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Fiat 500 mostra com quanto charme e simpatia se faz um carro de imagem

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/12/2009 22h37

A Fiat é líder do mercado brasileiro de carros, mas reflita um instante e diga o que vem à mente ao ouvir o nome da marca. Talvez a relação custo/benefício responsável por manter o veterano Mille ainda em atividade, após 25 anos. Ou a robustez e versatilidade embutidas na linha Adventure (Palio Weekend, Idea, Strada). Requinte e charme, certamente, não foram conceitos que você atribuiu à montadora, que para mudar esta situação começou a importar da Europa, há dois meses, o pequeno e engraçadinho 500.

 

  • Murilo Góes

    Fiat 500 chega para agregar requinte à imagem da Fiat; e chamar atenção no trânsito...

Após a apresentação feita em outubro, UOL Carros avaliou que o 500 (ou Cinquecento, como dizem os italianos), no mínimo, entregava mais conteúdo que os outros integrantes do chamado segmento de "carros de imagem", cujos principais representantes exibem valores acima dos R$ 55 mil e comprimento abaixo do hatch popular que seu vizinho tem na garagem. Neste meio tempo, o modelo invadiu a mídia através de peças publicitárias de visual vanguardista e mensagem filosófica. Paralelamente, os dados de vendas oficiais, apontados pela Fenabrave, acabaram confirmando que o carrinho da Fiat tirou terreno dos adversários diretos, mais habituados ao luxo. O pequenino smart, do grupo Daimler-Mercedes, faturou 834 unidades em sete meses de mercado, mas vendeu 76 unidades em novembro, menos do que as 83 de outubro; no mesmo período, o cultuado Mini Cooper, do grupo BMW, entregou 778 unidades, sendo 147 em novembro. Já o Fiat 500 emplacou 466 unidades, sendo 143 delas no último mês.



Se o 500 vai se dando bem no ambiente iluminado e refrigerado das lojas, restava saber como se comportaria no contato social, encarando trânsito pesado, pessoas apressadas e pouca espaço para frivolidade. A resposta é: muito bem.


 

ÁLBUM DE FOTOS
Murilo Góes/UOL
VEJA O 500 POR DENTRO

UOL Carros testou por sete dias um exemplar da versão Sport, equipado com teto solar elétrico (chamado de Sky Wind pela Fiat), rodas de liga leve, interior revestido de couro e detalhes externos cromados (integrantes do pacote Sport Full), pintado na cor branco Gioioso (alegre, em italiano) e decorado com faixas alusivas à bandeira tricolor da Itália. Foi, sem qualquer dúvida, o carro mais carismático a passar por nossas mãos, suscitando dezenas de comentários, risos, pedidos de fotos, entortadas de pescoço e levantadas de capô (e aqui seremos indiscretos o suficiente para dizer: até por parte de vendedores de concessionárias de marcas rivais e funcionários da "concorrência").

E mais: nenhum carro tem tanta simpatia junto aos motociclistas. Todos que encontramos no trânsito, sem exceção, diminuíram a aceleração para observar pelo retrovisor ou aproveitaram um sinal fechado para olhar de perto os detalhes do carrinho. Muitos sorriram e a maioria acenou positivamente.

Como nunca tivemos de parar tanto para dar explicações sobre um mesmo veículo quanto com o 500, decidimos completar esta avaliação respondendo às principais perguntas feitas por amigos, colegas de trabalho, companheiros de trânsito e, claro, por completos desconhecidos.



Que carro é esse? Custa caro? É feito no Brasil?

Releitura do clássico Fiat Nuova 500, lançado em 1957 e produzido até 1975, o Fiat 500 foi lançado em 2007 na Europa justamente nas cores do carro que ilustra esta avaliação.


