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Renault Logan tenta se valer pelo interior, e também pelo motor 1.6

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

13/08/2010 08h00

  • Murilo Góes/UOL

    Estes são os 510 litros de porta-malas que justificam o jeito de ser do Renault Logan

Se a imagem acima pode parecer incomum para a abertura de uma avaliação automotiva, UOL Carros apresenta sua justificativa: mostrar o porta-malas escancarado e todo o espaço para até 510 litros de bagagem (capacidade maior que a de muito carro grande) é melhor forma de começar a falar do Renault Logan.

COISAS DAS QUAIS GOSTAMOS...

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    Quando completo, o Logan tem até comandos-satélite do rádio no volante, que conta com airbag.

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    O painel tem boa leitura e computador de bordo.

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    O console central ficou melhor sem os comandos de vidros por ali, mas o dos retrovidores sobrou...

Ou será que o visual do sedã compacto desenvolvido pela romena Dacia (subsidiária da Renault na Europa Oriental) convence alguém a comprá-lo? O fato é que desde o início de sua fabricação no Brasil, há cerca de três anos, a própria Renault tratou de enfatizar o boa capacidade de carga e o amplo espaço da cabine -- capaz de levar até cinco pessoas sem muito aperto, ao contrário do que ocorre em praticamente todo veículo compacto -- como principais qualidade do Logan. E a tática da valorização do interior em detrimento das linhas externas só mudou, um pouco, com o lançamento em abril da reestilização que marcou a chegada da linha 2011 (releia aqui).

Ao apresentar nova frente e traseira ligeiramente alteradas, a Renault expressou o desejo de vender mais e chegar a 35 mil unidades neste ano. Mas não falou em liderança do segmento ou algo semelhante. O fato é que o segundo modelo mais vendido da marca (o hatch Sandero, que deriva da plataforma do Logan, é o carro-chefe) não vai bem na tabela da Fenabrave, que representa as distribuidoras e mostra o ranking de emplacamentos no país: em julho foram 3.714 unidades comercializadas, com um total de 17.659 emplacamentos desde janeiro. Com tais números, o Logan fica atrás de todos os concorrentes (Fiat Siena, Chevrolet Classic/Corsa Sedan, VW Voyage, Chevrolet Prisma e Ford Fiesta Sedan); no retrovisor, só Renault Symbol (que, para a fábrica, não é competidor) e dois Mercedes-Benz que entram na lista por esquisitices de formulação.

Por mais que a fabricante diga ter deixado sua cria mais "moderna", ter um visual minimamente atraente é algo fundamental no Brasil, mercado em que muitos compradores ainda são obrigadas a trocar a economia de uma vida por um carro, mesmo que a transação seja a tão alardeada "compra racional". E barras cromadas, faróis diminuídos, grade mais ondulada e linha superior da tampa do porta-malas e lanternas formando o arremedo de um aerofólio melhoram, mas não transformam o apelo do modelo.

... E COISAS QUE ODIAMOS

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    Corte de gastos? A sensação de quem ninguém liga? O que explicará a falta da cobertura de borracha por toda a canaleta?

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    O espaço atrás é generoso, mas também entram ali "derrapadas" do acabamento, como pedações de estrutura e cabos aparentes.

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    O comando de vidros veio para porta, o que é bom, mas o punho vai bater contra o arco do puxador .

OUTRA DIMENSÃO 
UOL Carros testou dois exemplares do Logan 2011 por um período relativamente extenso -- 16 dias no total. Foram seis dias com uma unidade da versão Expression equipada com motor Hi-Flex de 1,0 litro, 16 válvulas, 77 cavalos e 10,1 kgfm de torque com etanol (preço inicial de R$ 30.190 mais os R$ 850 da pintura metálica). Com os opcionais do Pack Conf 1 + Pack Segurança (mais R$ 6.700), temos o valor total de R$ 37.740 por um carro com ar, direção hidráulica, travas e vidros dianteiros elétricos, computador de bordo e faróis de neblina, volante de couro, airbag duplo a freios com ABS, mas sem regulagem elétrica dos retrovisores, algo que (cá entre nós) não é muito comum em carros cedidos para teste, mas que (ainda, infelizmente) faz parte do universo de milhares de consumidores no país. (E não só dos que compram modelos populares: com o smart Brasilian Edition, carro de imagem em edição limitada e preço de R$ 50 mil, também é assim.)

