Mais cara e duradoura: cirurgia usa gordura para rejuvenescer rosto

Depois de perder 10 kg em cinco meses, a engenheira Ana Carolina Oliveira, 29, começou a se incomodar com o aspecto envelhecido do rosto. A rápida perda de gordura tirou a sustentação da face e deixou a pele flácida.

"Me incomodava a olheira e a falta de estrutura no malar", detalha. Então, ela buscou procedimentos alternativos ao ácido hialurônico (AH) — usado para rejuvenescimento facial—, pois relatos de complicações com o uso do produto a fizeram descartar a opção.

Após muito pesquisar, encontrou a lipoenxertia facial e se informou melhor com um cirurgião plástico.

O procedimento consiste em aplicar no rosto a gordura da própria pessoa, que pode ser retirada do abdome, da parte interna das coxas ou dos joelhos.

Não se trata de uma lipoaspiração como ouvimos falar, mas de uma coleta de gordura com seringas.

"O uso da gordura para rejuvenescimento dá volume e tem função de bioestimulação, que melhora a qualidade, espessura da pele e coloração de olheiras", explica Yuri Moresco, cirurgião plástico que fez a lipoenxertia em Ana Carolina.

Para ela, preço, durabilidade e aspecto natural contaram muito para a escolha do procedimento. "O que mais me chamou atenção foi não precisar refazer. Era uma preocupação que eu tinha, porque com ácido hialurônico você vira refém, mas a gordura fica", ela comenta.

Em termos financeiros, a lipoenxertia é mais cara, mas ao comparar o que gastaria com ácido hialurônico para preencher olheiras, malar, queixo e boca, a engenheira viu pouca diferença. Ela disse que se optasse pelo AH, precisaria de oito a nove seringas —cada uma custa em torno de R$ 1.000.

Com informação e expectativas alinhadas, Ana Carolina fez o procedimento em novembro do ano passado, que durou cerca de uma hora. A gordura foi retirada do joelho, algo que já a incomodava também. No pós-operatório, o inchaço foi a consequência mais relevante, que melhorou em 20 dias.

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Injetar gordura no rosto

Preencher o rosto com gordura é um procedimento até comum no ramo das cirurgias plásticas.

A lipoenxertia começa no final do século 19 com o objetivo de reparação, conta José Carvalho, membro titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e chefe do setor de cirurgias faciais da Unifesp.

Deformidades nas mamas devido a um câncer e acidentes que danificam estruturas do corpo podem ser indicados para o procedimento.

Na face, a técnica é usada, por exemplo, em pessoas com síndrome de Parry-Romberg, condição rara que causa atrofia de um dos lados do rosto.

Com fins puramente estéticos, a gordura passou a ser uma opção no início dos anos 2000, com mais estudos mostrando que o tecido adiposo é rico em células-tronco e ativos bioestimuladores.

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Na parte estética, há duas abordagens para uso da gordura

  • Volumização: com o envelhecimento, o rosto perde gordura e, consequentemente, forma. A lipoenxertia, portanto, tem a finalidade de preencher e dar volume à região.

Não existe nada mais natural do que repor o volume perdido com o mesmo tecido e autólogo (da própria pessoa). José Carvalho, cirurgião plástico

  • Bioestimulação: o tecido adiposo, de gordura, tem uma fração chamada estromal vascular que é rica em células-tronco, fatores de crescimento e fibroblastos, células que produzem colágeno. Quando aplicada na pele, ela promove hidratação, reparação e aumenta a vascularização.

Quem pode fazer lipoenxertia na face?

Pessoas que perderam volume na face devido ao natural processo de envelhecimento ou que ainda são jovens e desejam melhorar o aspecto, realçar ou projetar parte do rosto. Os casos são avaliados individualmente.

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A cirurgiã plástica Adriana Afonso, que atende em Juazeiro do Norte (CE), diz que o contexto também determina a escolha. "Para quem quer um resultado rápido ou restauração sutil, tratamentos com ácido hialurônico, que já existe na pele, são mais seguros", afirma.

Em casos raros de complicações —que podem ocorrer por técnica inadequada—, a aplicação de hialuronidase dissolve o ácido e reverte o procedimento.

Se o quadro requer grande quantidade de preenchimento ou a pessoa não deseja bancar a manutenção com ácido hialurônico, a lipoenxertia é uma opção.

Em qualquer dos casos, valem algumas considerações:

Diferente do AH, a gordura transferida para o rosto permanece por muito mais tempo. Mas se uma pessoa jovem faz lipoenxertia, precisa saber que, com o envelhecimento, essa gordura será perdida. O procedimento não é para sempre.

Além disso, espera-se que a pessoa que faz lipoenxertia na face não altere tanto o peso, pois engordar ou emagrecer muito vai alterar o resultado da cirurgia. Uma oscilação de 5% é aceitável.

