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Histórias de quem mudou hábitos em busca de mais saúde


"Chorava ao ver comida". Ela superou transtornos alimentares e perdeu 42 kg

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

06/02/2020 04h00

Após sofrer de anorexia e bulimia, Gabriela Damaso, 40 anos, teve depressão pós-parto e chegou a pesar 112 kg. A seguir, a personal trainer conta como encontrou forças para vencer esses problemas, voltar a fazer exercícios e se alimentar bem para conseguir emagrecer:

"Fui uma criança gordinha, mas isso não chegou a ser um problema para mim na infância. Mas, aos 14 anos, comecei a me preocupar com a estética e fazer loucuras para alcançar o 'corpo ideal'. Passava duas, três, quatros horas praticando exercícios. Fazia todas as aulas da academia. Também desenvolvi o hábito de ficar muito tempo sem comer. Algumas vezes, chegava a 24 horas sem ingerir nada. Emagreci. Porém, sem saber, estava com anorexia.

Aos 18 anos, tive meu primeiro episódio de compulsão alimentar. Após comer muito, muito mesmo, senti uma culpa tremenda e fui correndo para o banheiro provocar vômito. Então, passei a sofrer de bulimia, também sem ter conhecimento de que tinha o transtorno.

Continuei com as intermináveis horas na academia, mas, agora, comia sem parar, desde o salgado até o doce. Depois, colocava tudo para fora. Usava vários métodos nada saudáveis para conseguir compensar a compulsão alimentar e manter a boa forma. Segui assim, colocando minha saúde física e mental em risco até os 27 anos, quando engravidei.

Gabi 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Com a gestação, precisei abandonar todas as táticas erradas que usava para me manter magra, pois eram muito prejudiciais à minha saúde e a do meu filho. Também reduzi o volume de exercícios físicos. No primeiro mês, engordei 5 kg, o que fez o médico entrar em alerta. Fiz vários exames e descobri que hormônios (principalmente da tireoide, que já não funcionava), glicemia e colesterol estavam alterados. Também sofria de anemia profunda.

Foram 9 meses de muita luta e cheguei ao final da gravidez com o seguinte quadro: ganhei 24 kg e desenvolvi hipertensão, colesterol alto, problemas posturais e dores, muitas dores nas articulações. Mesmo com tantos problemas, tinha a ilusão de que quando meu filho nascesse eu sairia da maternidade magra. Na minha cabeça, aquela barriga era só porque o bebê estava ali dentro.

Quando ele nasceu, eu me deparei com um corpo muito diferente. Fiquei me perguntando quem era aquela pessoa no espelho. E o meu mundo, que girava em torno da minha estética, começou a desabar. Enfrentei dificuldades para amamentar, não estava feliz com meu corpo, cheia de afazeres domésticos e me separei. Não voltei a trabalhar e vivia em função do meu filho e da casa.

Quando meu bebê dormia, eu só comia —de tudo e de maneira descontrolada"

Quando ele fez dois anos e entrou na creche, eu aproveitava os momentos de levá-lo e de buscá-lo para ir até um restaurante fast-food. Eu me tornei uma mulher sozinha (já que não conseguia me relacionar por vergonha do meu corpo) e cada dia mais deprimida, comecei a beber todos os dias, um poço sem fim. Tentei vários tratamentos para depressão, mas nada era suficiente para me tirar do meu estado.

Gabi 3 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Cinco anos se passaram e, em 2016, atingi o ápice de peso: cheguei a 112 kg (em 1,63 m de altura). Vestia manequim 54 e meus exames continuavam alterados. Nessa época, eu já estava trabalhando com um amigo de faculdade (antes de engravidar eu me formei em educação física), que tinha uma empresa que oferecia uma espécie de serviços de personal trainer em condomínios. Eu mudava as pessoas, mas não conseguia cuidar de mim. Tinha vergonha até usar a camisa da empresa, que mal cabia no meu corpo.

Em agosto de 2016, conheci um atleta de fisiculturismo e começamos a namorar. Andar de mãos dadas com alguém com o corpo forte e definido era complicado demais para mim. Sentia que as pessoas nos olhavam, comentavam sobre a discrepância no casal e me julgavam. Meu namorado dizia que não se incomodava com isso e gostava de mim como eu era. Mas eu não estava bem e pedi para ele me ajudar a retomar uma rotina de exercícios e alimentação saudável.

Comecei a travar uma batalhar diária para me obrigar a malhar na academia do prédio. Dia após dia, fui ganhando motivação e disposição. Após um mês, me pesei e vi que tinha perdido 7 kg. Fiquei chocada! Treinar se tornou fácil, pois sempre gostei de fazer exercícios. O problema era manter a dieta, devido ao meu histórico de transtornos alimentares —que foi da ausência ao excesso.

Muitas vezes, eu me peguei chorando na frente da comida, literalmente empurrando-a para dentro"

Mas segui firme e comendo de forma saudável. Em dez meses, já havia perdido 30 kg. Não estava nem perto do que almejava, mas me senti vitoriosa, uma guerreira, por ter perdido todo esse peso sem intervenção cirúrgica, sem medicamentos, sem tratamentos estéticos, só com dieta e exercícios físicos regulares.

Meu namoro terminou, mas decidi que não ia deixar a tristeza fazer com que eu retrocedesse e engordasse novamente. Procurei um nutricionista esportivo que passou a montar meu cardápio. Assim, continuei emagrecendo e focada no treino, que era dividido em exercícios aeróbicos e de força, pois ganhar músculos não só acelera o metabolismo e faz o corpo gastar mais calorias em repouso, como ajuda a evitar a flacidez após uma grande perda de peso.

Hoje, posso dizer que dei a volta por cima. Estou com 70 kg e até poderia estar mais leve se quisesse, pois tenho um percentual alto de massa muscular. Mas meu foco sempre foi ter um porte atlético, não ser magra, e me sinto bem com meu corpo.

Todo esse processo de transformação refletiu positivamente na minha vida. No trabalho, consigo inspirar outras pessoas, fazê-las acreditar que é possível mudar sem dietas malucas, sem remédios, sem horas na academia, sem exageros. Tudo depende de um bom plano alimentar e de exercícios, além de muita determinação e paciência. Aprendi que dietas malucas até emagrecem, mas não trazem um resultado duradouro e saudável.

Voltei a sentir prazer em me relacionar com as pessoas e a comprar roupas. Fiz as pazes com o espelho e me sinto bonita e atraente. Venci a depressão e o que me sobra é disposição. Acordo todos os dias às 5h da manhã para treinar. Faço 30 minutos de aeróbico, num aparelho elíptico que tenho em casa mesmo, e estou pronto para encarar as tarefas de mãe e o trabalho. Se já está bom? Acredito que o que move o ser humano é a busca pela evolução. Bom está, mas sempre podemos melhorar alguma coisa, e isso não é estar insatisfeita, é buscar o nosso melhor, ser hoje 10% melhor que ontem e amanhã melhor que hoje. Continuarei assim para sempre..."