Exaltando mulheres negras, Salgueiro gera polêmica com blackface na avenida
O Salgueiro veio para a segunda noite de desfiles do grupo especial do Rio, na madrugada desta terça (13), com a proposta de homenagear a mulher negra, mas acabou gerando polêmica.
A bateria, com a fantasia Faraós Negros, veio com ritmistas com o rosto pintado de preto, procedimento conhecido como blackface (prática teatral popular no século 19 em que atores brancos pintavam o rosto para representar personagens negros de forma exagerada e estereotipada). Nas redes sociais, internautas apontavam a incoerência de usar uma prática com histórico de racismo em um desfile que deveria exaltar a cultura negra.
A comissão de frente, que encenava a criação do mundo, também foi criticada por usar blackface e por ser composta em sua maioria por homens, mesmo representando as primeiras mulheres que deram origem à humanidade.
Ao fim do desfile, o UOL questionou o mestre de bateria Marcão sobre o blackface, mas ele negou qualquer conotação negativa, lembrando que a maior parte dos ritmistas são negros. "São negros que se pintaram de negros. É nossa raça, olha pra eles ali. É a cor, tá no sangue, não tem jeito. E quem não é também tá no sangue. Acho que todos nós somos amigos, somos irmãos, não tem esse bagulho de racismo. Muita gente leva para o outro lado, mas dentro da bateria, não".
"A gente sabe muito bem que, infelizmente, racismo existe. Mesmo que seja pouco, mas existe", completou o ritmista Marcela Santana Pereira, 31, há dez anos na bateria do Salgueiro. "Mas a intenção da nossa bateria ou do carnavalesco, mestre, presidente, não foi em nenhum momento essa questão do racismo. Se a gente tirasse o black face, [a fantasia] não ia dar o impacto que tinha que dar", acredita.
O restante do desfile se propôs a exaltar mulheres negras que deixaram sua marca na história da humanidade e nem sempre são lembradas, as "Senhoras do ventre do mundo" do enredo. A história começou no Éden Africano do carro abre-alas, lembrou personagens como a Rainha de Sabá, passou pelo Egito, com a rainha da bateria Viviane Araújo como a faraó Hatshepsut, e focou ainda guerreiras como Tereza de Benguela.
A escola, no entanto, enfrentou problemas no acabamento de várias alegorias. No abre-alas por exemplo, duas girafas foram danificadas e tiveram que ser concertadas às pressas na concentração, mas as fissuras no pescoço dos bichos ainda era visível no desfile. Encerrando, o último carro fez uma releitura da famosa escultura "Pietà", de Michelangelo, como uma mulher negra.
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