 

AS (ENGRAÇADINHAS) CORES DO 500

  • Murilo Góes

    Branco Gioioso (alegre) - perolizada
    Branco Caldo (vívido) - sólido
    Amarelo Birichino (travesso) - sólido
    Vermelho Sfrontato (despudorado) - sólido
    Cinza Sfrenato (libertino) - metálico
    Preto Provocatore (desafiador) - metálico
    Azul Magnetico (magnético) - metálico

O objetivo da Fiat era mostrar que também podia atender à nova demanda do consumidor europeu, mais antenado, exigente e que prefere abrir mão de um carro maior se o novo (e menor) modelo oferecer boa contrapartida. O novo 500 surgiu como um veículo de visual "descolado", misturando traços contemporâneos com perfil retrô e formas compactas. Ágil para trânsito pesado e espaços apertados, conta com excelente pacote tecnológico e de segurança. Barato e econômico, é construído na Polônia (onde o custo da mão-de-obra é menor), e custa cerca de 10,5 mil euros (o equivalente a R$ 27 mil).



No Brasil, a lógica de carro de imagem acaba distorcida, sendo comprada (literalmente) por pessoas que já têm um ou mais carros de luxo na garagem e optam por um novo (e menor) se ele proporcionar mais status. E status sempre custa caro. Junte ao pacote o imposto de importação, o IPI e demais taxas e o preço da versão testada chega aos R$ 72.473, segundo a página de configuração da Fiat na internet.



Mundo afora, o 500 é um sucesso e parece ter sido feito para ganhar prêmios. Tanto é assim, que foi um dos modelos escolhidos pela Fiat para iniciar sua nova investida nos Estados Unidos (mercado em que nunca teve sucesso), através da participação que a marca italiana tem agora na Chrysler. O efeito desta parceria, para nós brasileiros, é que o Fiat 500 só ficará mais interessante ao americano (do ponto de vista financeiro) se for feito no nosso continente -- México e Brasil são cotados para fabricá-lo e, nessa hipótese, o preço do carrinho tenderia a cair também para nós.



É um carro gostoso de dirigir? Anda bem? É econômico? É elétrico?

Você é dono de um Fiat Palio 1.4 ou de um Chevrolet Meriva 1.4? Acha que eles andam bem? A resposta, muito provavelmente, será a de que eles se dão bem no trânsito pesado, embora não sejam campeões quando se precisa pisar fundo e encarar uma estrada. Agora imagine como seria o desempenho de ambos com alguns quilos a menos e alguns cavalos de potência a mais...



O 500 pesa 930 kg, enquanto o Palio tem 981 kg e a minivan Meriva, 1.253 kg. Em potência do motor, o pequeno Fiat tem 100 cv declarados pela fabricante (embora o motor ostente a marca de 100 hp, que corresponderiam a pouco mais de 101 cv). O Palio conta com apenas 85 cavalos sob o capô, enquanto o modelo da Chevrolet chega mais perto, com 99 cv, considerando apenas a gasolina como combustível (uma vez que o 500 não é flex).

 

  • Murilo Góes

    Visual com ar esportiva, bom pacote de segurança e tecnologia embarcada são pontos positivos

O peso a menos e a cavalaria a mais mostram o quanto o 500 pode ser mais divertido, em relação a um carro mais convencional: as respostas ao acelerador são rápidas, ao mesmo tempo em o desempenho é bem elástico com seu torque de 13,5 kgfm a 4.250 giros. Na estrada, chegamos a notar um desempenho superior a de modelos tradicionais equipados com motor 1.6. Há ainda um charme na história: o motor do 500 produz um ronco gostoso de se ouvir e que, usando um pouco a imaginação, garante até a pinta de esportivo. Melhor, só quando a Fiat trouxer a versão esportiva de verdade, Abarth, o que pode ocorrer em 2010.



O câmbio manual de seis marchas que pode equipar o carrinho é o melhor de toda a gama Fiat e podia muito bem servir de exemplo para o resto da família: tem engates curtos e precisos e privilegia um rodar mais suave e econômico. A alavanca, além disso, fica em posição elevada na cabine, facilitando a vida do motorista. Neste ponto, siga o nosso conselho e esqueça a versão com câmbio automatizado Dualogic.



Quanto ao consumo, o 500 foi mediano. Rodamos quase 700 km com o modelo, em trajeto urbano (com muito congestionamento) e rodoviário (com boas esticadas), e chegamos a uma média global de 9,7 km/h. A Fiat, por sua vez, fala em 13 km/l para a cidade e 17 km/l para a estrada (embora o computador de bordo tenha apontado máximas de 10 km/l na cidade e 12,5 km/h na estrada). Nesse ponto, quem dera o 500 fosse mesmo elétrico, como algumas pessoas que nos abordaram chegaram a cogitar.



