Tremores são sempre sinal de Parkinson? O que mais podem ser?

O Parkinson é uma doença neurodegenerativa sem cura que afeta cerca de 100 a 200 pessoas a cada 100 mil habitantes, sobretudo entre a população com mais de 65 anos —o Ministério da Saúde estima que atualmente 200 mil brasileiros tenham a doença. Entre os sintomas mais frequentes dessa condição estão alterações na fala, tremores, instabilidade postural, rigidez muscular, lentidão ao se movimentar, mudanças no sono e até depressão.

Apesar de ser bastante comum nos quadros da doença, a presença de tremores costuma despertar dúvidas: tremor sempre indica Parkinson?

Nem toda tremedeira é sinal de Parkinson. Os tremores podem ser provocados por diversas causas e, assim, exigir diferentes tratamentos.

"O diagnóstico habitualmente começa por distinguir se o tremor apresentado ocorre predominantemente durante uma situação de repouso, durante a manutenção de uma postura ou durante uma ação", afirma Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Tremor de repouso: é característico da doença de Parkinson e acontece em situações de repouso. A pessoa treme enquanto os braços e mãos estão relaxados, seja quando estiver caminhando ou sentada com os braços apoiados sobre o corpo ou sobre os braços de uma cadeira.

Tremor postural: manifesta-se quando a pessoa assume alguma postura com os braços e as mãos, como o ato de segurar uma xícara, lápis ou controle remoto.

Tremor de ação: é observado durante movimentos com as mãos, como escrever, mexer no celular, escovar os dentes, levar um copo ou talheres à boca. Eles diminuem quando a pessoa está parada.

Pode ser tremor essencial

Enquanto o tremor de repouso faz parte do diagnóstico de Parkinson, o de ação é um sintoma de um distúrbio de movimento chamado tremor essencial, ou TE, que atinge 20% da população idosa no Brasil e se origina em uma região distinta do cérebro.

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É um erro comum as pessoas acreditarem que o tremor nas mãos está sempre relacionado à doença de Parkinson, isso não é verdade. A principal causa de tremor nas mãos é TE, algo muito mais frequente que a doença de Parkinson, e que tem outros tipos de tratamento. Embora seja uma condição que possa flutuar ao longo do tempo, ela não tem cura e é tratada com medicações bem diferentes daquelas utilizadas no Parkinson. André Felício, neurologista do Hospital Albert Einstein

Uma das principais diferenças com o Parkinson é que o TE interfere apenas na capacidade motora, não causando mais que incômodos de mobilidade. Seu diagnóstico é feito a partir da análise dos sintomas e de um exame neurológico —dependendo da idade, da saúde do paciente e do estágio em que a doença se encontra, os sintomas podem ser reduzidos com terapia de estimulação cerebral profunda, aplicação de toxina botulínica e medicação.

Outras causas

Os especialistas apontam inclusive para alguns problemas de saúde que apresentam manifestações neurológicas de doenças sistêmicas. Ou seja, alterações no metabolismo que funcionam como estopins para os tremores, tais como problemas renais, hepáticos e de tireoide.

Determinadas medicações também podem provocar tremores, como as substâncias utilizadas no tratamento de tontura, epilepsia, transtorno bipolar, enxaqueca, ansiedade e depressão, sobretudo os estimulantes do sistema nervoso central e os inibidores da recaptação de serotonina.

"Nesses casos, recomenda-se a suspensão ou substituição dos medicamentos que estejam causando esse efeito colateral e a correção de outros problemas bioquímicos ou metabólicos, como o excesso de hormônios tireoideanos e, para situações muito específicas, tratamento neurocirúrgico. Por isso, a avaliação médica é tão importante", afirma Evaristo.

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O presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), o médico geriatra Marco Tulio Cintra, acrescenta que, independentemente de haver tremor, qualquer alteração de mobilidade é sinal de alerta: "Sempre que um paciente notar que está andando mais devagar, que tiver alteração de marcha, que estiver com dificuldades de se mover em suas tarefas diárias, ele deve buscar ajuda profissional, porque esses são indícios de problemas neurológicos que pedem investigação".

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