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Punto Sporting agrada com adereços e motor forte, mas câmbio deve 'nervosismo'

<b>Punto Sporting traz bom conteúdo e visual mais agressivo em torno do motor E-torq 1.8</b> - Murilo Góes/UOL
<b>Punto Sporting traz bom conteúdo e visual mais agressivo em torno do motor E-torq 1.8</b> Imagem: Murilo Góes/UOL

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/08/2010 19h38

Desde julho, o Fiat Punto passa a ser um dos poucos carros nacionais com mais de duas opções de motorização. Na verdade, são quatro propulsores: 1.4 Fire, 1.4 T-Jet, 1.6 E-torq e 1.8 E-torq. Com isso, ao menos em termos de diversidade, a gama do compacto premium da Fiat dá de lavada em seus principais concorrentes, o Volkswagen Polo (dois motores, 1.6 e 2.0, este na versão GT, inimiga do Punto Sporting) e o Citroën C3 (também dois, 1.4 e 1.6). O Punto pode ainda ser equipado com o câmbio automatizado Dualogic, que rivaliza com o similar I-Motion da Volks e com o Tiptronic (automático) da Citroën.

Tido como o indiscutível "patinho bonito" num portfólio de modelos que, volta e meia, sofrem correções estéticas e/ou ajustes de versões, o hatchback Punto mantém o mesmo visual -- assinado por Giorgetto Giugiaro e decalcado em parte dos Maserati -- desde seu lançamento por aqui, em 2007. Não chega a ser um problema, já que o atual Polo hatch vem de 2006 e o C3 recebeu uma única alteração cosmética sobre o design estreado em 2003. O que cansava um pouco no Punto era, isso sim, a sensação de que se tratava de um carro com pretensões "premium" e motor banal -- o que valia tanto para o Fire 1.4 quanto para o 1.8 produzido pela General Motors.

A aquisição da fábrica paranaense da Tritec permitiu à seção brasileira da FPT (Fiat Powertrain Technologies) iniciar, em fevereiro último, a produção em larga escala de uma nova família própria de motores bicombustíveis, a qual foi batizada de E-Torq -- referência ao acerto que privilegia o torque em rotações mais baixas, ideal para situações de trânsito intenso. Para estrear os novos motores a Fiat escolheu o Punto, do mesmo modo que a Volks usa o Polo para apresentar suas novidades tecnológicas (vale notar que o Idea renovado também já é E-torq).

No lançamento, UOL Carros rodou com a versão Essence, dotada de motor 1.6; agora, experimentamos um Punto Sporting, que tem visual mais invocado, o pacote de equipamentos mais completo da gama e o motor E-torq maior, de 1,8 litro. O câmbio de nossa unidade era manual.

Sobre o desenho já bem conhecido do Punto, a versão Sporting agrega elementos que dão um toque de agressividade, como máscara negra no conjunto óptico dianteiro, ponteira esportiva no escapamento, rodas de liga de 16 polegadas, saias laterais e defletor no alto da tampa traseira. Convenhamos, não há aí nenhum ovo de colombo estético e/ou funcional quando se trata de carros "esportivados", mas o resultado é bem bacana, ainda mais num carro amarelo como o que usamos. Portas adentro, a agradável cabine do Punto oferece cintos de segurança e algumas peças (como a maçaneta das portas) na cor vermelha; os pedais têm revestimento de metal, e o volante, de couro. Curiosamente, a palavra "Sporting" é grafada na logotipia com o "R" em destaque, talvez para dar a ideia de um carro que pertença a uma (fictícia) divisão de velocidade. Mas em nenhum lugar há referência ao motor E-torq.

Outros equipamentos interessantes do Punto Sporting são ar-condicionado (a regulagem digital é opcional), volante com ajustes de altura e profundidade, faróis de neblina, apoio de braço central dianteiro, retrovisores externos elétricos, chave tipo canivete com telecomando das portas e dos vidros elétricos, airbags frontais para motorista e passageiro, freios com ABS (antitravamento), rádio com CD/MP3 integrado e comandos no volante, além de um computador de bordo com dez funções -- de leitura difícil, seu mostrador fica posicionado no centro do set de instrumentos, o qual, apesar de belo, incomoda também por colocar o conta-giros do lado direito e o velocímetro do esquerdo.

OS NÚMEROS

O Fiat Punto Sporting E-torq 1.8 responde por cerca de 8% das vendas da gama do hatchback no Brasil, segundo a marca italiana. O carro com câmbio manual custa R$ 51.200 e tem 4% dos emplacamentos, enquanto o dotado de transmissão Dualogic sai por R$ 53.730, respondendo por semelhantes 4%.

