Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Fiquei zonza': ela aplicou errado o adesivo de nicotina; como usar?

Adesivo de nicotina é seguro e faz parte do protocolo clínico do Brasil no combate ao tabagismo - Fabio Braga/Folha Imagem
Adesivo de nicotina é seguro e faz parte do protocolo clínico do Brasil no combate ao tabagismo Imagem: Fabio Braga/Folha Imagem

De VivaBem, em São Paulo

16/07/2023 04h00Atualizada em 17/07/2023 08h12

A estudante Carolina Freitas, 23, conta que quase sofreu uma overdose depois de usar adesivos de nicotina para tentar parar de fumar. Viciada em pods, os famosos cigarros eletrônicos que tanto mal fazem à saúde, ela buscou os adesivos, mas fez uso incorreto e sem acompanhamento médico.

Ao VivaBem, ela conta que decidiu usar os adesivos de nicotina depois de se ver dependente dos pods por dois anos — o custo alto dos cigarros eletrônicos, inclusive, pesava no seu bolso, mas Carolina não conseguia parar de fumar.

Ela foi orientada por uma farmacêutica sobre a necessidade de acompanhamento médico para usar os adesivos de nicotina, mas decidiu aplicá-los por conta própria depois de ler a embalagem do medicamento.

Só que a opção de fazer o tratamento sem acompanhamento acabou mal depois que ela esqueceu um detalhe: os adesivos liberam mais nicotina nas primeiras horas, diminuindo a emissão da substância conforme o tempo passa.

"O adesivo deve ficar na pele 24 horas. Eu coloquei um às 17 horas, mas ele caiu na madrugada. Eu pus um novo, mas esqueci que o nível de nicotina ia ser maior. As doses que já estavam no meu corpo, mais a nova dose que eu coloquei, me fizeram começar a passar mal", detalha Carol.

Além de trocar os adesivos fora do período adequado, a jovem não lavou o braço antes de fazer a nova aplicação, uma recomendação clara da bula para interromper o efeito do colante anterior.

"As instruções dizem que, ao tirar você tem de lavar com água, para parar o efeito do adesivo. Não pode ser com água e sabão, porque sabão aumenta a absorção de nicotina no corpo", explica.

Depois de trocar o adesivo ainda em casa, Carol foi para o apartamento de uma amiga. As duas viam filmes quando a estudante onde começou a sentir os efeitos da hiperdosagem de nicotina.

"A gente estava em frente à TV quando comecei a me sentir meio zonza. Não pensei muito porque tomo um outro remédio que pode dar enjoo, então tomei algo para a náusea e deitei. Mas o mal-estar só piorou. Foi aí que imaginei que fosse o adesivo. Tirei mas em poucos minutos tive que correr para o banheiro para vomitar", lembra.

Foi um alívio. Mas de novo, tirei e não lavei. Era madrugada, eu estava desesperada, então só joguei fora e voltei a dormir. Umas 5h, duas horas depois da primeira náusea, acordei com a mesma sensação. E isso continuou até umas 7h, quando finalmente dormi. Acordei muito depois, renovada.

"A gente sempre acha que é mais esperto que os outros, né? Não imaginei esse cenário."

Adesivo é seguro, mas exige acompanhamento

O adesivo de nicotina é seguro e faz parte do protocolo clínico do próprio SUS no combate ao tabagismo. Eles são aliados para quem busca parar de fumar. Por outro lado, é importante que o fumante procure auxílio médico para saber como ministrar corretamente.

"O adesivo é um produto medicamentoso que libera nicotina em uma concentração para ser usada durante um determinado tempo. Eles vêm na concentração de 21, 14 e 7 mg, mas a indicação das dosagens vai depender do nível de dependência química", explica Vera Borges, analista do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e integrante do Programa Nacional de Controle do Tabagismo.

Ela ainda destaca que o paciente não pode fumar em hipótese alguma durante o tratamento — seja pod ou cigarro tradicional. Isso porque o protocolo é pensado levando em consideração que o fumante receberá nicotina apenas dos adesivos. Se houver outra fonte da substância, a overdose é ainda mais provável.

"Se alguém fuma 40 cigarros e ganha prescrição de dois adesivos de 21 mg por dia, essa é a dosagem máxima que pode ser consumida. Alguém que passa dessa dosagem pode ter uma overdose", explica.

Diferentemente dos adesivos de nicotina, que são alternativas eficazes para o combate ao tabagismo, os cigarros eletrônicos são prejudiciais à saúde e viciantes. A aparência descolada de alguns deles, inclusive, contribui para atrair jovens ao tabagismo.

A venda dos cigarros eletrônicos é proibida no Brasil. Apesar disso, os dispositivos são encontrados em baladas e comércios — e não há clareza do quanto de nicotina eles liberam.

O cigarro eletrônico vem se mostrando extremamente danoso à saúde. Não ajuda a parar de fumar, como muitos disseram, e não é nem um pouco melhor que o cigarro convencional. É uma versão atualizada de um produto para uma entrega de nicotina
Vera Borges, analista do Inca

Como parar de fumar? Veja abaixo uma lista de dicas.

1. Dar o primeiro passo e buscar ajuda profissional

A primeira dica pode parecer óbvia, mas é importante: não é todo mundo que consegue parar de fumar por conta própria e muitos precisam de algum tipo de suporte médico e de recursos para conseguir abandonar o cigarro. Existe tratamento tanto medicamentoso quanto terapêutico que combate a dependência química e psicológica.

