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O que acontece no seu corpo quando você fica apaixonado

Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

26/03/2024 04h05

A paixão mexe, sim, com a nossa cabeça. O que muita gente não sabe é que isso é tão antigo quanto a vida humana na terra. Afinal, só chegamos até aqui graças à nossa capacidade de interagir com os outros para viver, crescer e reproduzir.

Como somos seres sociais, amar é considerado uma necessidade biológica originária, tão básica quanto comer quando se tem fome, ou beber quando se tem sede. No caso da paixão, classificada pelos especialistas como um tipo de amor, ela se manifesta por meio de uma intensa excitação emocional e sexual.

Capaz de promover muito prazer e também muito estresse, esse sentimento pode ser o primeiro passo para a formação de um vínculo amoroso que nos estrutura, fundamenta e edifica porque nos confere a sensação de vida plena que contrasta a nossa finitude.

Os millennials lideram com 67% de satisfação no amor.

Entre a geração X, índice é de 61%.

59% de pessoas das gerações Z e boomers se declaram felizes no amor.

Índia (76%), México (76%) e China (76%) lideram o ranking dos mais contentes com a vida sexual e amorosa. Coreia do Sul (45%) e Japão (37%) são os menos satisfeitos.

83% dos casados ou dos que vivem em parceria estão felizes em suas relações.

No Brasil, 60% declararam insatisfação com a vida amorosa e sexual. O país figura entre os que pior avaliam a situação do relacionamento atual. Dados da Ipsos.

Como o organismo lida com tanta emoção

Os mecanismos por trás da paixão iniciam pela ativação de partes muito primitivas do sistema de recompensa do cérebro (sistema límbico e núcleo accumbens), e depois avançam para outras áreas que desencadearão uma série de respostas, que os cientistas classificam em três fases distintas:

  • Desejo sexual
  • Atração
  • Afeto

Você percebe o corpo do outro como um ímã

Ao se deparar com determinada pessoa, o interesse por ela se manifesta de forma intensa por meio do desejo sexual. Tudo o que se espera é ser seduzido ou seduzir por meio de estratégias detalhadamente pensadas. Essas sensações são ativadas por meio da secreção de hormônios como a testosterona (homens) e o estrogênio (mulheres).

Esse processo está presente em diferentes espécies e imagina-se que se trata de uma atividade básica que permite que os genes sejam passados para frente.

Nessa fase inicial, prevalecem os componentes eróticos da atração.

Dados da psicologia comportamental esclarecem que essas manifestações se identificam com o que conhecemos como "amor à primeira vista", uma atração que se sustenta somente em informações sensoriais visuais, táteis, auditivas, gustativas, olfativas, etc.

Você sente que vive em uma ilha

Quando a paixão se instala, a vida parece parar. O que realmente importa é a presença do outro. Esses comportamentos são o resultado de um coquetel químico cujos principais ingredientes são a dopamina, a serotonina, a noradrenalina e o cortisol.

Dopamina: relaciona-se à motivação e à recompensa. Ela ajuda no foco para alcançar objetivos, e até fantasiar sobre eles. O neurotransmissor também desencadeia maior interesse pelo novo —ou seja, o crush passa a ser o mais querido, especial e único. Sob esse efeito hormonal, os possíveis defeitos são completamente ignorados, ou seja, o amor é cego.

Serotonina: aqui os resultados dos estudos não são consistentes. Acredita-se que nos primeiros tempos da paixão, seus níveis caiam. Taxas baixas de serotonina estão associadas ao transtorno obsessivo-compulsivo e pensamentos obsessivos. Isso explica aquela vontade de mandar mensagem a toda hora e a expectativa de que as respostas cheguem a cada fração de segundo.

Noradrenalina e cortisol: o corpo fica em estado de alerta o tempo todo. E é essa a ação desses neurotransmissores: o coração bate forte, a fome desaparece e o sono também, é preciso estar focado porque não há tempo a perder.

Você só quer viver feliz para sempre

As emoções e sentimentos intensos vividos durante os primeiros momentos da paixão podem ser definidos como um tipo de estresse.