A gama começa com o Punto Attractive, que possui o agora superado propulsor Fire 1.4 -- com proposta modesta em termos de recheio, a versão custa R$ 39.290 e é a mais vendida, com 41% do mix.

A versão intermediária Essence é a única vendida com o motor E-torq 1.6 16V, por R$ 44.190 (40% das vendas), e também com o 1.8, por R$ 46.250 (5%); o câmbio Dualogic leva seu preço a R$ 48.780 (outros 5% das vendas). O T-Jet, com motor turbo e proposta de ser um "foguete de bolso", sai por R$ 64.670 e emplca 1% dos Puntos do Brasil.

No mercado em geral, o Punto é hoje o líder do segmento dos hatches médios -- de acordo com a Fenabrave, que reúne as distribuidoras de todo o país e assim define o modelo da Fiat. Até o meio deste mês foram vendidos 21.261 unidades do Punto este ano, contra 20.747 do Hyundai i30 e 17.309 do veterano Chevrolet Astra.

No geral, é um pacote respeitável para um carro cujo preço inicial é de R$ 51.200 (quase R$ 12 mil a mais que a versão Attractive, de entrada e com motor 1.4). Detectamos algumas falhas no acabamento, como o desprendimento da coifa da alavanca de câmbio e de uma peça plástica do cinto do motorista, e também certas deficiências de projeto que seria melhor não encontrar  num carro com pretensões premium -- como o fato de ser necessário enfiar a chave na fechadura para abrir o porta-malas quando se está fora do carro (não há comando remoto na própria chave). Nada que torne impossível recomendar o Punto, é claro.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O motorista e mais três pessoas vão bem acomodados no interior do hatch, que, na unidade que testamos, possuía bancos revestidos de couro. Combinados, os ajustes do assento e do volante (de ótima empunhadura) permitem ao condutor achar uma boa posição de dirigir, ressalvando a visibilidade, que definitivamente não é das melhores -- algo que a Fiat demonstra saber desde sempre, tendo aberto uma pequena vigia à frente dos retrovisores.

O motor E-Torq de 1,8 litro oferece uma curva de torque relativamente plana, atingindo seu pico -- de 18,9 kgfm -- aos 4.500 giros, com etanol no tanque. A potência é de 132 cavalos, oferecidos aos 5.250 giros. Como se vê, a melhor performance do Punto Sporting não chega tão cedo assim; é preciso pisar com certa vontade no acelerador para despertar o carro, e nas arrancadas partindo da imobilidade sente-se uma espécie de "vazio de força" até o motor encher (trata-se de um 16 válvulas) e o conta-giros passar ao menos das 2.000 rpm.

Com o veículo embalado, porém, o motor E-torq sobra e oferece até a possibilidade de uma performance quase "inadequada" ao porte do Punto -- já que, em velocidades mais altas, a carroceria sofre com a resistência do ar e apresenta oscilações laterais. Testado numa pista reta e de ótimo asfalto, o Punto 1.8 ainda pedia mais "pé embaixo" mesmo aos 185 km/h,´só que a sensação de insegurança aposentou essa ideia imediatamente. De resto, o acerto da suspensão do Punto nos pareceu bastante adequado para um carro de uso urbano e com motor relativamente forte; para dar um tempero esportivo, há um leve viés de firmeza. Nas curvas mais acentuadas o modelo mostrou boa estabilidade, com ligeira tendência ao sobresterço.

O ponto fraco do Punto Sporting, na verdade, é seu câmbio. Manual, de cinco marchas, ele é (conceitualmente) mais adequado a um "esportivado" do que o automatizado e polêmico Dualogic, o qual encarece a versão em cerca de R$ 2.500. Mas trata-se de um câmbio de cursos longos, algo "molenga" e com uma quarta marcha malposicionada, desencorajando reduções rápidas a partir da quinta pelo risco de ficar, de alavanca na mão, à procura do engate. Nisso o Punto (e a Fiat em geral) tem muito a aprender com o rival VW Polo.

Rodamos bastante com o Punto: foram 629 km, cerca de 55% em estrada e 45% em tráfego urbano. Obtivemos, sempre usando combustível vegetal, uma razoável média de 7,1 km/litro -- razoável, é claro, levando-se em conta o tamanho do motor. Na média, fica perto dos valores previstos pela Fiat , de 7,8 km/l na cidade (11,8 km/l com gasolina) e 10,6 km/l na estrada (15,9 km/l com gasolina).