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BMW C1, o incompreendido 'scooter coberto', pode voltar movido a eletricidade

Roberto Agresti

Colunista do UOL

29/06/2012 18h34

Há 20 anos a BMW apresentou no Salão de Colônia, na Alemanha, um estranho veículo-conceito, misto de scooter e pequeno automóvel.

Batizado de C1, o lado scooter era evidenciado pelas duas pequenas rodas, pelo guidão e motor situado sob o condutor. Seu lado carro era revelado pela existência de capota, limpador de parabrisas e banco com assento e encosto dotado de cinto de segurança de quatro pontos.

Oito anos depois, em 2000, o BMW C1 entrou em produção. Bastante similar ao protótipo mostrado quase uma década antes, chegou inicialmente com motor monocilindro de 125 cc, logo seguido de versão mais potente com 200 cc. Em ambos a transmissão era CVT, automática.

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    BMW C1 enquanto conceito, surgido há 20 anos; e na pioneira versão de produção

  • Divulgação

    Imagem do BMW C1-E, também conceitual, que pode em breve dar origem a um scooter de verdade, coberto, seguro e ambientalmente correto, e desta vez na época certa

Diferente de tudo que existia naquela época sobre duas rodas, o C1 tinha a forte peculiaridade de dispensar o uso do capacete: por conta do teto sustentado por robusta -- mas leve -- estrutura em arco realizada em alumínio, o condutor, atado pelo cinto, ficava numa espécie de cápsula de segurança. O capacete foi contraindicado devido a seu peso, que aumentaria o risco de lesões cervicais na desaceleração decorrente de impactos.

Submetido a crash-test, o C1 apresentou resultados similares ao de veículos compactos de sua época, pois contava com estruturas de proteção contra choques laterais e paralama dianteiro deformável, que absorvia parte da energia derivada de colisões. Os sucessivos testes de impacto do C1 com carros em ângulos de 90º e 135º comprovaram a segurança que o pequeno veículo oferecia a seu condutor. E, como manda a tradição BMW, pioneira em instalar sistema de frenagem ABS em motos, o C1 tinha entre seus vários opcionais o dispositivo antibloqueio dos freios -- além de baú traseiro, teto solar, aquecedor de banco e manoplas e outros.

Bem mais caro que um scooter de potência equivalente, sua produção teve curta duração, cessando em 2003 em meio ao declínio do interesse do público. No primeiro ano, a venda chegou a mais de 10 mil exemplares, para no ano derradeiro sequer alcançar 2 mil.

MOTONOTAS!

ERIC GRANADO, piloto brasileiro de motovelocidade, estreou no Mundial da categoria Moto2 no GP da Inglaterra, disputado em Silverstone em 17 de junho. Engajado na equipe JiR sediada no Principado de Mônaco, e com apoio de patrocinadores brasileiros, teve de esperar completar 16 anos, o que ocorreu dias anteS do grande prêmio, para iniciar sua participação no mais importante torneio do motociclismo mundial.

2007 foi o ano em que o último representante brasileiro no Mundial de Motovelocidade, Alexandre Barros, abandonou definitivamente sua longa carreira na categoria, iniciada em 1986. Ponto em comum entre Granado e Barros é terem deixado o Brasil pela Espanha na pré-adolescência. O país ibérico é o maior celeiro de talentos da atualidade por conta das inúmeras categorias de base, altamente competitivas.

HONDA E KAWASAKI promovem torneios com motos de baixa cilindrada no Brasil, todavia são poucos os realmente jovens a participar destes campeonatos, que acabam sendo ocupados por pilotos mais experientes em busca de fórmulas mais econômicas para competir.

Parte do fracasso do C1 veio também da incompreensão de autoridades de diversos países, entre os quais destacam-se Inglaterra e Suécia, que jamais o homologaram para uso sem capacete -- ao contrário de Alemanha, Itália, Espanha, Israel e outros. Nos Estados Unidos o C1 jamais foi comercializado; no Brasil o modelo foi exposto no estande da BMW no Salão do Automóvel de 2000, porém sem resultar em importação oficial.

DE VOLTA AO FUTURO
Com certeza o BMW C1 foi um veículo à frente do seu tempo, incorporando conceitos que fazem pensar que, dentro de muito breve, será possível ver a BMW retomando sua fabricação. Aliás, um forte sinal já foi dado: no final de 2009 um protótipo batizado de BMW C1-E foi apresentado, onde "E" indica o tipo de motorização usada: elétrica.

Este novo C1 amigo do ambiente é simplesmente uma edição revista e aperfeiçoada do original, modelo que, depois de anos no ostracismo, atualmente alcançou um status de modelo de coleção, "cult" em diversos países da Europa -- onde é cada vez mais difícil encontrar unidades em bom estado à venda por preços, digamos, normais.

O interesse da BMW e de outras marcas em veículos com perfil sustentável e com fortes características urbanas é mais do que explícito: não só existe o concept C1-E, como os recém-lançados scooters BMW C 600 Sport e C 650 GT, grandes e luxuosos, já tem um "irmão" elétrico em fase de testes. Tudo isso  revela que um caminho a seguir para a mobilidade urbana passará obrigatoriamente pelo uso consciente de veículos motorizados de duas rodas, elétricos ou com motores de baixas emissões.

E se tais veículos forem práticos, econômicos e protetivos (tanto contra intempéries como acidentes), como é o caso do BMW C1, tanto melhor.