Paula Gama

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Como chineses têm trazido carros mais baratos do que rivais ao Brasil

Desde o lançamento do BYD Dolphin por menos de R$ 150 mil, no fim de junho, o mercado brasileiro passou a ser invadido por modelos de marcas chinesas com valores até então impensáveis no Brasil. O fenômeno revelou a margem elástica do segmento e levantou a questão: o governo do país asiático tem algo a ver com esses preços competitivos?

Na opinião da União Europeia, sim. Para o bloco, os incentivos chineses para ganho de mercado são tão grandes que distorcem o setor.

"Os mercados globais estão agora inundados com carros elétricos mais baratos. E o seu preço é mantido artificialmente baixo por enormes subsídios estatais", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no seu discurso anual ao parlamento do bloco.

O incômodo da União Europeia ficou tão grande que foi iniciada uma investigação para entender o quanto esses subsídios impactam o mercado, sob pena de aplicação de taxas acima de 10% para coibir a "invasão" de carros elétricos produzidos na China nos países do bloco.

Já a China considerou a investigação um ato protecionista que "perturbará e distorcerá seriamente a indústria automotiva global e a cadeia de fornecimento, incluindo a UE, e terá um impacto negativo nas relações econômicas e comerciais entre China e União Europeia", afirmou, em nota à Reuters, o Ministério do Comércio da China.

O economista Igor Lucena explica que, de fato, o governo chinês incentiva financeiramente a produção de carros elétricos no país. Desde a última década de 2010, diversos incentivos foram aplicados, como benefícios fiscais e até descontos para os consumidores de veículos à bateria.

"Os carros chineses que estão chegando ao país, na realidade, custam muito mais, mas existe uma política governamental chinesa de subsídio para tomada de mercado. A ideia é voltar ao preço normal entre cinco e 10 anos, quando o mercado estiver dominado", avalia.

De acordo com a BYD, o governo chinês extinguiu os benefícios que eram oferecidos a empresas nacionais do segmento de carros elétricos e híbridos para exportação e também para comercialização no mercado doméstico. A GWM afirma que não há incentivos para exportação de veículos.

Por que carros chineses são mais baratos?

O governo chines pode não oferecer, atualmente, incentivos exclusivos para exportação, mas já apoiou montadoras de carros elétricos de formas diferentes, com subsídios, financiamento preferencial e assistência na construção de infraestrutura de carregamento no exterior.

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Outra questão é que a China é o maior mercado de veículos elétricos do mundo e muitas montadoras chinesas têm uma produção em escala significativa para atender à demanda interna. Isso permite que elas produzam em grande quantidade e, potencialmente, reduzam os custos de produção para exportação.

O consultor automotivo Ricardo Bacellar explica que as chinesas vivem contextos diferentes das montadoras tradicionais. Segundo ele, o que realmente tem atraído as chinesas para cá é o tamanho do nosso mercado e o segmento de carros de volume, que vem sendo deixado de lado pelas montadoras locais.

"As montadoras mesmo têm vocalizado que estão dando preferência a veículos de maior valor agregado em detrimento dos carros de volume, que são menos rentáveis. Com isso, os carros de entrada sumiram do mercado. Já as empresas chinesas têm um volume de produção grande em todo o mundo, conseguindo suprimentos com preços mais competitivos", analisa.

Para ele, BYD e GWM têm algo forte em comum: apostam em carros elétricos com alto embarque de tecnologia e com preços bem abaixo dos concorrentes do mesmo patamar. "Não estamos falando de preços populares, mas de preços competitivos dentro do seu segmento", pondera.

De acordo com o Milad Kalume, da Jato Informações Automotivas, as chinesas conseguem concorrer em uma faixa de preço oferecendo um produto comparável ao segmento superior, com mais tecnologia embarcada, por exemplo.

"Essas montadoras conseguem esse preço porque têm um processo de manufatura muito mais em conta do que o de qualquer outro mercado mundial, além disso têm volume de produção, já que são as maiores fabricantes de carros eletrificados do mundo", informa.

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