Assim como moto substituiu o jegue, scooter pode ser nova "moto de entrada"

Em uma época nem tão remota assim, na metade dos anos 1980, a motocicleta no Brasil vivia um momento de transição: de veículo outrora exclusivo, importado, caro e prioritariamente usado como objeto de lazer, a maciça produção de modelos de pequena cilindrada em Manaus (AM) popularizou seu uso, destacando outra faceta: a do meio de transporte e de trabalho -- em muitos lugares, substituindo animais que faziam esta função.
A partir de então aconteceu uma brutal escalada, que "pilhou" o segmento que cresceu durante muitos anos à razão de dois dígitos. Foi uma maravilha até 2011, ano recordista em vendas no país, quando mais de 2 milhões de unidades foram vendidas. Mas eis que sobreveio a crise, e de 2012 para cá o mergulho foi constante, implacável, cruel.
Neste 2017, segundo os dados da associação dos fabricantes, a Abraciclo, a previsão das vendas é de mal superar 800 mil unidades, queda de cerca 5% no ano, brutais 40% desde o ano-recorde 2011.
Quais os motivos?
Tamanho declínio teve diversas causas, algumas evidentes como a fortíssima redução da atividade econômica no Brasil. Mas o que saltou à vista na recente divulgação dos dados do setor relativos ao 3º trimestre foi a forte evolução de um segmento em particular, o de scooters.
Nada menos que 62% de crescimento no acumulado de janeiro a setembro de 2017, se comparado ao mesmo período do ano passado. Esses números não deixam dúvida que, apesar da bola murcha da economia, o fenômeno mundial de scooters está em marcha também no Brasil.
Por que "também"? Simples: é este tipo de veículo que há anos se constitui em verdadeira "salvação da lavoura" do exigente e evoluído mercado europeu e da Ásia -- em países como Indonésia, Tailândia, Vietnã e obviamente os gigantescos China e Índia, scooters tem conquistado cada vez mais espaço.
Amigável
A razão do progresso dos scooters no Brasil e mundo afora é variada, mas existe uma explicação -em uma só palavra- para revelar a essência desse fenômeno por aqui: o scooter é amigável.
Enquanto a moto -- especialmente as grandonas -- sobrevivem às custas de redutos de apaixonados, aqueles usuários "por lazer" que eram os motores do consumo de muitas décadas atrás, o atual comprador de scooter, seja ele pequeno, médio ou grande, está mais interessado em aspectos relacionado à praticidade e facilidade de uso.
Vento na cara, sensação de liberdade? Marqueteiros interessados em vender scooters devem esquecer tais estereótipos e mirar em palavras como "economia", "facilidade" e "praticidade". Os compradores desses veículos não querem pertencer a tribo e tampouco frequentar encontros de adoradores das duas rodas, mas apenas ir do ponto A ao B suavemente, com seus pés e pernas protegidos atrás de carenagens e levando seus pertences bem abrigados nos compartimentos sob o assento. Ah, e se houver um para-brisa bem protetivo, melhor.
Este perfil do (novo) consumidor está contrariando a regra do declínio das vendas de veículos de duas rodas no Brasil. É claro que há gente que já usava motocicletas e escolhe o scooter pelas vantagens assinaladas, como também há gente que opta por este veículo porque está cansado (a) de se arrastar em congestionamentos dentro de automóveis. E ainda existem aqueles que jamais teriam uma motocicleta, mas veem nos scooters a ferramenta ideal para a mobilidade nas grandes cidades.
Às vésperas do Salão das Duas Rodas de São Paulo, cuja abertura está prevista para o dia 14 de novembro, o fabricante que não tiver em seu estande ao menos um modelo competitivo para o nosso ora pulsante segmento de scooters estará fadado ao fracasso.
O Brasil ainda é um país que -- com a economia reagindo -- poderá absorver milhões de motonetas e motocicletas de pequena cilindrada, que ainda são a base crucial para transporte especialmente nas regiões norte e nordeste.
Mas é inegável que a genialidade do democrático e sobretudo amigável scooter foi definitivamente capturada -- e a tendência é vermos cada vez mais este tipo de veículo rodando nas mãos de quem, inclusive, jamais pensou em rodar com nada que tivesse duas rodas e motor.
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