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'A covid maltratou minha filha de 1 ano. É uma insensatez não vacinar'

Danielle Barone sofreu com a internação da filha de apenas 1 ano de idade - Arquivo pessoal
Danielle Barone sofreu com a internação da filha de apenas 1 ano de idade Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Schiavon

Colaboração para VivaBem

24/11/2022 04h00

"Foi tenso. Muito tenso. A covid-19 maltratou a minha filha." A copeira Danielle Barone, 42, define dessa forma os momentos de aflição quando Beatriz, de apenas 1 ano e 11 meses, foi internada após contrair o coronavírus, em março deste ano. A infecção ocorreu em um momento em que muitos brasileiros já retomavam os contatos sociais e baixavam a guarda em relação à covid-19.

Enquanto parte da população brasileira ainda reluta em vacinar seus filhos contra a covid-19, pais e mães que passaram pelo trauma de verem suas crianças internadas com a doença não têm dúvidas: "Não via a hora de a vacina chegar", diz Danielle, que levou a menina para tomar o imunizante nesta semana.

Quase metade das crianças brasileiras de 3 a 11 anos ainda não tomou nenhuma dose da vacina contra a covid-19. Só um terço das crianças completou o esquema vacinal. Já a cobertura entre os bebês, com menos de 2 anos, é ainda mais baixa, porque a vacinação segue com entraves nesta faixa etária.

A imunização de crianças contra a covid-19 é recomendada por sociedades médicas e cientistas de todo o Brasil e do exterior. Em meio ao aumento de casos da doença nas últimas semanas, a vacinação infantil torna-se ainda mais importante para evitar quadros graves da doença, hospitalizações e mortes.

Beatriz contraiu a covid-19 quando ainda não havia vacina para a faixa etária dela. Ela frequentava a creche e começou a apresentar sintomas de gripe e febre. O quadro se agravou e a menina teve uma broncopneumonia em estágio avançado —por isso, precisou ser internada. Foram 10 dias no hospital. Ela precisou até de suporte de oxigênio para conseguir respirar.

A menina ainda teve diarreia e mal-estar. A mãe não gosta nem de lembrar dessa época. "Não foi leve", conta. Depois que Beatriz se recuperou, Danielle foi à igreja agradecer pela vitória da filha. E também se cadastrou na "xepinha" —para que a menina recebesse logo a vacina contra a covid-19.

O imunizante infantil está disponível na capital paulista para crianças a partir de 6 meses. Na faixa etária de 6 meses a 2 anos e 11 meses, no entanto, ainda são aplicadas as doses apenas para crianças indígenas e com comorbidades, conforme recomendação do Ministério da Saúde. A "xepinha" é uma lista de espera para a distribuição de sobras da vacina a crianças com menos de 3 anos que não têm comorbidades.

Já para a faixa etária acima de 3 anos, a vacinação em São Paulo abrange crianças com e sem comorbidades, de qualquer etnia.

Danielle recebeu críticas de colegas de trabalho, que afirmaram que ela deveria aguardar mais antes de vacinar a filha. Ela não deu ouvidos. "Quando abriu a inscrição para a 'xepinha' da vacina, fiquei eufórica. Cadastramos a Beatriz em um dia e ela vacinou em outro", conta. Os outros dois filhos de Danielle, de 18 e 11 anos de idade, já estão com a vacinação completa.

Não pensamos duas vezes. Não via a hora de vacinar a minha filha. Incentivo e incentivei muitas mães a darem a vacina. Danielle Barone

Choro coletivo no metrô

O trajeto de volta para casa, depois da vacinação de Beatriz, foi marcado pela emoção. "Chorei o caminho todo do metrô até minha casa. Me deram lugar para sentar, porque acharam que eu estava passando mal, mas, quando contei, choraram junto comigo. Era uma emoção imensa ter vacinado minha filha", afirma Danielle.