A maior parte do teste e as fotos que ilustram esta reportagem, no entanto, foram realizados com uma unidade da versão Expression dotada de motor Hi-Torque de 1,6 litros, oito válvulas, 95 cv de potência e 14,1 kgfm logo às 2.850 rpm. Os opcionais incluíam a mesma variedade do modelo 1.0, mais rádio/CD/entrada AUX, comandos-satélite do som no volante, vidros elétricos para quem vai atrás e o tal comando elétrico dos retrovisores (Pack Conf1 + Pack Conf2 + Pack Roda + Pack Segurança a R$ 8.550). Completo, o tal Logan 1.6 salta de R$ 32.690 (mais os R$ 900 da pintura metálica, mais cara que no 1.0) para R$ 42.140.

Mais de 300 quilômetros rodados a bordo do modelo 1.6 e distância semelhante no 1.0 só reforçaram o que já havíamos dito no lançamento da linha: primeiro, por dentro não se nota qualquer vestígio da pequena alteração externa, apenas a sensação de ter entrada num mundo paralelo, mais espaçoso. Segundo, se você for comprar, dê preferência ao Logan com motor maior. Embora o motor 1.0 dê a impressão de ser mais esperto em saídas de faróis, o maior fôlego, agilidade e desenvoltura do 1.6 no restante do tempo valem a diferença. Num dado momento a bordo do 1.0, acelerando o que considerávamos ser "muito", bastou olhar para o velocímetro e conferir o ponteiro marcando insistentes 60 km/h: mesmo com o pé embaixo é difícil desenvolver uma velocidade decente com a motorização menor, que ainda vai te fazer implorar para subir a contento uma ladeira mais íngreme e te deixar plantado na faixa da direita em rodovias. O consumo também não foi tão diferente entre as duas configurações, nem muito bom de forma geral: 6,0 km/l com o Logan 1.0; 5,1 km/l com o Logan 1.6. Resumindo e repetindo: se comprar, vá de 1.6.

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    Visual mais "moderno" não chega a ser atrativo o suficiente, mas deixa o Logan melhor

Além da diferença mecânica, a sensação de se estar em outra dimensão (como disse um colega jornalista) surge dentro da enorme cabine do Logan -- algo que todo mundo sabe. Embora seja relativamente curto externamente (são 4,28 m de comprimento) e garanta boa manobrabilidade mesmo em espaços mais apertados (algo fundamental em grandes centros e suas vagas pequenas), seus 2,63 m de espaço entre-eixos organizam cinco pessoas decentemente. Só parece não haver espaço mesmo para o punho do motorista que tentar abrir/fechar os vidro elétricos -- a nova posição dos comandos (na porta) é muito melhor que anterior (junto ao freio de mão), mas o arco do puxador é tão anti-ergonômico que parece não ter sido testado na pré-produção. Ou para o acerto de alguns detalhes "toscos" que poderiam ser, mas não são, evitados: partes da estrutura aparentes, plásticos com rebarbas e encaixe ruins (menos no 1.0 do que no 1.6) e apoio do banco traseiro à vista dentro do porta-malas são os mais comuns. O pior de tudo está num ponto menos observado, na altura da moldura da porta-traseira, onde a emenda da carroceria pode ser notada (abaixo) e a borracha que garante a vedação da porta (acima) é cortada abruptamente deixando a canaleta do teto à mostra. E isso explica o ranking de vendas.