Como não seria possível manter-se nesse estado por longos períodos, existem estimativas que após cerca de 4 anos, os níveis de dopamina caiam. Houve tempo suficiente para acessar outros elementos sobre o outro, isto é, preferências comportamentais e possíveis aversões.

Em condições adequadas, a paixão evolui para um vínculo no qual está presente o amor erótico (paixão), companheirismo e sentimentos de respeito, entrega e benevolência que estão associados a relacionamentos amorosos duradouros.

As mudanças dessa fase que concorrem para que haja uma ligação mais profunda entre o casal são mediadas pelos seguintes hormônios:

Ocitocina: o neuropeptídeo está presente nos grandes mamíferos e tem ação reprodutiva, ajudando na expulsão do feto do útero, estimulando o leite materno e o vínculo entre a mãe e o bebê. Sua secreção é estimulada durante a prática sexual, reforçando a ligação entre o casal.

Vasopressina: também um neuropeptídeo, ela estimula a retenção de água e a concentração da urina durante a desidratação.

Juntos, eles estão mais disponíveis no cérebro para regular o comportamento amoroso de pais e mães em relação aos filhos, mas a ocitocina tem seu lado B: ela se associa a comportamentos de apego, dependência e ciúmes.

Dá para ser feliz com outro tipo de paixão?

Imagem: PeopleImages/Getty Images

Dá, sim, mas é diferente. Dedicar-se a um projeto, uma causa ou uma atividade que dá prazer pode motivar e trazer alegria e satisfação, mas os especialistas consultados concordam: apaixonar-se por uma pessoa envolve outros componentes.

Nessas situações, o sistema de recompensa do cérebro não pode contar com a ação da testosterona e do estrogênio, e nem com a interação entre ocitocina e a vasopressina que ajudam a fortalecer laços e a cumplicidade.

Relacionamentos amorosos ainda inspiram um desejo de continuidade, de construção visando o futuro, o que nem mesmo a relação entre pais e filhos admite. No caso destes, se tudo der certo, a separação é certa porque eles estarão aptos para viver de forma independente.

Benefícios de ser um casal para a saúde

A literatura médica já identificou os efeitos para a saúde de estar em um relacionamento. Quando eles são positivos, podem estar presentes comportamentos que melhoram os seguintes quadros:

  • Qualidade do sono
  • Prática de exercícios físicos
  • Adoção de dieta saudável
  • Redução do aparecimento de inflamações
  • Melhora das defesas do organismo
  • Redução do estresse

A melhora generalizada do estilo de vida pode ter como resultado a redução do risco para doenças como a obesidade, a síndrome metabólica e o diabetes, o que colabora para diminuir o risco de morte precoce, ou seja, quem ama, vive mais.

Fontes: Ana Suy Sesarino Kuss, psicanalista, professora da pós-graduação da PUC-PR, doutora em pesquisa e clínica em psicanálise, mestre em psicologia, especialista em psicologia clínica (abordagem psicanalítica); Talísia Vianez, neurologista do Instituto Senescer e do Hospital Universitário Getulio Vargas da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), mestre em ciências da saúde pela Ufam; Gabriela Serafim Michelin, psicóloga clínica analítico-comportamental, chefe da equipe de psicologia do Serviço de Psiquiatria e Neuropsicologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP; e Talísia Vianez, neurologista do Instituto Senescer e do Hospital Universitário Getulio Vargas da Ufam. É também mestre em ciências da saúde pela mesma instituição. Revisão técnica: Gabriela Serafim Michelin e Talísia Vianez.

Referências:

APA (Associação Americana de Psicologia)

Ipsos: Pesquisa Global Love Life Satisfaction', 2024.

Kiecolt-Glaser JK, Wilson SJ. Lovesick: How Couples' Relationships Influence Health. Annu Rev Clin Psychol. 2017.Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5549103/

Carter CS, Porges SW. The biochemistry of love: an oxytocin hypothesis. EMBO Rep. 2013. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3537144/

Fisher HE, Aron A, Mashek D, Li H, Brown LL. Defining the brain systems of lust, romantic attraction, and attachment. Arch Sex Behav. 2002 Oct. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12238608/

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