Topo

Comer alimentos com prazo de validade vencido faz mal à saúde?

iStock
Imagem: iStock

Lívia Inácio

Colaboração para VivaBem

06/01/2022 04h00

Você abre o armário e encontra um chocolate guardado há meses, do qual nem se lembrava mais —uma surpresa tão boa quanto achar dinheiro no bolso. Só que quando olha a embalagem fechada, percebe que a validade acabou de vencer. E aí, será que ainda dá para comer?

Primeiro é importante saber como os prazos de vencimento funcionam no Brasil. Por aqui, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) prefere optar por padrões mais rígidos de controle, conforme explica Thalita Antony de Souza Lima, gerente geral de alimentos na organização reguladora. No país, é exigido que os itens tragam um prazo seguro para consumo. Depois dessa data, eles não podem mais ser comercializados.

Entretanto, em 2021, a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) propôs indicar uma data preferencial para consumo, permitindo que produtos não perecíveis possam ser vendidos depois desse prazo. A proposta foi apresentada no Fórum Nacional da Cadeia de Abastecimento, promovido pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), mas ainda não houve pedido formal ao governo sobre o assunto.

A ideia, também chamada de best before (algo como: melhor consumir antes de), já é aplicada em alguns países, como a Austrália e a Nova Zelândia, onde os fabricantes optam se declaram a validade no pacote ou a data preferencial. Em outros lugares, como os Estados Unidos, poucos produtos, incluindo fórmulas infantis e derivados da carne, precisam de um prazo estabelecido nacionalmente. Quase sempre a marcação de datas nos pacotes fica a cargo das autoridades locais. Essa flexibilização, para muitos órgãos, é vista como uma forma de evitar o desperdício de alimentos.

Conservação é tão importante quanto prazo de validade

Mas será que esse prazo é mesmo confiável? Quem os define? De acordo com Lima, são os próprios fabricantes, também responsáveis por dar instruções de conservação e armazenamento, bem como declarar essas informações nos rótulos.

Os testes feitos nas fábricas são extremamente criteriosos. Cada tipo de produto demanda uma forma de testar, ou seja, não há um teste geral que possa ser aplicado para verificar a durabilidade de todos os tipos de alimentos.

A conservação também é levada em conta ainda na produção e no embalo. E aí entra algo que confunde muita gente. A data de validade corresponde ao prazo em que o produto é seguro até ser aberto. E, por lei, as organizações devem dizer no rótulo quanto tempo ainda dá para comer depois da abertura.

A conservação é determinante na garantia da qualidade do item. É nesse sentido que não basta o produto estar dentro do prazo. Ele deve ser transportado e armazenado conforme as orientações de quem o fabrica.

"Infelizmente não é incomum achar algo não vencido, mas, que, quando aberto, tem uma cor estranha ou um líquido diferente do normal", exemplifica Renata Ernlund Freitas de Macedo, doutora em tecnologia de alimentos e professora da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Isso normalmente ocorre quando o transportador ou varejista não seguiu exatamente as normas de temperatura e armazenamento definidas pelo fabricante.

Agora você entende por que Erick Jacquin ficou tão bravo quando o dono de um restaurante deixou o freezer desligado à noite toda, em seu reality show Pesadelo na Cozinha.

Melhor não arriscar?

Mas, então, posso ou não comer o meu chocolatinho que venceu? Bom, Macedo lembra que, por razões de segurança, o prazo de validade impresso nos produtos geralmente tem uma folga, não sendo tão exato. Então, pode ser que consumir um item não perecível um dia depois do indicado ali não faça grandes estragos.

Por outro lado, não há como garantir segurança. Até porque, conforme menciona a nutricionista Fabiana Fontes, da Clínica Reviva, de Fortaleza (CE), guiar-se apenas pela aparência do produto pode enganar. "Há conservantes que mantêm os alimentos bonitos mesmo depois de eles terem perdido sua qualidade", diz.

E aí é você quem vai arcar com essa conta. A especialista explica que os órgãos mais afetados com a ingestão de um produto estragado são o estômago e o intestino. O primeiro pode tentar expelir o que está fazendo mal, levando a enjoos e vômitos. No segundo, podem-se iniciar diarreias, cólicas e gases. Se o quadro evoluir, pode haver inflamação gástrica, desidratação, desmaios, dores de cabeça e, a depender do agente contaminante, a evolução para uma cisticercose ou parasitoses mais graves, alerta Fontes.

Conhecendo esse cenário, a nutricionista aconselha que se avalie o cheiro do alimento vencido e sua consistência, mas reforça que é sempre melhor ter cuidado.