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Lua cheia aumenta perigo para pilotos, motoristas e animais

Corpo de cavalo atropelado e morto causa congestionamento na BR-101 em SC - Rafaela Martins/Folhapress
Corpo de cavalo atropelado e morto causa congestionamento na BR-101 em SC Imagem: Rafaela Martins/Folhapress

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

14/02/2014 20h58

Quem costuma viajar já ouviu a expressão: "conheço cada curva desta estrada". Trata-se de uma afirmação carregada de autoconfiança. Mas é bom ficar esperto, porque as rodovias estão repletas de surpresas -- e algumas podem acontecer em noites de lua cheia (a fase começa nesta sexta-feira, 14).

Tão falada em verso e prosa, a lua cheia é tema de adoradores do sobrenatural e verdadeiro combustível para crendices, já que sua luz parece causar mudanças na ordem natural.

Mesmo sendo noite, tudo fica mais claro.

Suas vítimas amanhecem jogadas nos acostamentos das estradas. São cães e outros animais atropelados.

Ao rodar na manhã seguinte a uma noite de lua cheia, muitas vezes é possível ver cães mortos às margens das rodovias -- principalmente em vias como a Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte e atravessa áreas populosas na periferia paulistana. Segundo os inspetores da Polícia Rodoviária Federal, que patrulham a região, existe um número maior de atropelamento de animais em noites de lua cheia.

Os acidentes foram tema de uma pesquisa de uma faculdade de Veterinária do Colorado, nos Estados Unidos. O estudo analisou cerca de 12 mil atendimentos a animais, e comprovou haver aumento de 28% de emergências envolvendo cães e 23% com os gatos nas manhãs após noites de lua cheia.

O material foi publicado no Journal of the American Veterinary Medical Association. Mas, apesar da quantidade de dados, o estudo não crava se há, ou não, influência do nosso satélite  no comportamento dos animais.

Enquanto humanos estudam e discutem o tema, a luz da lua muda hábitos de animais não domesticados. Os predadores noturnos têm vantagem pela maior iluminação, enquanto suas presas perdem a capacidade de se esconder na escuridão.

Uma tese apresentada pelo pesquisador Victor Javier Rabanal, na Universidade de Salamanca (Espanha), mostrou que existe maior concentração de atropelamentos de animais selvagens na lua cheia. Segundo o autor, "com mais luz, o motorista veria o animal antecipadamente, e teria mais tempo para reagir, mas os números mostram o contrário".

Apesar de alterar a rotina de matas e florestas, o luar não ajuda o motorista: embora tenhamos a sensação de enxergar melhor por conta da claridade, o ganho de luz é ínfimo, pois a lua é uma fonte secundária.

Com certeza, facilita a vida de quem anda a pé ou de bicicleta. Porém, de motocicleta ou carro, não reforça a iluminação do farol. Nos carros o facho tem alcance médio de 80 metros, enquanto nas motos é um pouco menor.

A LEI DO CÃO
Os cães são as maiores ameaças em regiões com maior densidade populacional. Na zona rural, especialmente no Nordeste brasileiro, é possível encontrar burros, que vagam perigosamente pelas estradas.

Os animais silvestres também podem causar acidentes e prejuízos. Um exemplo é a capivara, roedor que pode chegar a pesar 80 kg e, por ser sociável, anda em grupo. Na região das montanhas catarinenses um leão-baio foi flagrado passeando (o felino pode passar de 70 kg). Assista:

Um tamanduá pesa em média 40 quilos enquanto uma ema -- também comum no Centro-Oeste do país -- pesa cerca de 35 kg e tem quase dois metros de altura. Imagine-se o estrago numa moto ou carro em caso de atropelamento.

TEM SOLUÇÃO?
O risco ao motorista, ao motociclista, à fauna silvestre e mesmo aos animais de estimação pode ser diminuído com a instalação de cercas de isolamento. Elas já existem em algumas estradas que cortam áreas de proteção ou parques. Mas também seriam úteis em bairros populosos, florestas ou plantações.

Enquanto nossas estradas não ganham este importante aparato de segurança, como existe em boa parte das rodovias da Europa e da América do Norte, por exemplo, cabe ao motorista e ao motociclista manterem os olhos abertos, faróis regulados e não se empolgar com a luz da lua. É preciso dar atenção máxima à estrada, para reagir de maneira correta caso um animal surja à frente.

Cícero Lima é especialista em motos