Andar descalço não dá resfriado - mas friagem é perigosa; entenda o porquê

Ao contrário do que dizem as avós, andar descalço no frio não causa resfriado. A doença é originada por um vírus, transmitido de pessoa para pessoa por meio de gotículas contaminadas que são eliminadas pelo espirro, pela tosse ou até ao falar. Ou seja, sem vírus não há resfriado.

Funciona assim: quando os microrganismos atingem nossas mucosas, o nariz começa a escorrer, tossimos, temos dificuldades para respirar etc. Mas isso só acontece se houver a presença desses vírus (e bactérias também).

Caso contrário, a única coisa que nosso corpo sentirá ao ser exposto a um vento frio ou a um sorvete gelado, por exemplo, será o frio.

A transmissão do resfriado acontece de três formas principais:

  • De pessoa para pessoa: acontece quando nos aproximamos de alguém com resfriado e entramos em contato com gotículas de saliva contaminada com o vírus, expelidas por meio da fala, da tosse, dos espirros etc.;
  • Por meio de objetos (maçaneta, torneira, telefone etc.): acontece em duas etapas. Na primeira, uma pessoa resfriada deposita saliva com vírus sobre um objeto. Depois, uma pessoa saudável toca esse objeto e, em seguida, leva as mãos até os olhos, nariz ou boca, sendo então infectada pelo vírus.
  • Pelo ar: os vírus do resfriado ficam pairando no ar quando alguém espirra, podendo então ser inalados por outra pessoa. Isso acontece principalmente em ambientes fechados, quando não há circulação do ar.

Estudos

Muitos estudos tentaram relacionar temperaturas baixas e resfriados, mas nenhum deles conseguiu provar qualquer ligação. Pesquisadores da Universidade de Virgínia, nos EUA, por exemplo, inocularam um mesmo vírus causador de resfriados em dois grupos de voluntários.

Um dos grupos ficou por mais de uma hora dentro de uma espécie de geladeira e depois mais um tempo fora, só de cueca. Já os outros permaneceram bem agasalhados e aquecidos. O resultado? Todos ficaram doentes.

Embora não exista nenhum dado que afirme que o frio seja o causador da gripe, é correto dizer que no inverno o número de pessoas gripadas é maior. Quando a temperatura está baixa, é comum passarmos mais tempo em locais fechados e quentinhos. A aglomeração de pessoas em um ambiente aquecido é um dos lugares prediletos dos vírus, que vão passando de um indivíduo para o outro.

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Mas a friagem pode fazer mal?

Dê os créditos à vovó: "pegar friagem" pode fazer mal sim. Embora a presença do vírus seja obrigatória para que haja a instalação de um resfriado, o frio (ou a friagem) pode causar reações que contribuem para que o sistema respiratório fique vulnerável aos "ataques" de vírus causadores do resfriado e da gripe e, principalmente, iniciem uma crise de rinite alérgica.

Além disso, a friagem pode representar uma ameaça à temperatura interna do corpo, que deve estar entre 36,6 e 37,1 ºC para que todos os órgãos funcionem normalmente.

Por isso, quando passamos frio, os vasos sanguíneos se contraem, de forma a direcionar o sangue da pele e das extremidades para o interior do corpo, mantendo os órgãos internos aquecidos. Como resultado, ocorre um prejuízo na circulação do sangue e consequentemente dos anticorpos, nos deixando mais vulneráveis às infecções das vias respiratórias, especialmente resfriados, gripes e faringites.

Mudança de temperatura ataca a rinite

Especialistas afirmam que andar descalço ou tomar friagem está muito mais ligado aos processos de rinite alérgica. Esses sim podem piorar com as mudanças de temperatura. Ao contrário da gripe e do resfriado, a doença não está ligada a vírus, mas sim a uma inflamação da mucosa do nariz que ocorre ao entrar em contato com algum agente causador de alergias, principalmente os ácaros.

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A variação brusca da temperatura, principalmente do quente para o frio, pode desencadear um processo alérgico no sistema respiratório em pessoas sensíveis. Quando pisamos em um chão frio, por exemplo, nosso organismo pode interpretar que aconteceu essa variação e então desencadear crises de espirro, coriza e obstrução nasal. Assim como no resfriado, durante uma crise de rinite alérgica, há uma contração dos vasos sanguíneos do trato respiratório.

Fontes consultadas: Paulo Camiz, médico geriatra e clínico geral, professor da Universidade de São Paulo (FMUSP); e Mauro Gomes, pneumologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e chefe de equipe de Pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo.

*Com matéria de setembro de 2022

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