ao fechar seus contratos?
HABIB --
A China tem apresentando um crescimento econômico sólido, o que implica no desenvolvimento de uma sociedade. Vejo ainda um grande ciclo de crescimento para os chineses e para os demais países BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] . Em relação à instabilidade política, creio que este é um risco para inúmeros países, mas principalmente para aqueles que não estão atentos à questão da sustentabilidade nos negócios.

UOL CARROS -- De que forma sua experiência com a Citroën poderá ajudar o senhor na JAC?
HABIB --
Em 1991, ninguém acreditava no sucesso que a Citroën teria por aqui. Hoje, tenho 20 anos de experiência nesse mercado e o Grupo SHC [empresa de Habib] possui 53 concessionárias próprias, reunindo mais de 4.000 colaboradores. Isso nos dá confiança para implantar rapidamente a JAC Motors no Brasil, que nascerá com uma rede de 48 concessionárias e, até o final de 2011, atingirá 80 revendas em todo o Brasil.

UOL CARROS -- O senhor mantém as previsões de vendas e de participação da JAC no mercado brasileiro para 2011?
HABIB --
Posso dizer que seguimos concentrados, nesse momento inicial, na meta de vender 35 mil carros até o final de 2011, número que representa 1% do mercado nacional.