Mas o grande senão veio justamente de onde não esperávamos: o 500 não é tão fácil de manobrar, com diâmetro de curva (giro) de 10,6 m, e te faz suar um pouco na hora de estacionar. O lado bom é que ele conta com sensor de estacionamento de série.



Quantas pessoas cabem no 500? É um carro confortável? É seguro?

Embora tenha entre-eixos de 2,30 m e quatro assentos (e o banco traseiro conte com dois encostos bem definidos), é complicado acomodar quatro adultos dentro do Fiat 500. Se a altura do motorista for de 1,80 m, o espaço para pernas atrás do banco esquerdo ficará impraticável.



Tudo graças à arquitetura do 500. Por um lado, ela eleva a posição dos ocupantes, o que gera uma sensação de segurança (ao menos psicológica) e melhora a visibilidade, mas por outro rouba espaço de quem vai atrás, formando um ambiente claustrofóbico -- algo reforçado pela vigias traseiras que não abrem. O ideal é aproveitar que não é fácil entrar nesta parte do carro, apesar do sistema que faz os bancos dianteiros deslizarem (mas que não os retorna para a posição original depois).



A vida de quem vai à frente, por sua vez, é ainda mais facilitada por controles em boa posição e pelas facilidades de ajuste de bancos e volante -- tudo isso garante conforto e comodidade suficientes para aguentar até viagens mais longas (outro senão aqui é o porta-malas irrisório, menor que o do smart fortwo, com apenas 185 litros de capacidade; ele pode melhorar, indo aos 550 litros, mas aí perdem-se os bancos traseiros).



Há ainda toda a tecnologia embarcada, que permite ao motorista ter uma vida confortável a bordo, enquanto roda com segurança por aí. O volante é multifuncional e por ele, além do sistema de som, controla-se também o sistema multimídia Blue&Me, que conta até com comandos por voz. No nosso teste, o sistema feito em parceria com a Microsoft só não se deu bem quando tentamos ouvir as músicas de um iPod, da rival Apple. Mas tudo bem...

 

  • Murilo Góes

    Apesar dos bancos delimitados para quatro, fica difícil acomodar mais de dois ocupantes

O painel de instrumentos em forma de semicírculo abriga velocímetro, conta-giros, luzes indicadoras e uma tela que faz as vezes de computador de bordo -- por uma lado é estiloso, embora às vezes confunda a leitura.



Agora siga a lista de segurança: direção elétrica Dual Drive (fica mais rígida e precisa com a tecla Sport acionada), sete airbags (incluindo o de joelho para o motorista), freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuidor de frenagem), ESP (controle de estabilidade), ASR (controle de tração e freio motor), faróis de neblina e Hill Holder (segura o carro em aclives, sem a necessidade do pedal de freio, por até 2 segundos). Tudo isso é de série no 500.



Três coisas, no entanto, contrastam com a imagem de carro caro que o 500 tem por aqui: os plásticos têm boa textura, mas são duros; o teto solar elétrico tem seu charme, mas o painel interno em tela ("furadinho" e permeável à luz) maltrata quem vive num país tropical e poderia ser substituído por um similar sólido, que bloqueasse a luz e o calor do sol quando fechado; por fim, o porta-luvas vem sem tampa (alguém lembrou do Volkswagen Fox antigo?), que é opcional.



Vale a pena ter um?

Pelo preço (tratando este quesito de forma comparativa e racional), não. Mas se você está disposto a pagar, quer chamar (muito) a atenção no trânsito, anda sozinho ou com apenas uma pessoa ao lado na maior parte do tempo, quer se deslocar do congestionado ponto A ao travado B com maior agilidade e sem abrir mão da segurança, e curte diferenciais como ter uma chave do carro que combine com a pintura da carroceria (sim, esta é uma das possibilidades de personalização do 500, junto com faixas externas e adesivos), vá em frente.