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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


O que a aparência da sua língua tem a dizer sobre sua saúde?

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Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para VivaBem

15/04/2020 04h00

A língua pode nos fornecer pistas valiosas sobre nossa saúde —não só a bucal, mas também sobre a situação de certos órgãos e a presença de determinadas doenças.

Alterações na cor, surgimento de nódulos e até mudanças na textura não devem ser negligenciados, jamais. É claro que a coloração normal e a aparência da língua variam de um indivíduo para o outro, dependendo de fatores como idade, genética, hábitos, etc.

Via de regra, porém, existem alguns quadros que exigem uma consulta com um cirurgião-dentista ou um estomatologista, os profissionais mais indicados para fazer um diagnóstico correto. A grosso modo, todo mundo deveria observar as seguintes características:

Coloração rósea: uma língua saudável deve ter coloração rosa claro em toda a sua superfície. A aparência é "viva", sem pontos com cores diferentes —como, por exemplo, placas brancas ou marrons.

Coloração vermelha: pontos vermelhos podem indicar quadros infecciosos (escarlatina, doença de Kawasaki, síndromes febris) ou deficiência nutricional, principalmente anemias deficiência de vitaminas B12 E B6 ocasionada por má absorção ou baixa ingestão alimentar.

As anemias por deficiência nutricional são comuns em etilistas, pacientes com anorexia e pessoas que se submeteram a cirurgias bariátricas. Vegetarianos e veganos sem suplementação vitamínica também podem integrar o grupo de anemias carenciais. Uma língua avermelhada ou com manchas vermelhas também exige a visita ao cardiologista, pois pode sinalizar a presença de uma doença cardíaca.

Coloração violeta ou azulada: geralmente indica enfermidades que modificam o fluxo de oxigenação no sangue, levando a um estado denominado de cianose. Alguns exemplos: doenças cardíacas congênitas cianóticas (Tetralogia de Fallot, Anomalia de Ebstein ou Síndrome de Eisenmenger), pulmonares (enfisema pulmonar ou infecções pulmonares) e hematológicas (policitemia, anemia falciforme, metahemoglobinemia). Intoxicação por gás cianeto ou inseticidas e exposição a fumaça de incêndio também podem fazer com que a língua fique roxa ou azulada.

Palidez: muito comum a quadros anêmicos por carência de ferro, má alimentação e/ou resultado de cirurgia bariátrica. Também pode acometer pacientes com doenças crônicas como insuficiência renal, câncer, lúpus e anemia falciforme ou após hemorragias. Mulheres com miomas uterinos que provocam sangramento excessivo podem apresentar uma língua mais pálida. A falta de oxigenação local por alteração sistêmica do organismo do paciente —como num quadro de falta de ar, por exemplo— também causa essa palidez.

Língua esbranquiçada - iStock - iStock
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Língua esbranquiçada: pode revelar desde uma má higiene (por conta da falta de limpeza adequada durante a escovação), nesse caso chamada de língua saburrosa, até lesões pré-malignas e quadros infecciosos e tumorais. A saburra ou saburra lingual é a massa composta de células descamadas da boca, bactérias, muco da saliva e restos alimentares que aderem à superfície da língua e podem provocar halitose. Geralmente, a língua saburrosa é um sintoma de certas doenças: a mais comum é a candidíase oral (popularmente conhecida por "sapinho"), que deixa placas brancas na língua semelhantes à coalhada e causa dor local.

Língua com manchas vermelhas: sinal de "língua geográfica", condição que provoca manchas inofensivas na língua, deixando-a com pontos isolados lisos e vermelhos. O tratamento é feito com lavagens e analgésicos.

Coloração amarelada: se a pele e a esclera, a parte branca do olho, também estão amarelados, trata-se de um quadro de icterícia (aumento de bilirrubina, substância amarelada encontrada na bile). A icterícia, por sua vez, pode ser sinal de doenças do fígado e vias biliares, como pedra na vesícula e hepatites.

Língua com manchas amarronzadas: resultado de tabagismo e/ou ingestão de chás e cafeína em excesso associados à má higiene e/ou de quadro patológico ligado a infecções, como a leucoplasia pilosa (língua negra) Se as manchas estiverem muito escuras e atingem a gengiva, podem sinalizar polipose intestinal familiar (condição genética que aumenta o risco de câncer de intestino), ou doença de Addison (insuficiência adrenal). Ambos os quadros são graves e exigem avaliação e acompanhamento precoce.

Língua com fissuras - iStock - iStock
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Língua partida, fissurada ou rachada: trata-se de língua dentro da normalidade que possui em sua estrutura grandes fissuras indolores. A pessoa já nasce com essa língua, mas ela não provoca e ou representa alguma doença. Porém, é preciso ter cuidado redobrado na escovação, pois há o risco de resíduos se instalarem nas fissuras e provocarem algumas infecções.

É válido dizer que o consumo exagerado de álcool pode levar a alterações na aparência da língua e predispor a tumores. O surgimento de novas lesões e mudanças na coloração exigem uma consulta médica imediata.

Aftas: surgem geralmente em uma fase de queda de imunidade, estresse emocional, em infecções de garganta, período menstrual e/ou até em pacientes com doenças gástricas como gastrite e refluxo. Inicialmente surgem como uma bolha avermelhada e dolorosa que, depois de rompida, forma uma lesão discretamente elevada com halo vermelho. No centro pode ficar um conteúdo discreto esbranquiçado. As aftas podem durar entre 7 e 14 dias.

Lesões ulceradas e bolhas vermelhas: podem indicar a presença de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como sífilis e herpes.

Nodulações: dolorosos ou não, nódulos que persistem há mais de duas semanas costumam revelar câncer de boca ou de língua, principalmente se as lesões estiverem associadas com rouquidão, odinofagia (dor para deglutir), perda de peso e outros sintomas.

Fontes: Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP); Juliana Brasil, estomatologista, da Clínica de Oncologia Médica (Clinonco), de São Paulo (SP); Luiz Alexandre Thomaz, professor de Estomatologia da FAOA-APCD (Faculdade de Odontologia da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas) e Márcia Mestiço, endocrinologista da Clínica Simone Neri, em São Paulo (SP).