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Especialistas divergem sobre uso de óculos para daltonismo

Ana Furtado usa óculos para corrigir daltonismo - Reprodução/ Instagram
Ana Furtado usa óculos para corrigir daltonismo Imagem: Reprodução/ Instagram

Cristiane Bomfim

Da Agência Einstein

12/02/2020 12h06

Recentemente, a atriz e apresentadora Ana Furtado postou em suas redes sociais um vídeo em que se emociona ao enxergar variações de cores após vestir óculos para daltônicos. Também chamado de discromatopsia, o daltonismo é um distúrbio na visão caracterizado pela dificuldade para distinguir as cores verde e vermelha (em 80% dos casos) e, mais raramente, o azul e o amarelo.

Para dar a sensação de correção da visão, as lentes do acessório têm filtros capazes de aumentar o contraste entre os sinais das cores verde e vermelho. "Não é uma cura para o daltonismo. O que os óculos fazem é modificar a forma como as pessoas percebem a luz", explica o oftalmologista Pedro Carlos Carricondo, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor do pronto-socorro do Hospital de Oftalmologia do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

O daltonismo é uma condição geneticamente hereditária e está ligada ao cromossomo sexual X. Por este motivo, raramente afeta as mulheres, que têm dois cromossomos X. "Quando elas recebem de um dos pais o cromossomo com a mutação genética, o outro compensa a alteração. O distúrbio se manifesta em mulheres quando os dois cromossomos X apresentam a mutação", diz o oftalmologista.

Já os homens, que possuem cromossomo X e Y, não conseguem fazer a compensação quando há a alteração no cromossomo X. Para ter uma ideia, a estimativa é que entre 8% e 10% dos homens brasileiros apresentem a condição genética. Embora existam pesquisas em andamento, nenhuma apontou o caminho para cura. Em casos raros, o daltonismo pode ser adquirido ao longo da vida em virtude de traumas nos órgãos da visão ou lesões neurológicas, por exemplo.

A condição pode se manifestar de formas diferentes. "No geral, os daltônicos conseguem enxergar somente 10% das cores. A maioria vê tons meio pastel, amarelados. Poucas veem tudo em tons branco, preto e cinza. Por isso, os óculos não servem para todo mundo e o correto seria a avaliação do tipo e grau de daltonismo e o acompanhamento de um médico especialista", afirma o médico oftalmologista carioca Rodrigo Pegado, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO),

Controvérsias

Vendidos a preços que variam de R$ 500 a R$ 800 por uma empresa brasileira e ao preço inicial de US$ 299 na mais famosa fabricante norte-americana, os óculos são paliativos que emocionam aqueles que veem o mundo pela primeira vez com novas nuances e cores. Porém, causam controvérsia entre os especialistas.

"Não acredito neste acessório", afirma a médica Marcela Bordaberry, da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul. "Ele não consegue reproduzir exatamente as cores que uma pessoa não daltônica enxerga. Outro ponto é que a solução não atende a todas as pessoas com daltonismo, porque a manifestação do distúrbio varia de pessoa para pessoa", ressalva a oftalmologista. Além disso, na maior parte dos casos o acessório é vendido sem prescrição médica. "Não há como saber se esses filtros atendem a necessidade específica de cada indivíduo", diz Marcela.

Os oftalmologistas Rodrigo Pegado e Pedro Carricondo manifestam posição mais ponderada. "Os óculos apresentam bons resultados tanto para o uso durante o dia quanto à noite. Mas é preciso mais divulgação sobre seu funcionamento e critérios de escolha", defende Pegado. "É uma solução interessante, mas que pode gerar frustração quando o paciente perceber que a vida não vai mudar e que ele não vai passar a enxergar as cores de verdade. O acessório pode ir para uma gaveta depois que a novidade passar", afirma Carricondo.

A indicação dos óculos deve partir de um oftalmologista após a realização de um teste para identificação do tipo e grau de daltonismo. "O correto é que tenha uma prescrição médica após a avaliação de quanto ele poderá ajudar na nova percepção de cores e não a compra pela internet ou durante uma viagem para o exterior", afirma Pegado.

Teste de cores de Ishihara - iStock - iStock
O teste de cores de Ishihara
Imagem: iStock

O teste

Nem sempre o diagnóstico do daltonismo é fácil e precoce. "A maioria das pessoas que nascem daltônicas vão enxergar as cores do jeito delas. O verde pode estar mais parecido com o marrom, o vermelho fica mais alaranjado, mas estas são as referências que elas conhecem. Por isso, muitas vezes só se descobre o distúrbio na escola, quando a professora pede para pintar de vermelho e ela usa o amarelo ou em um teste de emprego", diz Marcela Bordaberry.

Para identificar a doença, o exame mais popular e eficaz é o teste de cores Ishihara. Ele consiste no uso de cartões coloridos, cada um deles preenchido por pequenos círculos de tonalidades levemente variadas marcados por centros de outra cor que formam números. O daltônico não distingue os números dentro dos cartões.

Principais tipos de Daltonismo:

  • Pronatomalia - é a sensibilidade menor dos receptores da cor vermelha que fazem com que cores quentes sejam percebidas em tons mais para o marrom e os verdes fiquem desbotados
  • Deuteranomalia - é o tipo mais comum. É a dificuldade em identificar o verde e suas nuances. A cor tende a ser vista como cinza. As cores que puxam para o vermelho são entendidas como marrom e os roxos tendem a ficar azulados.
  • Triatonomalia - azul se confunde com verde e vice-versa. Vermelhos e amarelos ficam em tons mais rosas