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Motociclista que respeita pedestre arrisca multa ou tombo

Cruzamento movimentado e sem semáforo de pedestres em São Paulo: "A lei? Ora, a lei..." - Cícero Lima/UOL
Cruzamento movimentado e sem semáforo de pedestres em São Paulo: "A lei? Ora, a lei..." Imagem: Cícero Lima/UOL

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

07/05/2013 16h20

Um editorial da Folha publicado em 6 de abril de 2011 comentava o "avanço do pedestre". Números otimistas permitiam comemorar a redução de quase 40% nas mortes de pedestres vítimas de atropelamentos na região central de São Paulo.

Naquele período, os agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) marcavam presença nas principais esquinas da cidade com a função de "ensinar" motoristas e motociclistas e pedestres a conviver de forma racional com as faixas de segurança. Apoiados por uma campanha educativa deflagrada na grande mídia, os pedestres ganharam o poder de parar os carros e motos com um simples movimento do braço.

Não foi uma tarefa fácil. Afinal, nossos motoristas e motociclistas convivem há muito tempo com o descaso à vida alheia, do qual os pedestres são as maiores vítimas. Até o início da campanha, as mortes nas principais vias da cidade eram 464 (de maio de 2011 a janeiro de 2012).

Após o período de conscientização, os fiscais passaram a aplicar multas. O motorista que não parar para o pedestre paga R$ 85,13; parar sobre a faixa e não dar a preferência ao pedestre também pode doer muito no bolso do motorista: são R$ 127,69. Em quase um ano, foram lavradas 263.196 autuações.

Com tantas "canetadas" e a campanha na mídia, era de se esperar uma trégua na disputa pela travessia das ruas em São Paulo. Por algum tempo, motoristas e motociclistas paravam e permitiam a travessia dos pedestres. Mas o tal sinal de levantar o braço parece não ter "pegado". Raras vezes acompanhei alguém usando esse gesto, informando que desejava atravessar a rua.

DILEMA
E já que muitos motoristas não têm o hábito de parar antes da faixa de pedestres, devem achar que ninguém o fará -- principalmente se for uma motocicleta. Um exemplo claro ocorre no cruzamento das ruas Bernardino de Campos e Abílio Soares, próximo à avenida Paulista, região mais rica de São Paulo (veja no vídeo abaixo).



Lá não existe semáforo específico para a travessia de pedestres. Um fluxo elevado de pessoas -- que, aliás, aparentemente desistiram de acenar para atravessar -- e veículos transforma essa esquina em um lugar perigoso. Para a moto, existe um risco em dobro: se o piloto decidir parar e permitir que o pedestre faça a travessia, corre o sério risco de ser abalroado por um motorista que não perceba sua intenção.

Para conferir, basta ficar alguns minutos nesse local em que motoristas e motociclistas, igualmente, acabam avançando sobre os pedestres. Quem tenta dar passagem pode envolver-se em acidente ou receber xingamentos de algum dos afoitos que adoram buzinar. Nas duas situações, é preciso escolher entre a multa e o acidente.

Cícero Lima foi diretor de redação da revista Duas Rodas