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Como reação alérgica à pimenta pode causar danos neurológicos?

Thais Medeiros de Oliveira foi internada em Anápolis após ter tido contato com pimenta - Reprodução/Vakinha
Thais Medeiros de Oliveira foi internada em Anápolis após ter tido contato com pimenta Imagem: Reprodução/Vakinha

Do VivaBem, em São Paulo

13/03/2023 15h59

Após cheirar pimenta e ter uma reação alérgica grave, a trancista Thais Medeiros de Oliveira, 25, está internada em Goiânia desde o dia 17 de fevereiro. Em entrevista ao Fantástico neste domingo (12), o chefe da UTI da Santa Casa de Anápolis (GO) disse que a jovem não deve voltar "às atividades habituais e normais" devido à lesão neurológica que sofreu.

Lesões neurológicas causadas por reações alérgicas são casos considerados raros, segundo Felipe Franco da Graça, neurologista do Vera Cruz Hospital (SP). No entanto, isso pode acontecer quando a reação é grave e afeta a circulação de oxigênio no cérebro —como foi o caso de Thais.

Na maioria das vezes, as reações alérgicas são leves e se manifestam em locais específicos, como formigamentos na língua ou "bolinhas" avermelhadas na pele.

Já as reações mais graves e agudas causam um quadro chamado anafilaxia, que pode afetar diferentes órgãos e acontece imediatamente ou algumas horas após o contato com o componente ao qual a pessoa é alérgica.

Em situações em que há uma dificuldade de respirar muito intensa ou até mesmo uma parada cardiorrespiratória, acontece um edema cerebral, ou seja, o cérebro fica sem receber oxigênio e vai inchando. Dependendo do tempo em que a pessoa ficou sem oxigênio, pode haver danos leves, como alteração do nível de consciência, até danos mais graves, como alterações motoras, sensitivas e, em casos mais graves, morte encefálica. Felipe Franco da Graça, neurologista do Vera Cruz Hospital (SP).

  • Portanto, a reação alérgica não pode, por si só, causar lesões neurológicas, mas isso pode surgir como um efeito secundário da falta de oxigenação cerebral, que acontece em episódios mais graves.
  • No caso de Thais, os médicos acham que o contato da jovem com a pimenta foi um gatilho para ela desencadear uma crise de asma grave, fazendo com que a trancista não conseguisse respirar normalmente.
  • O quadro teria levado à baixa circulação de oxigênio para o cérebro e o coração, o que provocou uma parada cardiorrespiratória na jovem.

Nesta semana, Thais foi transferida da UTI para o quarto e deve começar o tratamento de reabilitação.

Crise asmática demanda atenção

A alergia a pimenta é considerada um evento raro, mas pessoas que têm asma, como é o caso de Thais, podem ter reações alérgicas mais graves caso a doença crônica não esteja sob controle, alerta Alexandra Sayuri Watanabe, médica do Departamento Científico de Anafilaxia da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

Segundo os relatos, poucas horas antes de cheirar a pimenta, Thais já tinha tido uma crise asmática.

  • A mãe da jovem disse ao Fantástico que ela e o namorado iam passar o fim de semana juntos, mas a jovem teve uma forte crise de asma.
  • Moradora de Goiânia, Thais ainda estava com os sintomas da crise quando chegou à casa do namorado, em Anápolis, a 55 quilômetros da cidade.
  • Foi lá que, ao sentir o aroma da pimenta na cozinha, ela passou mal.
  • Ao UOL, o namorado da jovem disse que ela chegou a "dar duas puxadas na bombinha" e tomou antialérgico, mas isso não foi suficiente para controlar a falta de ar.

Watanabe explica que, quando a asma está "descompensada", isto é, fora de controle, o risco de sofrer uma reação anafilática ou um broncoespasmo grave é maior.

Quando a pessoa tem asma e entra em contato com um produto muito forte, seja produto de limpeza, cigarro ou pimenta, como no caso da jovem, acontece um broncoespasmo, ou seja, um fechamento da via aérea, porque a irritação no local é muito grande. Os brônquios já estão inflamados por causa da asma e a situação é agravada. Alexandra Sayuri Watanabe, médica do Departamento Científico de Anafilaxia da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

"Mas, se a pessoa faz o tratamento certinho ou faz tempo que não tem crises, por exemplo, o risco dela ter esse tipo de reação é igual a quem não tem asma, porque a doença está controlada. Já a asma não controlada é critério de gravidade para anafilaxia", diz a médica.

Orientações

  • Não há informações sobre o histórico de Thais com reações alérgicas associadas à pimenta, mas Watanabe alerta que nenhuma reação deve ser subestimada.
  • Segundo a médica, algumas pessoas podem ignorar reações alérgicas leves que já sofreram com algum alimento ou medicamento e voltar a consumi-lo ou cheirá-lo em outra ocasião --o que não é recomendável.

"Mesmo que você tenha tido uma reação leve na primeira vez em que consumiu ou sentiu o cheiro de algum produto, não volte a se expor a ele antes de fazer uma investigação para saber se você é alérgico. Crises alérgicas graves são raras, mas infelizmente quando acontecem podem levar a fatalidades", alerta a alergista.

Além disso:

  • Se você tem histórico de reações anafiláticas, tenha sempre ao alcance das mãos uma dose de adrenalina autoinjetável, que é indicada para o tratamento de situações de emergência.
  • No caso de pessoas que têm asma, a orientação é manter a doença sob controle. "Asma descompensada aumenta o risco de anafilaxia não só com pimenta, mas com qualquer outro fator desencadeante."

No Brasil, de acordo com o último levantamento do DataSUS, banco de dados do SUS (Sistema Único de Saúde), existem cerca de 20 milhões de brasileiros com asma. A asma não tem cura, mas com o tratamento adequado os sintomas podem melhorar e até mesmo desaparecer ao longo do tempo.