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Motos "mil" custam menos e andam mais que supercarros

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

20/03/2014 08h00

Se o motorista de um Audi A1 Sport (avaliado em cerca de R$ 105 mil), com motor 1.4 de 185 cavalos, provocar o piloto de uma Honda CB 600F Hornet (que custa aproximadamente R$ 32 mil) numa saída de farol, ele será humilhado.

Apesar de o carro acelerar de 0 a 100 km/h em pouco mais de 7 segundos, de acordo com a Audi, a moto faz o mesmo em apenas 4,3 segundos, com seu motor de 102 cavalos.

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    Audi A1 Sport (avaliado em cerca de R$ 105 mil) usa motor 1.4 de 185 cavalos...

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    ...e tomaria surra de uma Honda CB 600F Hornet (que custa R$ 32 mil) numa saída de farol

Essa diferença entre preço e desempenho aumenta quando comparamos motos superesportivas a alguns carros esportivos mais famosos. Quanto maior a velocidade, maior o abismo de valor entre os veículos.

O Porsche 911 Turbo -- com motor de seis cilintros, 3,8 litros e 520 cavalos --, por exemplo, acelera de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos. Para ter uma máquina dessas, é preciso investir pelo menos R$ 900 mil. Já no mundo das motos superesportivas essa aceleração é quase banal. Um leque com quase dez modelos vendidos no Brasil, vendidos a partir de R$ 57 mil, deixariam o esportivo alemão para trás.

O que pilotos de esportivas mais apreciam não é velocidade final, mas sim o poder de arrancada de suas motos. Enquanto supercarros lutam para acelerar fazer o 0-100 km/h em menos de 4 segundos, motos de 1.000 cc atingem essa velocidade facilmente. É o caso da Yamaha YZF R1, que pesa apenas 166 kg (a seco) e tem motor de 182 cv: dependendo da habilidade do piloto, ela pode alcançar 100 km/h, partindo do zero, em menos de três segundos.

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    MV Agusta F4 RR impressiona pela lista de recursos eletrônicos oferecidos

QUALIDADE VEM DE FÁBRICA
Algumas motos oferecem uma receita de fábrica para fazer inveja a qualquer superesportivo. Um exemplo é a MV Agusta F4 RR. O modelo, avaliado em R$ 90 mil, oferece motor de 201 cv. O que impressiona é a lista de recursos eletrônicos que a equipa, assim como os materiais utilizados na sua fabricação. A italiana oferece quatro mapas de injeção -- que controlam a sensibilidade do acelerador, a resposta do motor, a entrega do torque e até a ação do freio motor. Com isso, o piloto pode adequar a moto às condições climáticas (em caso de chuva) e até seu tipo de tocada (normal ou esportiva).

Se você é fã de esportivos americanos, saiba que até eles não estão à altura das supermotos. O Chevrolet Camaro custa R$ 210 mil e tem um enorme motor V8 de 6,2 litros. Seus 406 cv podem levá-lo aos 250 km/h e fazê-lo acelerar de 0 a 100 em 4,8 segundos. Tempo este que pode ser considerado uma eternidade se comparado às esportivas de 1.000 cc.

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    Chevrolet Camaro, que usa motor V8 de 406 cv, não está à altura das supermotos

EU QUERO MAIS!
Apesar do desempenho assombroso, muitos donos de esportivas não se contentam. Segundo o preparador Antonio Finardi, as superesportivas oferecem duas condições de preparação. Para ganhar entre 5% e 10% de potência, bastam alterações no sistema de exaustão e um remapeamento da injeção, algo que custará cerca de 20% do valor da moto.

Se o piloto está disposto a gastar mais, é possível ganhar mais de 25% de potência. "Os custos podem se aproximar do próprio valor da moto, por conta das peças e de todo o trabalho de engenharia". O resultado é uma esportiva que custaria R$ 120 mil e passaria de 320 km/h.

Mesmo assim, a moto ainda terá um valor baixo se comparado ao de um supercarro. Um Audi R8 V10 de 532 cv, por exemplo, atinge os mesmos 320 km/h, porém pede astronômicos R$ 775 mil para isso. Sua velocidade máxima declarada é de 316 km/h; a aceleração de 0 a 100 km/h é cumprida em 3,5 segundos.

MAS PARA QUE ISSO?
O que leva os pilotos a buscarem tanta adrenalina? Talvez Spiga tenha razão: "correr de carro é hobby, enquanto na moto é preciso ser atleta, pois ela exige mais". Na moto, para contornar curvas, acelerar e frear é necessário trocar de posição no banco a todo momento e, assim, compensar a força "G". Nos carros, o maior trabalho fica por conta dos músculos que sustentam a cabeça, já que o piloto está preso com cintos ao banco com formato adequado para segurar o corpo.

Esse trabalho para controlar e moto e a sensação de estar de cara para o vento, porém, tem seu preço. Em caso de acidentes em altas velocidades, para que o piloto sobreviva é preciso estar bem equipado e não colidir com obstáculos. Quem acompanha provas de motovelocidade sabe que quedas são comuns. O piloto cai, desliza e, como um passe de mágica, levanta como se nada tivesse acontecido. Essa "mágica" é fruto do equipamento que absorve a energia do tombo e de muito treinamento. Mas se houver impacto com obstáculos... essa "mágica" simplesmente não acontece.

Infelizmente nem todos os pilotos têm a cultura de investir em segurança -- um conjunto formado por um ótimo capacete, macacão, botas, luvas e protetores de coluna custa mais de R$ 12 mil.

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    Um bom capacete, macacão, botas, luvas e protetores de coluna custam mais de R$ 12 mil

ELETRÔNICA COMANDA
Para se proteger o motorista dos supercarros conta com uma infinidade de equipamentos de segurança e sensores que monitoram suas ações: atuadores em freios ABS, controle de tração, auxilio de frenagens de emergência, etc...

A eletrônica também está presente na maioria das motos esportivas que contam com freios ABS, controle de tração e ajuste eletrônico de suspensão. Recentemente uma disputa entre um Audi R8 e duas motos na rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, mostrou o quanto esses veículos são rápidos e potencialmente letais. O "racha" expôs todos os usuários a um enorme risco, enquanto motorista e pilotos tentavam mostrar qual máquina era a melhor. Infelizmente essa atitude destemperada não é exclusividade do Brasil: veja a mesma situação em uma estrada da Suécia.

Vale lembrar que praticar racha é crime previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro e pode resultar em prisão de até dez anos e multa de R$ 1.915. Mas isso não significa que não seja possível aproveitar todo o desempenho de sua superesportiva ou de seu superesportivo -- para isso há diversos cursos e trackdays em pistas e autódromos. Aí sim, acelerar e curtir a adrenalina com segurança.