Topo

Quando moto-escola ensina mal, nem freio com ABS ajuda motociclista

Carlos Bazela<br>Roberto Brandão Filho

Da Infomoto

29/10/2013 18h01

No final de 2012, a decisão da União Europeia de tornar obrigatório os freios ABS em motos acima de 125 cc causou alvoroço no segmento, mesmo do outro lado do oceano. A repercussão no Brasil fez com que o deputado federal Adrian Mussi Ramos entrasse com o projeto de lei 6273/13. No texto, o parlamentar exige que todas as motos -- não existe menção a uma determinada faixa de cilindrada -- saiam de fábrica já com o sistema antitravamento instalado.

"O projeto de lei é uma exigência que, na prática, se traduz em melhoria social para todos, pois a utilização de freios ABS nas motocicletas, embora possa tornar os referidos veículos um pouco mais caros, será importante para a segurança dos pilotos e dos pedestres, com a consequente redução de acidentes", justifica o deputado no texto da proposta.

A matéria se apoia em dados do Ministério da Saúde, como o aumento de 270% nos acidentes com motocicletas, e afirma que um acidentado grave pode custar até R$ 200 mil ao SUS (Sistema Único de Saúde). Mas o ABS é realmente a solução para a diminuição das ocorrências?

Para ajudar a responder essa pergunta, Alfredo Guedes Jr., engenheiro da Honda, apresentou um workshop sobre os tipos de freios para motocicletas durante o Salão Duas Rodas 2013, que aconteceu entre os últimos dias 8 e 13 de outubro, em São Paulo (SP). Na ocasião, ele mostrou que não é apenas uma tecnologia que irá reduzir esta estatística -- treinar bem o motociclista é preciso.

TREINAMENTO RUIM
Na palestra, o engenheiro ressaltou que a presença do sistema ABS na moto pode ser pouco significativa quando o piloto não é treinado para utilizar os freios de maneira adequada durante seu curso na moto-escola. "Durante o processo de habilitação, o usuário é equivocadamente orientado a usar apenas o freio traseiro, quando, na verdade, deveria ser orientado a usar os dois simultaneamente”, afirmou.

Guedes mostrou um infográfico no qual é possível ver três motociclistas nas mesmas condições, a uma velocidade de 50 km/h em pista seca. Enquanto o piloto que aciona ambos os freios ao mesmo tempo consegue realizar a frenagem em 18 metros, o que utiliza apenas o sistema dianteiro leva 24 metros para parar completamente, e aquele que freia apenas a roda traseira estanca a motocicleta após 35 metros.

No Nordeste, por exemplo, é comum encontrar motociclistas que chegam a remover o freio dianteiro, "Eles têm um mito muito forte em relação a não usar o freio dianteiro. Tiram o manete, cabo, tudo", comenta o engenheiro. Alguns motociclistas da região acreditam que acionar apenas o freio dianteiro os fará ser arremessados.

Pioneira

  • Divulgação

    BMW K1, de 1988, foi a primeira motocicleta do mundo a utilizar freios com sistema ABS

O aprendizado equivocado é confirmado por números da Abraciclo, associação que reúne os fabricantes de motos. Nas 16 edições do MotoCheck-Up, evento de conscientização para motociclistas, que também realiza revisões, 44,1% das 29 mil motos avaliadas apresentavam defeitos no freio traseiro por conta do uso excessivo e da falta de manutenção.

FREIOS COMBINADOS
Durante o workshop, Guedes também falou sobre os freios combinados, que estão presentes nos scooters Lead 110 e PCX 150. Em suma, o sistema faz com que a força da frenagem seja distribuída em ambas as rodas, quando o motociclista aciona o manete traseiro. "O sistema Combined existe para nunca deixar a roda traseira travar sozinha", explicou.

De acordo com o engenheiro, o sistema é mais amigável aos motociclistas novatos que o ABS. A marca não descarta incorporá-lo em outros modelos de baixa cilindrada. "Isso está em estudo. A ideia é que as motos de entrada já saiam de fábrica com o sistema Combined e as de alta cilindrada, com o C-ABS". Este último mescla as tecnologias de frenagem combinada e o sistema antitravamento (ABS).

Em 2008, a Honda CBR 1000RR foi a primeira superesportiva a adotar os freios Combined ABS. No mês de julho daquele mesmo ano, a CB 600F Hornet foi outra que passou a contar com uma versão equipada com o sistema. Hoje, o C-ABS está presente também, como opcional, em modelos de baixa capacidade cúbica, como a CB 300R e a XRE 300. Tanto a Hornet como as duas motos de 300 cc são produzidas no Brasil.