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O que Dória pode fazer para melhorar as condições dos motociclistas de SP?

Melhorar as condições das vias, criar vagas e ouvir os motociclistas: a cidade depende dos motociclistas, prefeito - Mario Villaescusa/Infomoto
Melhorar as condições das vias, criar vagas e ouvir os motociclistas: a cidade depende dos motociclistas, prefeito Imagem: Mario Villaescusa/Infomoto

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

03/04/2017 10h00

Colunista dá cinco sugestões para a Prefeitura da maior cidade do Brasil

São Paulo é a maior cidade do Brasil e tem a maior frota de motocicletas em circulação. De acordo com o Denatran, em dezembro de 2016 foram contabilizadas 1.044.559 motos, motonetas e ciclomotores na capital paulista.

Poucas cidades do planeta exibem semelhante multidão de veículos de duas rodas a motor zunindo em suas ruas e avenidas, e de nada adianta uma parcela dos habitantes da paulicéia enxergarem a motocicleta mais como problema do que solução, pois os números do próprio Denatran os contradiria.

De dezembro de 2015 a dezembro de 2016, essa frota cresceu cerca de 3,7%, enquanto a de automóveis aumentou menos, 2,4%, indicando que a tendência dos últimos anos está mantida, apesar (e inclusive) por causa da crise econômica. Cada vez mais paulistanos se rendem a agilidade e economia dos veículos de duas rodas.

Frequentemente acusadas de serem a "praga" das ruas e avenidas da maior metrópole do hemisfério sul, rodar de motocicleta na cidade de São Paulo é um desafio, nem tanto pelas características intrínsecas do veículo, mas principalmente pelo ambiente hostil da cidade. Mas não há registro de algum prefeito de São Paulo que tenha verdadeiramente se empenhado em oferecer melhores condições aos motociclistas em crescimento.

Na gestão Gilberto Kassab (2006-2012), algumas motofaixas foram implantadas mas a pretensão de expandi-las logo se arrefeceu. Com Fernando Haddad (2013-2016) no comando, todas as motofaixas foram extintas e os motociclistas morreram de inveja da atenções direcionadas à bicicleta, tratada como se fosse a solução definitiva para o transporte -- e não como mais uma boa opção para se locomover.

A atual gestão de João Dória não deverá retomar o modelo de segregação, apesar da grande maioria dos motociclistas da cidade ter protestado vivamente contra o término de suas vias exclusivas. Porém, há coisas bem mais básicas a fazer em prol da segurança dos motociclistas.

Quais? Vamos lá:

1) Melhorar a pavimentação

Habilidade é pressuposto básico para qualquer um andar de motocicleta, mas o estado lastimável da pavimentação em toda a cidade exige mais do que simples habilidade: exige um anjo da guarda dos melhores. O problema não está apenas em conseguir controlar a motocicleta e evitar o tombo ao encarar um buraco ou irregularidade do piso, mas também conviver com outras consequências que mau estado da via acarreta: o carro (ou caminhão, ou ônibus) que freia ou desvia bruscamente para evitar a cratera ou a armadilha que representa um desnível do piso em dia chuvoso em uma cidade em que chuva é quase sempre sinônimo de caos.

2) Repensar e restaurar a sinalização de solo

Se criar vias segregadas para as motocicletas como ocorreu no passado é algo que os especialistas julgam inadequado (apesar dos motociclistas considerarem positivo), organizar o trânsito é obrigatório e para isso nada melhor do que caprichar na pintura das faixas, também nas de pedestres, e criar mais áreas de contenção para motos.

É inaceitável a quantidade de avenidas de grande fluxo onde as faixas de rolamento desapareceram há muito por simples desgaste ou remendos no asfalto. Sem elas o trânsito fica desorganizado, o que prejudica tanto ao motorista que não consegue se posicionar corretamente como ao motociclista, a parte frágil na bagunça em movimento. Uma ideia a considerar: posto que nas vias de muitas faixas há um consenso sobre qual é o local de circulação preferido dos motociclistas, tornar esta faixa, a da esquerda, mais larga do que as outras, oficializando o que já é padrão. Importante: a tinta das faixas deve ser antiderrapante.

3) Eliminar obstáculos

A boa intenção de usar tachões refletivos para a separação de faixas, criar rotatórias ou determinar espaço entre as pistas precisa considerar a diferença que existe entre os veículos de quatro rodas e os de duas. Um pneu de automóvel ou caminhão quando por razão "x" ou "y" atropela um desses equipamentos de sinalização já pode sofrer um rasgo ou deformação.

Já para uma moto, o encontro forçado não se resume a um dano material, mas físico. Tendo em vista a quantidade de motos circulando, não é coerente adotar sinalização excessivamente protuberante. Outra boa iniciativa seria que os meios-fios em locais estratégicos -- cruzamentos por exemplo -- não fossem em ângulo reto em relação ao solo, mas sim inclinados e de preferência mais baixos. Não entenderam? Simples: como é em muitas cidades europeias.

4) Criar mais vagas

Visto que a população toda se beneficia da agilidade proporcionada pelos motofretistas ou do ato de benemerência que um motociclista a mais na rua representa para a melhor fluidez do trânsito, que tal oferecer mais vagas de estacionamento, os chamados bolsões para motos? Os lugares de São Paulo onde há maior dificuldade em estacionar uma moto são conhecidos. Aumentar e/ou facilitar o estacionamento favoreceria a toda a população circunstante. Outra boa iniciativa seria a de franquear aos motofretistas o direito de estacionar na zona azul sem pagar. Afinal, o interesse deles não é passar o dia ocupando uma vaga, mas sim entregar a encomenda rapidinho e se mandar, certo?

5) Pesquisa e comunicação

Todos sabem que para resolver um problema é necessário estudá-lo e entendê-lo. Investir em pesquisa no intuito de conhecer mais à fundo as necessidades que envolvem os motociclistas poderia solucionar boa parte desses problemas. Saber onde, como, quando e porquê a coisa dá errado, ou não funciona como deveria, é simples: basta pesquisar.

Outro ótimo investimento seria direcionado a harmonizar a convivência entre motociclistas e motoristas, uma campanha forte, ensinando o que um deve saber sobre o outro, que a motocicleta tem um equilíbrio peculiar que deve ser respeitado e que motoristas não tem dezesseis olhos e nem a capacidade de fazer seus veículos encolherem quando ouvem insistentes buzinadas. Ou seja, tolerância  e respeito.

Sabemos que administrar uma megalópole não é simples, demanda boa vontade, atitude, espírito positivo e especialmente humildade: lembrar a toda hora que é impossível saber tudo e que ouvir os diretos interessados pode ser a melhor saída para problemas que os envolvem, direta ou indiretamente, e que parecem insolúveis.