Além disso, buscar ajuda profissional permite criar um plano para parar de fumar que seja eficaz para o seu caso. Esse plano pode envolver o tratamento com medicamentos antidepressivos, como a bupropiona, ou ainda que atuam diretamente nos receptores cerebrais da nicotina, caso da vareniclina.

Adesivos e gomas de mascar podem atuar como complementos. Outro ponto em que o profissional pode ajudar é decidir se o melhor a se fazer é parar de fumar de uma vez ou aos poucos. Isso é algo que varia de pessoa para pessoa e leva em conta diversos fatores, como a quantidade de cigarros consumidos durante o dia.

O plano pode ser orientado por médicos, como psiquiatras, cardiologistas ou pneumologistas. Vale ressaltar que o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece diversos programas de combate ao tabagismo.

2. Evitar gatilhos associados ao vício

Cinzeiro - iStock - iStock
Para evitar cair em tentação, uma dica é jogar fora cinzeiros, maços de cigarro e isqueiros
Imagem: iStock

Os primeiros dias de abstinência do cigarro podem ser desafiadores. A melhor forma de evitar recaídas é, ao menos por um bom tempo, evitar os chamados gatilhos: aquelas situações fortemente associadas ao hábito de fumar.

Então, pode ser melhor recusar por um tempo convites para o happy hour, por exemplo. Como o cigarro também está presente na rotina e o fumante cria alguns hábitos na hora de fumar —-é muito comum que a pessoa fume e depois tome um café, por exemplo—, também é importante reconhecer esses comportamentos para evitar o desejo pela nicotina.

Outra dica é jogar fora cinzeiros, maços de cigarro e isqueiros. Isso evita cair em tentação.

"Nessa fase, é importante se distrair e tirar o foco do cigarro, fazer exercício físico e buscar fazer atividades que prendam a atenção, como leitura ou artesanato", acrescenta Carolina Salim, pneumologista e integrante do Grupo de Apoio ao Tabagista do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo.

3. Praticar atividade física

Como a pneumologista ressaltou, realizar exercícios físicos regulares é recomendado para quem deseja parar de fumar. Isso porque a atividade física libera hormônios que proporcionam bem-estar, melhora o humor e controla a ansiedade.

Além disso, técnicas de relaxamento, respiração e meditação podem ajudar a manter o foco nos momentos mais difíceis. Ficar relaxado ajuda no controle e respirar profundamente contribui para acalmar-se.

4. Montar um "kit fissura"

Kit fissura - Rivaldo Gomes/Folhapress - Rivaldo Gomes/Folhapress
'Kit fissura' com cravo, canela, uva passa e casca de laranja seca para ajudar os fumantes a abandonarem o vício
Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Quem está tentando largar o cigarro em diversos momentos vai sentir uma vontade enorme de fumar. Esse desejo é chamado fissura e é completamente "normal" e esperado. Uma dica para enfrentá-lo é montar uma espécie de "kit fissura", com balas e chicletes sem açúcar e frutas secas. Isso pode ajudar a produzir um sabor e dar a sensação de que tem algo na boca.

Mudar de ambiente, fazer uma caminhada e tomar banho também são boas estratégias para mudar o foco quando o desejo aparecer. Além disso, a água pode ser uma aliada: quando vier a vontade de fumar, beba um copo de água. O líquido ainda ajuda a desintoxicar o organismo, uma vez que a nicotina é liberada pela urina.

5. Buscar terapia comportamental

A psicoterapia é de grande auxílio nessa fase, especialmente para te ajudar a lidar melhor com situações associadas ao cigarro. O apoio psicológico pode ser necessário para reduzir as crises de abstinência, além de ansiedade e tristeza. Também é possível procurar terapias em grupo para dividir as dificuldades e incentivar a mudança de estilo de vida.

Terapia - iStock - iStock
O apoio psicológico pode ser necessário para reduzir as crises de abstinência, além de ansiedade e tristeza
Imagem: iStock

6. Ter uma alimentação balanceada

Quem fuma e está tentando acabar com o vício vive uma fase de muita ansiedade —e pode acabar descontando o sentimento na comida. Nesta fase, o ideal é se alimentar adequadamente, sem adotar dietas restritivas ou exagerar e comer demais. Uma dieta balanceada pode ajudar no processo.

7. Motivar-se

Criar uma lista de razões para parar de fumar e se manter sem o cigarro pode ser uma boa estratégia para motivar a si próprio. Você pode recorrer a essa lista quando pensar que irá ter uma recaída.

As razões para abandonar o vício podem ser mais gerais, como dados científicos que mostram que o cigarro está por trás de cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão, por exemplo, ou mais individuais —algumas pessoas desejam parar de fumar porque se tornaram avós e não querem que os netos sejam fumantes passivos, ou porque desejam ter filhos.

8. Ser paciente

A vontade de fumar não vai passar de um dia para o outro. É fundamental entender que o cigarro é um vício que precisa ser combatido e que esse processo pode demorar alguns meses. Por isso, se houver algum lapso ou recaída, não se culpe. Isso é algo normal e o mais importante é manter o seu objetivo claro e também procurar entender o que causou esse tropeço, a fim de que ele possa ser evitado no futuro.