Para ela, é impensável não vacinar as crianças. "A vacinação é super importante. Falo isso todas as vezes sobre todas as vacinas. Temos de tomar, estão disponíveis de graça e são necessárias para nosso bem e para o bem dos nossos filhos", diz Danielle. "E alguns pais não se importam com a vacinação infantil. Acho isso uma insensatez."

Menina de 2 anos na UTI

Quem também passou momentos de tensão foi a família de Israel Nazaré da Silva, 36, e da dona de casa Simone da Silva, 39. O casal e as duas filhas, de 4 e 11 anos de idade, se infectaram em novembro de 2020 —antes de haver vacinas disponíveis no Brasil.

Os adultos e a filha mais nova, Fernanda, foram parar na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). A menina, que na época tinha apenas 2 anos de idade, passou 6 dias longe dos pais, sob cuidados médicos.

"Quando meu marido ficou com febre, no início dos sintomas, meu coração já começou a acelerar", lembra Simone. "Mas depois, quando minha filha mais nova ficou sem força para se levantar, para falar... Aquilo acabou comigo."

Durante a infecção pela covid-19, a criança não conseguia sequer expressar o que estava sentindo, de tão abatida. A filha mais velha do casal também contraiu a covid-19, mas ficou assintomática. Israel teve 50% do pulmão comprometido e Simone, 25%.

Hoje, toda a família, incluindo as crianças, está vacinada, mas Simone reclama da demora para que o imunizante fosse disponibilizado no Brasil. "Infelizmente, perdemos muita gente por negligência das pessoas e despreparo do poder público."

A vacinação contra a covid-19 só começou no Brasil em janeiro de 2021 —naquela época, pelo menos 50 países já haviam começado a imunização. Inicialmente, foram convocados os idosos e só depois as demais faixas etárias foram chamadas, ao longo daquele ano. Outros países, como Chile e Estados Unidos, começaram a vacinar mais rapidamente.

Já a vacinação das crianças no Brasil só teve início em janeiro deste ano. Em mensagens públicas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) desencorajou a imunização infantil e divulgou mensagens inverídicas sobre número de mortes de crianças pela covid-19.

Por que a vacina é importante para crianças?

Vacina - iStock - iStock
Vacinação contra a covid-19 protege crianças de complicações e síndrome após a infecção
Imagem: iStock

Apesar de haver menos casos graves da covid-19 entre crianças em relação aos adultos e idosos, a vacinação infantil também é importante para protegê-las. Há casos, como os de Beatriz e Fernanda, que podem levar à hospitalização.

Só este ano, já foram registradas 477 mortes de crianças de até 5 anos decorrentes da covid-19 e 13 mil internações, segundo dados do Ministério da Saúde.

Além disso, as crianças ainda são suscetíveis a uma síndrome pós-covid, a síndrome inflamatória multissistêmica —uma complicação rara, mas bastante grave que pode levar à morte. No Brasil, foram registrados 1.934 casos dessa síndrome em crianças e adolescentes e 132 mortes.

A vacinação, além de proteger a saúde das crianças, pode ajudar a conferir uma proteção indireta para familiares do grupo de risco como idosos, gestantes e pessoas com comorbidades, afirma a pediatra Cintya Rissato Sabion.

A especialista explica que a vacina contra a covid-19 é indicada para bebês com mais de 6 meses. O esquema previsto é de 3 doses, com intervalo de 4 semanas entre a primeira e a segunda e 8 semanas entre a segunda e a terceira.

A única contraindicação para a vacinação infantil é se a criança estiver com febre, ou seja, temperatura acima de 37,5ºC. Nesses casos, recomenda-se esperar 48 horas sem febre para depois receber a dose da vacina.

As reações à vacina contra a covid-19 em crianças são parecidas com as reações registradas com outros imunizantes, como mal-estar e febre. Em geral, são leves e melhoram rapidamente.

"Qualquer criança ou adulto vacinado corre muito menos risco de internação e morte em relação aos que não se vacinaram. E, só de existir a vacinação em massa, a circulação do vírus diminui: quanto maior o número de pessoas vacinadas, maior a barreira contra a circulação viral", finaliza Sabion.