Mercedes-Benz esnoba robôs e usa mais pessoas na linha de produção
A Mercedes-Benz oferece o sedã de alto luxo Classe S com uma lista cada vez maior de opcionais: frisos de fibra de carbono, aparadores de copo aquecidos ou refrigerados e quatro tipos de tampas para as válvulas dos pneus. E os robôs da fabricante de veículos não estão conseguindo acompanhar este grau de personalização.
Como a customização está se tornando fundamental para atrair os consumidores modernos, a flexibilidade e a destreza dos trabalhadores humanos estão recuperando espaço nas linhas de montagem da Mercedes. Isso vai contra uma tendência que deu uma vantagem às máquinas sobre a mão-de-obra desde que o lendário ferroviário americano John Henry morreu tentando superar um martelo mecanizado, há mais de um século.
"Os robôs não conseguem lidar com o grau de individualização e com as muitas variações que temos hoje", disse Markus Schäfer, chefe de produção da fabricante de veículos alemã, em sua fábrica de Sindelfingen, na Alemanha, a principal da rede internacional de produção da marca. "Estamos economizando dinheiro e protegendo nosso futuro empregando mais pessoas".
Criadouro de robôs
O Mercedes Classe E reformulado, que chega às lojas da Europa em março (e no segundo semestre ao Brasil), é um exemplo do recuo das máquinas. Para alinhar o painel do carro, que projeta a velocidade e as instruções de navegação no para-brisa, a fabricante substituirá dois robôs instalados de forma permanente por uma máquina leve e móvel ou por um trabalhador.
Os robôs não desaparecerão por completo, mas serão cada vez menores e mais flexíveis e operarão em conjunto com trabalhadores humanos em vez de serem acionados de trás de cercas de segurança. A Mercedes chama a iniciativa de "criadouro de robôs".
A segunda maior fabricante de carros de luxo não está sozinha. A BMW e a Audi também estão testando robôs leves com sensores e dispositivos seguros o bastante para trabalharem com humanos. A vantagem que elas estão buscando é serem melhores e mais rápidas que as rivais em um momento em que o ritmo das mudanças se acelera. Os carros estão cada vez mais se transformando em smartphones sobre rodas e as fabricantes são pressionadas a atualizar seus modelos em intervalos menores que o tradicional ciclo de sete ou oito anos.
Com a fabricação focada em uma equipe qualificada de trabalhadores a Mercedes poderá mudar a linha de produção em um fim de semana, em vez das semanas necessárias no passado para reprogramar robôs e mudar padrões de montagem, disse Schäfer. Durante a suspensão, a produção seria paralisada.
"Estamos nos distanciando da automação e fazendo com que os humanos assumam uma parcela maior dos processos industriais novamente", disse Schäfer. "Precisamos ser flexíveis".
Fábrica 4.0
A planta de Sindelfingen, a maior da Mercedes, é um lugar improvável para se questionar os benefícios da automação. Embora produza modelos de elite, como o esportivo AMG GT e o ultraluxuoso Classe S Maybach, a fábrica de 101 anos está longe de ser uma unidade de montagem customizada. O complexo processa 1.500 toneladas de aço por dia e produz mais de 400.000 unidades por ano.
Isso torna a produção eficiente e dinamizada tão importante em Sindelfingen quanto em qualquer outra fábrica automotiva. Mas a era da individualização está forçando mudanças nos métodos de fabricação:o ímpeto por mudança vem da versatilidade. Embora sejam bons no cumprimento confiável e repetido das tarefas estabelecidas, os robôs não são bons em adaptação, algo cada vez mais em demanda devido à oferta ampla de modelos, cada qual com mais e mais recursos.
"A variedade é grande demais para ser encarada pelas máquinas", disse Schäfer, que está pressionando para reduzir para 30 o número de horas necessárias para produzir um carro, contra 61 em 2005. "Eles não conseguem trabalhar com todos os diferentes opcionais e acompanhar as mudanças".
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