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'Rosto de Ozempic': por que remédio está sendo ligado a mudanças no corpo?

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Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

23/06/2023 16h25

A hasthag "#ozempicface" ("rosto de Ozempic", na tradução livre) acumula dezenas de milhões de visualizações e postagens nas redes sociais no Brasil e no mundo. Ela se refere às pessoas cujo rosto ficou com aspecto envelhecido após uma perda de peso rápida usando Ozempic, remédio aprovado pela Anvisa para o tratamento do diabetes 2, mas que passou a ser injetado com ou sem receita médica por pessoas que querem emagrecer.

Essa mudança corporal se trata de um efeito comum que acontece no corpo de alguém que passou por uma perda de peso acelerada ou excessiva, com ou sem remédio, explica Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

O que está por trás do 'rosto de Ozempic'?

Perda acelerada de gordura subcutânea. A gordura que fica abaixo da pele é a chamada gordura subcutânea. No rosto, ela está presente principalmente na região das bochechas, dando sustentação à pele. À medida que envelhecemos, a quantidade de gordura subcutânea diminui e, por isso, é natural que a pele fique com um aspecto mais "caído".

"Não podemos esquecer que o que deixa o nosso rosto com aparência jovem é justamente a gordurinha subcutânea que temos na bochecha. Se alguém perde peso de maneira excessiva ou muito rapidamente, também perde essa gordura, por isso o aspecto da pele pode ficar mais envelhecido", explica Petry, acrescentando que, por ter menos gordura subcutânea do que outras partes do corpo, o rosto fica desproporcionalmente mais magro nesses casos.

Rosto não é o único afetado: por que dedos afinam e bumbum fica flácido?

Nas redes sociais, pessoas que estão utilizando o Ozempic com fins estéticos e sem orientação médica também relataram que seus dedos ficaram mais finos e a pele do bumbum, mais flácida.

No caso dos dedos, a explicação é a mesma: com o emagrecimento excessivo, perde-se também a gordura subcutânea.

Já em relação ao bumbum, Petry explica que isso acontece porque muita gente está tomando o remédio com o objetivo de emagrecer, mas não está fazendo atividade física para ganho de massa muscular.

"As pessoas querem perder gordura abdominal e, ao mesmo tempo, ter volume no bumbum. Só que a gente não pode esquecer que quem preenche o bumbum é a gordura subcutânea e os músculos. Então, nesse momento que alguém perde peso sem orientação e muitas vezes sem ir à academia, acaba perdendo não só a gordura como também massa muscular", explica a médica.

A perda de massa magra é perigosa. Os músculos aceleram nosso metabolismo e nos permitem ter uma velhice saudável. Então, é importante que a gente perca a massa gorda (a gordura), que é inflamatória, mas conserve a massa magra (músculo). Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP)

Petry acrescenta que outras partes do corpo também podem sofrer mudanças semelhantes, como as coxas, que tendem a perder circunferência, e até os pés —com a perda de peso excessivo, o número de sapato da pessoa pode diminuir, devido à perda de gordura subcutânea na região.

A médica destaca que as mudanças corporais podem ficar ainda mais visíveis no caso de pessoas que já são magras e estão utilizando o medicamento para perder peso.

Acompanhamento médico é essencial para emagrecimento saudável

O acompanhamento médico é fundamental para um processo de emagrecimento seguro e efetivo. Em conjunto, profissionais como endocrinologista, nutrólogo e nutricionista podem construir um plano de emagrecimento adequado para as condições de saúde e objetivos do paciente, que pode ou não envolver o uso de remédios.

O uso indiscriminado do Ozempic levou à falta do medicamento em algumas farmácias no Brasil. Em junho deste ano, a farmacêutica responsável pelo remédio, a Novo Nordisk, alertou que o remédio deverá ter "disponibilidade intermitente" até o fim do ano, ou seja, poderá ficar em falta em muitas farmácias.

O Ozempic é uma medicação excelente para quem tem diabetes. Não é um produto estético que pode ser usado indiscriminadamente para fins estéticos. Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP)

Desenvolvido para tratar o diabetes tipo 2, o Ozempic tem como princípio ativo a semaglutida, substância que simula a ação do GLP-1, hormônio que inibe a fome e regula o nível de açúcar no sangue (glicemia).

Outro remédio à base de semaglutida é o Wegovy. Os dois são fabricados pela Novo Nordisk. Mas, ao contrário do Ozempic, a indicação do Wegovy em bula é para obesidade, em uma dosagem diferente. Ele foi aprovado pela Anvisa, mas ainda não está disponível nas farmácias brasileiras.