Não é só fome: desnutrição infantil prejudica desenvolvimento e pode matar
Um levantamento recente feito pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), com dados do Ministério da Saúde, mostra que a internação por desnutrição infantil no Brasil é a maior desde 2012. A subnutrição, ou desnutrição, é caracterizada pela baixa ingestão por longos intervalos de tempo de macronutrientes — representados por proteínas, carboidratos e gorduras — e micronutrientes — vitaminas e minerais.
O quadro pode comprometer a saúde física e mental, favorecendo o estabelecimento de enfermidades crônicas como diabetes mellitus, além de aumentar o risco de disfunções cardiovasculares, infecções intestinais, osteoporose, hipotireoidismo, obesidade e comprometimento imunológico.
Há também o risco de retardo do crescimento físico, baixo peso e estatura, associados a infecções frequentes e resistência ao tratamento, e até de morte.
Quais são os sinais da insuficiência de nutrientes?
- A anemia ferropriva (por deficiência de ferro) é a carência nutricional mais comum.
- A deficiência de vitamina A provoca alterações de tamanho, pele seca, cegueira noturna, xerose conjuntival (perda de brilho e da transparência no olho), úlceras de córnea, manchas de Bitot --placas acinzentadas na conjuntiva ocular.
- A vitamina B1 em defasagem acarreta polineuropatia, alterações de memória, confusão mental.
- Níveis insuficientes de vitamina B12 resultam em anemia megaloblástica, irritabilidade, glossite, diarreia, parestesias, transtornos psiquiátricos e neuropatia desmielinizante.
- A baixa ingestão de vitamina C traz consequências como hematomas na superfície dos ossos, fraturas, sangramentos de mucosas.
- No caso da vitamina D, pode haver raquitismo carencial, fraturas patológicas, atraso da erupção e alteração do esmalte dentário, baixa estatura, fraqueza muscular e hipotonia generalizada.
- A deficiência de zinco leva às seguintes disfunções: dermatites, entre elas a bolhosa pustular, a acro-orificial e a acrodermatite enteropática, cujos sintomas além da inflamação da pele são diarreia e alopecia (queda de cabelo); anorexia, distúrbios emocionais, infecções recorrentes e intestinais.
É possível identificar os sinais ainda na infância: o ganho de peso é lento; a criança é menor do que outras da mesma idade, incluindo altura e tamanho da cabeça. Nota-se pouco interesse ao redor, sonolência extrema, choro frequente e agitação, além disso, o bebê não rola, senta ou anda, comparado aos da mesma faixa etária. Observa-se queda de cabelo, unhas fracas, pele seca e alterações hormonais e inchaços
Efeito cascata
A fome nos primeiros anos da criança pode ter um efeito cascata na vida adulta. A fase mais crítica é quando a oferta reduzida de nutrientes ocorre nos dois primeiros anos, período no qual se dá o mais rápido aumento do cérebro. Somado a privações alimentares da mãe na gestação e que impactam o desenvolvimento infantil em fases posteriores, corre-se o risco de haver adultos com distúrbios físicos e mentais nas próximas décadas.
Reverter quadros de desnutrição é muito difícil. Pessoas em desnutrição profunda podem sofrer a chamada síndrome da realimentação se simplesmente voltarem a se alimentar normalmente.
- A síndrome é uma complicação que pode levar à morte.
- Ocorre após jejum prolongado em pacientes desnutridos e é causada pela sobrecarga na ingestão calórica e reduzida capacidade do sistema cardiovascular.
- As consequências passam por alterações neurológicas, sintomas respiratórios, arritmias e falência cardíacas, poucos dias após a realimentação.
A reintrodução da dieta deve ser feita de maneira cautelosa. De modo geral, inicia-se com baixo aporte calórico e progride-se de acordo com o risco individual. O tempo de reabilitação depende do quadro de cada indivíduo.
Por fim, já se sabe que a pessoa que lidou com um quadro de desnutrição vai carregar consequências para sempre — mesmo que volte a se alimentar e ingerir os nutrientes necessários ao organismo.
*Com informações de reportagens de 06/12/2021 e 27/10/2022
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