Do lado de quem não acredita que esse aumento de fato da depressão exista, há a crença de que o que realmente mudou foi a definição da doença. "Desde 1980, a psiquiatria e as outras profissões de saúde mental usaram uma definição de depressão que confunde o transtorno depressivo genuíno com estados de tristeza intensos, mas normais", escrevem os autores de "A Perda da Tristeza".
Segundo eles, desde que a terceira versão do DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria) foi publicada em 1980, a psiquiatria se baseou principalmente em uma lista de sintomas para sua definição de transtorno depressivo. Então, alguém que tem cinco sintomas de uma lista que inclui humor deprimido, perda de interesse em atividades habituais, insônia, fadiga, apetite diminuído, incapacidade de se concentrar e sintomas semelhantes por um período de duas semanas é considerado como tendo um transtorno depressivo.
Para Mari, entretanto, não houve uma diferença significativa no ponto de corte para se determinar o diagnóstico de depressão do DSM—III ao DSM-V, nem do CID10 para o CID11, que são os manuais atuais que determinam os critérios e diretrizes para se fazer um diagnóstico de depressão.
"Realmente, não existe um exame capaz de confirmar que alguém está deprimido, mas ao se fazer uma conexão entre os sintomas e a vida da pessoa, é possível fazer o diagnóstico correto", diz ele. Para a depressão se caracterizar como problema clínico, é preciso que haja uma mudança qualitativa na vida da pessoa, sendo este um estado duradouro e persistente por pelo menos duas a quatro semanas, com impacto funcional relevante nas relações pessoais e funções educacionais e/ou ocupacionais.
A tristeza é passageira, mas a depressão te habita. No transtorno, o vazio e a desesperança invadem o cotidiano Jair Mari, psiquiatra
Há uma crítica forte em relação ao DSM. Mas a depressão como doença que vai pegar uma serie de sinais e sintomas em que você vai fazer a história do paciente de maneira adequada e não são os critérios do DSM que determinam se a pessoa tem ou não depressão, segundo Carvalho. "Tem a ver com sofrimento e impacto na vida dela. Tem depressão que não tem tristeza. São coisas diferentes que podem estar ligadas ou não."