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Sonhos sobre duas rodas podem virar pesadelo depois da compra

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

09/08/2013 19h19

Algumas motos mais "recentes", das décadas de 1990 e 2000, já entraram no rol de modelos com grande carisma e fizeram história junto aos estradeiros. Todas mantém o poder de hipnotizar um motociclista a ponto de levá-lo a fazer uma grande besteira nos dias atuais: comprar um exemplar usado que não pode manter na garagem.

O assunto já foi abordado em relação às esportivas (relembre aqui), mas alguns modelos off-road, naked, custom, touring e sport-touring também possuem essa aura magnética que as faz muito desejadas. E, de novo, vale o aviso: junto com a moto, vêm uma série de despesas que a maioria dos motociclistas não leva em consideração. E o sonho pode virar pesadelo.

RAZÃO vs. EMOÇÃO
Modelos como BMW R 1150 (ou a R 1200 GS) e a KTM Adventure 950 são as preferidas dos aventureiros. Já a Harley-Davidson Fat-Boy (V2) e a Yamaha Royal Star (V4) tiram o sono de quem curte o estilo custom. Entre as grandes nakeds, a Honda CB 1300 e a Yamaha V-Max também são cobiçadas assim como as estradeiras Honda GoldWing 1500 ou mesmo a sport-touring Suzuki Hayabusa e a CBR 1100 XX Super Blackbird.

São todas ícones de sua época: tiraram o sono de muito motociclista com conta bancária insuficiente, na época em que foram lançadas. Agora, tornam-se "sonhos possíveis" para quem tem cerca de R$ 25 mil, R$ 30 mil disponíveis.

IDEIA FIXA
Quando o motociclista resolve matar sua vontade e compra a moto que sempre fez a sua cabeça é preciso ter outra coisa em mente: para ser feliz, é preciso ter dinheiro na conta também para manter a máquina em ordem.

Não há mágica e, infelizmente, a manutenção é condizente com desempenho e conforto. Assim, como acontece com muitos carros importados, os custos de pós-venda são altos.

ATENÇÃO AOS DETALHES
Muitas dessas motos têm baixa quilometragem, o que não é necessariamente sinônimo de moto em bom estado. Além do desgaste por uso, os componentes derivados de borracha também se deterioram por conta do tempo.

Um exemplo, citado pelo ex-dono de oficina Magno Xavier, é o flexível de freio ou embreagem (caso das motos com sistema hidráulico), que deve ser substituído a cada quatro anos, segundo o manual de serviços das motos. Mas, claro, pouca gente faz essa troca no prazo.

Se a moto ficou muito tempo parada e o proprietário não teve o cuidado de esgotar os fluídos e o combustível, esses líquidos se deterioram e podem causar problemas no sistema de alimentação, freios e até suspensão.

Existem ainda problemas pouco conhecidos da maioria dos motociclistas. O mecânico Marcelo Peixoto, da oficina Motors&Co, afirma que alguns modelos da marca Harley-Davidson, feitos a partir de 2006, podem apresentar problemas de oxidação. Ao procurar uma moto e notar alguns parafusos com sinais de oxidação é melhor desistir da compra.

"Outro dia tivemos que desmontar uma Electra Glide 2007, dos pés a cabeça, para trocar os parafusos e outros componentes oxidados, o custo foi de R$ 8.000", informa o profissional.

Conhecer tudo sobre o passado da moto é fundamental. O conselho parece óbvio, mas quando o motociclista fica entorpecido pela paixão acaba mentindo para si mesmo: "Essa moto não quebra". Quebra sim, toda moto quebra.

Afinal, são máquinas e têm um tempo de vida útil. Se o dono anterior não foi criterioso na manutenção, as chances da "bomba" estourar na mão do novo dono são muito grandes. 

PESO E ESPAÇO
Além do custo de manutenção essas grandes máquinas são pesadas. Uma Harley-Davidson Fat Boy, por exemplo, pesa quase 320 kg enquanto uma Honda Gold Wing 1500 chega próxima dos 372 kg. O pretendente, portanto, deve ter certeza se possui condições físicas para manobrar o modelo.

Além disso, motos grandes exigem espaço para manobrar e quem utiliza rampas inclinadas deve se preparar para verdadeiros malabarismos na hora de estacionar. A altura do banco de alguns modelos clássicos, como a R 1150 GS, pode acabar sendo uma vala entre você a felicidade.

Muita calma, então. Não se deixe levar pela emoção e faça uma compra consciente sabendo que sua nova companheira pode oferecer muito em conforto e desempenho, mas vai cobrar --e caro -- por isso.

Cícero Lima é especialista em motocicletas