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Não é toda a gordura injetada que vai permanecer. O corpo naturalmente absorve parte dela, então o resultado final em termos de volume é visto em cerca de três meses.

Indicações para lipoenxertia

No caso de alterações faciais decorrentes do envelhecimento, o procedimento trata:

  • Rugas profundas na testa e entre as sobrancelhas
  • Caimento da pálpebra inferior
  • "Bolsas" na região das olheiras
  • Dobras nasolabiais ("bigode chinês")
  • Papada
  • Contorno deficiente do maxilar
  • Lábios finos
  • Queixo retraído

Contraindicações

Segundo as fontes consultadas, não há contraindicações específicas para a lipoenxertia na face. Mas um artigo que analisa o procedimento contempla situações que precisam ser consideradas e avaliadas individualmente na pessoa.

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  • Possível rejeição da gordura, caso raro porque o material é da própria pessoa.
  • Como não há estudos suficientes, não se realiza em pessoas com câncer na face, uma vez que as células de gordura têm fatores de crescimento que poderiam estimular também o aumento das células tumorais.
  • Probabilidade de instabilidade no volume da gordura, como em casos de perda de peso planejada ou ganho de peso contínuo.
  • Histórico de reabsorção completa ou subtotal da gordura enxertada.
  • Pessoas com condições que podem afetar o fluxo sanguíneo ou a cicatrização de feridas.
  • Pacientes que fizeram lipoenxertia para reconstrução ou recontorno mamário podem observar formação de nódulos ou calcificações.

Riscos da lipoenxertia

O uso das técnicas adequadas reduz os riscos do procedimento, mas o mesmo artigo indica complicações associadas:

  • Hematomas são comuns;
  • Necessidade de correção devido à transferência de excesso de gordura, transferência de volume insuficiente ou reabsorção excessiva da gordura enxertada;
  • Bolhas;
  • Cicatrizes;
  • Amontoamento de tecidos ou deformidades palpáveis;
  • Irregularidades de contorno;
  • Dor no local da aplicação devido à anestesia inadequada;
  • Deformidade na área doadora devido à coleta excessiva ou desigual de gordura ou violação de uma zona de aderência;
  • Cegueira por obstrução da artéria oftálmica;
  • Acidente vascular cerebral devido à obstrução da artéria carótida interna;
  • Embolia gordurosa.

As complicações estão mais associadas à capacitação do profissional que realiza o procedimento e ao uso da técnica.

Qual profissional procurar?

Por se tratar de um procedimento cirúrgico, a lipoenxertia na face deve ser realizada por profissional da medicina especializado e habilitado em cirurgia plástica. A pessoa precisa dominar as técnicas de lipoaspiração.

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O procedimento só deve ser feito após planejamento cuidadoso, sendo fundamental identificar a localização e profundidade adequadas das regiões que vão receber os enxertos.

Profissionais que compreendem essas estruturas da face são capazes de selecionar as áreas apropriadas para transferência de gordura e determinar tanto o volume necessário quanto as técnicas e equipamentos ideais.

O que saber antes do procedimento

  • É preciso fazer uma avaliação pré-operatória para concluir a indicação ou contraindicação do procedimento, uma vez que algumas condições médicas podem afetar o resultado.
  • Profissional e paciente devem conversar sobre os riscos, benefícios e alternativas ao procedimento. Discutir expectativas e elucidar dúvidas também é importante.
  • Pacientes muito magros ou com metabolismo mais alto podem ter resultados mais sutis.
  • Ao concordar com a cirurgia, você assinará um termo de consentimento informado.
  • A escolha dos locais de onde a gordura será retirada deve ser discutida, e as áreas receptoras devem ser examinadas cuidadosamente para determinar a quantidade de gordura necessária para o procedimento.
  • Essas duas regiões devem ser preparadas: os homens, por exemplo, podem precisar raspar os pelos faciais para melhorar a visualização. Zonas de aderência, com fibrose, devem ser evitadas para retirar gordura e marcadas previamente.
  • O procedimento pode ser feito sob anestesia geral ou anestesia local (com ou sem sedação).

Cuidados pós-operatório

  • Seguir com o acompanhamento médico.
  • O rosto pode ficar inchado e com manchas roxas nos três primeiros dias, ao que é indicado fazer compressas frias. Mas o excesso de gelo pode contrair os vasos sanguíneos e há risco de perda do enxerto.
  • Manter repouso relativo na primeira semana, sem atividades vigorosas (nada de academia), para evitar que os vasos sanguíneos se dilatem e aumentem o inchaço.
  • Não se expor ao sol na primeira semana.
  • Evitar massagear o rosto para não deslocar a gordura, a fim de que se estabilize corretamente.
  • Manter o peso, sem alterações bruscas.

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